terça-feira, 4 de março de 2008

Diálogo colombino



Conversa com um crédulo e acrítico leitor dos nossos bem informados jornais:


− Esse Uribe é um canalha!

− Ah, mas ele foi macho. Os caras estavam fazendo jogo duro para libertar os reféns.

− Muito pelo contrário. Assassinaram o principal negociador das Farc, o Raúl Reys. Agora tudo ficou mais difícil. O que Uribe queria era exatamente evitar a libertação. Coisa de traíra.

− Mas esses caras são terroristas, não dá para confiar.

− Terroristas? Eles são um outro estado dentro daquele país. São guerrilheiros, querem implantar um governo marxista-leninista. Foram organizados em 1964 quando perseguidos por militares e paramilitares à mando da elite corrupta e assassina.

− Se querem o poder, deviam sair da clandestinidade. Fazer um partido e disputar eleições, dentro da democracia.

− Mas foi o que fizeram em 1984. Assinaram um acordo de cessar-fogo com o então governo de Belisário Betancur, criando a União Patriótica, uma frente de várias tendências, que elegeu 350 conselheiros municipais, 23 deputados e 6 senadores.

− E desistiram? Aposto que não gostaram da experiência democrática.

− Claro que não gostaram. As elites e o governo se aproveitaram do momento e assassinaram vários parlamentares, incluindo dois candidatos presidenciais, em um total de 4 mil militantes.

− Ah, mas hoje eles são ligados aos narcotraficantes.

− É uma grande mentira, criada pelo ex-embaixador dos EUA na Colômbia, Louis Stamb, e até hoje repetida pela mídia. A Colômbia, sua elite, vive e depende do narcotráfico. Seu atual presidente tem negócios e interesses nas drogas.

− Aí você já está apelando. Isso é teoria da conspiração.

− É? Mas quem diz não sou eu, mas o próprio governo americano.

− Cumé?

− Saiu na Newsweek de 9 de agosto de 2004. Segundo ela, um relatório do Departamento de Defesa dos EUA, de 1991, faz um Quem é Quem do mercado de drogas colombiano. Em uma lista dos 100 o nome de Álvaro Uribe Velez é o número 82. E ainda afirma a revista que ele tinha negócios nos EUA que envolviam cocaína, além de ser grande amigo de Pablo Escobar.

− Que babado! Ah, mas tem o Plano Colômbia, os EUA querem acabar com a produção de cocaína no país.

− Querem? O Plano Colômbia aumentou a produção. O grande país do norte é parceiro e interessado na produção de cocaína mundial.

− Tá maluco! E o DEA?

− Foram apanhados juntos com paramilitares. O governo americano, CIA e drogas fazem uma combinação há muito controvertida. Pesquise no Google.

− Teoria da conspiração!

− Pesquise o caso Irã-Contras. Tinham drogas naquele mafuá.

− O fato é que mataram os caras de pijamas, isso eu concordo.

− Pois é. Tem vídeo que mostra que foi de madrugada, todos dormiam, uma covardia.

− Até concordo.

− Mas de pijamas? E guerrilheiro usa pijamas? Na selva?

− Ah, mas eu li nos jornais.

4 comentários:

Anônimo disse...

Um dos melhores artigos que já li.

Desmente com coerência diversas 'verdades' fabricadas pela mídia.

Kelly Christynna disse...

eu confesso. me senti representada no papel de perguntador-estupido. Mas não só eu, tenho certeza. Obrigada pelas respostas pelas perguntas que me fazia.

Ulysses Dutra disse...

Excelente! Jurandir, teu blog é coisa fina.

Um abraço

Anônimo disse...

2009ABR19 Prezados:
1. A idéia de matar dois coelhos, drogas e comunismo, de uma cajadada só, Plan Colombia, é deveras semi-brilhante, e enseja una vez más a insistente perguntinha: ? a quem convém ?
2. Se o Uribe erradicar as FARC, será que chegam mais USD dólares 4 bilhões no ano vindouro ?
3. Moral da História: mesmo para quem diz que não gosta, o Comunismo tem lá sua utilidade. E não é pouca.
Zé Prata