terça-feira, 29 de setembro de 2009

Fujimori foi condenado. E o Fujinando?


Alberto Fujimori aceitou nesta última segunda-feira a acusação para um processo por espionagem eletrônica, suborno de parlamentares e jornalistas, inclusive usando verba do estado para comprar irregularmente um canal de TV. Esta prática criminosa lhe garantiu três mandados presidenciais sucessivos.

Pergunto: nossa mídia, que hoje sataniza Chávez por suas reeleições, alguma vez dedicou editoriais com críticas ao nipo-peruano por ter sido reeleito? Nunquinha. Muito ao contrário. Para ela, Fujimori era o paradigma do “novo político”, um moderno, expoente do neoliberalismo, exemplo a ser imitado. Reproduziam os jornalões a babação de ovos que Fernando Henrique Cardoso fazia ao seu colega peruano. Foram tantas as homenagens prestadas que até a medalha da Ordem do Cruzeiro do Sul, maior condecoração da república brasileira, foi dada ao meliante.

Pouco importavam as evidências de crimes, inclusive o massacre de opositores, em demonstração clara do que pensam estes “democratas”.

Pois, foi seguindo a fórmula Fujimori, que FHC tentou seu segundo mandato. Comprou deputados, jornalistas, espionou adversários e calou o Congresso para impedir uma CPI que tentava investigar as irregularidades de seus atos.

Por essa identidade, FHC foi chamado de “Fujinando” pelo já falecido senador Lauro Campos, em discurso histórico que está nos anais do Senado Federal.

Para lembrar a identidade de Fujinando com Fujimori, vale publicar o discurso de tiete que FHC proferiu em Lima, no Peru, em banquete da posse do segundo mandato de Fujimori. Serve para quem sofre de insônia. Impossível lê-lo sem dormir após o terceiro parágrafo. Usem com moderação:

Discurso do Presidente Fernando Henrique Cardoso em resposta ao Presidente Alberto Fujimori, durante o banquete no Palácio de Governo.

Lima, 27 de julho de 1995.

Estamos reunidos em Lima, Presidentes de países irmãos latino-americanos, para testemunhar uma vez mais o ritual mais elevado da democracia consolidada em nosso continente: o início de uma nova fase de Governo, produto da vontade livre e soberana do povo.

Quis o protocolo que coubesse a mim a honra de cumprimentá-lo esta noite, Senhor Presidente, e ao povo peruano, em nome de todos os Chefes de Estado da América que aqui se encontram.

Esta é uma das muitas ocasiões memoráveis para todos os democratas latinoamericanos: mais uma vez, em um país irmão e da mesma maneira renascido para a democracia, um ciclo de Governo chega ao final e outro se inicia, legitimado pelo voto popular. Reconduzido à suprema magistratura da Nação, o Senhor reveste, Senhor Presidente, a vontade própria do seu povo, e com ele assume o compromisso mais nobre que um ser humano pode receber, o de ser agente e guardião da soberania popular.

Falando em nome de nossos amigos, trago-lhe a palavra de uma América intrinsicamente democrática, à qual o Peru fortalece e dignifica. E essa América, Senhor Presidente, faz hoje o elogio do exemplo da cidadania e da maturidade política que outra vez um povo latino-americano – o povo peruano – nos deu. Quero falar em nome de uma América que sabe que não há alternativa fora da democracia. Porque a democracia é o instrumento fundamental que nos assegurará a paz, o desenvolvimento e a estabilidade política e econômica, sobre uma base firme e insubstituível de uma sociedade mais justa e equilibrada, e de um povo cidadão.

Senhor Presidente,

Sua recondução à Presidência se dá em um momento particularmente cheio de promessas para a nossa região, que renasce para a paz e para o desenvolvimento. Não ignoramos que alguns dos nossos países atravessaram um período de tensões nos primeiros meses do ano. Mas, acredito interpretar o sentimento de todos ao redor desta mesa ao dizer que, a determinação dos nossos Governos em perseguir nossos objetivos de paz, de estabilidade e de permanente concertação regional, foi a garantia de que essas ameaças se afastassem e voltássemos às nossas ocupações: o exercício da cidadania, o desenvolvimento com justiça social, a participação no crescimento e no comércio mundial.

A confraternização dos povos e Governos, em que se transforma essa cerimônia, é uma prova de que a América Latina está unida em seus ideais de paz, de convivência fraternal, de desenvolvimento e de integração.

Talvez nenhuma força ilustre melhor a natureza e a extensão das mudanças ocorridas em nossa região, do que a integração que vem se tornando realidade em nossos dias, e que se reafirma como prioritária.

A integração transformou-se na interseção das forças que atuam em nosso continente e, portanto, é paradigma dos tempos que nos conduzem ao início do século XXI e terceiro milênio.

Entre essas forças, quero assinalar a democracia, porque sem identidade política as relações econômicas não avançam; a participação crescente de nossas sociedades e dos agentes econômicos dos assuntos internacionais dos Estados, a consciência de que a globalização da economia nos cria oportunidades e riscos sem os quais somente podemos responder por meio da competitividade de nossas economias, e a consciência de que o sonho político da integração continental, que inspirou o processo de nossa independência política, somente é possível a partir de processos sub-regionais que vão se cumprindo porque estavam dadas as condições básicas para a integração – existência de importantes correntes de comércio, a proximidade e a inter-conexão física.

Nossa América conta com um patrimônio expressivo de realizações no campo da integração, como o Pacto Andino e o Mercosul. À essas realizações se juntam um patrimônio também impressionante de mecanismos de concertação política e diplomática, como o Grupo do Rio e o Tratado de Cooperação Amazônica. O nosso fortalecimento como região é uma condição insubstituível em nossa luta por uma melhor inserção no processo decisivo internacional e por uma participação mais intensa dos benefícios gerados pelo crescimento a nível global. Acredito que este é um dos motivos de nossa presença em Lima. Encontramo-nos aqui também como uma forma de demonstrar que alcançamos um grau de maturidade política que nos permite falar efetivamente de nossa região como de uma comunidade de Nações.

Ao reafirmar nossa condição de democracias atuantes e de economias dinâmicas, estáveis e abertas ao mundo, estamos também reafirmando o nosso direito, o direito da América Latina a uma participação decidida no aperfeiçoamento dos instrumentos e instituições que hão de garantir que, a um mundo mais globalizado corresponda a realidade de um mundo mais cooperativo, mais concertado, mais universalmente comprometido com a justiça, com o respeito aos direitos humanos, a proteção ambiental e ao desenvolvimento sustentável.

Senhor Presidente,

O Peru é a pátria de grandes homens latino-americanos e cenário presente de transformações. É um país aberto ao mundo, à contribuição de todas as raças, universal ao mesmo tempo que profundamente original.

A vida mais recente do Peru, os êxitos de seu Governo no campo econômico e a renovada confiança popular que o leva a um segundo mandato presidencial, com a promessa de novos êxitos e realizações, juntam-se como uma contribuição peruana à história que juntos, os povos latino-americanos, estamos construindo, uma contribuição à projeção internacional de nossa região.

Portanto, ao cumprimentá-lo esta noite, Senhor Presidente, quero pedir a todos os presentes que me acompanhem em um brinde à prosperidade do povo irmão do Peru, à solidariedade fraterna entre os povos da América, à amizade que nos une e associa, à felicidade e ventura pessoal de Vossa Excelência e de sua família nesta nova jornada para conduzir o povo peruano ao seu melhor destino, ao destino que sonharam Bolívar, San Martin e Sucre.

Muito obrigado.

Fonte: UNB

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O golpe não foi contra Zelaya


A jovem hondurenha Wendy Elizabeth Ávila foi assassinada neste final de semana. Asmática, morreu em conseqüência de gases tóxicos jogados contra a embaixada brasileira. Não foi o gás lacrimogêneo, mas uma combinação de outras químicas que levou vários populares a vomitarem sangue, inclusive dentro da embaixada. Soldados foram vistos usando máscaras. Contraditoriamente, Honduras é um dos 188 países que assinaram a convenção mundial de proibição de armas químicas. Em 28 e setembro de 2005, ratificou a proibição. Não é estranho estar agora descumprindo uma norma internacional se não obedece nem a Constituição do seu país.

A Constituição de Honduras é clara em garantir o direito de participação do povo:

ARTICULO 2.- La soberanía corresponde al pueblo del cual emanan todos los poderes del Estado que se ejercen por representación.
La suplantación de la soberanía popular y la usurpación de los poderes constituidos se tipifican como delitos de traición a la Patria. La responsabilidad en estos casos es imprescriptible y podrá ser deducida de oficio o a petición de cualquier ciudadano.


E determina punição a quem a desrespeitar:

ARTICULO 45.- Se declara punible todo acto por el cual se prohíba o limite la participación del ciudadano en la vida política del país.


O artigo 3 é claríssimo em proibir um golpe de estado como o que foi praticado.

ARTICULO 3.- Nadie debe obediencia a un gobierno usurpador ni a quienes asuman funciones o empleos públicos por la fuerza de las armas o usando medios o procedimientos que quebranten o desconozcan lo que esta Constitución y las leyes establecen. Los actos verificados por tales autoridades son nulos. el pueblo tiene derecho a recurrir a la insurrección en defensa del orden constitucional.


Os solidários golpistas enrustidos daqui, alguns sem subterfúgios, gritam que o problema é Zelaya. Sua culpa? Ser chavista.

Não, meus caros, vamos parar de mentiras. Zelaya não é e nunca foi o problema. O grande problema, como sempre em nossa história, é que o povo hondurenho acreditava em sua Constituição. Imaginava poder expressar nas urnas sua vontade de mudanças. Queria em novembro, quando eleito um novo presidente (não poderia ser Zelaya, aprendam a ler e a entender, fascistinhas), dizer que desejava uma Constituinte.

O que fizeram as oligarquias e seus gorilas? Seqüestraram o presidente, forjaram uma carta de renúncia, assinaram agora um AI-5, cassando direitos dos cidadãos, fechando a mídia que ainda resistia (Alõ, SIP! Alõ ANJ, e agora?) e vem nossos especialistas, como o tucano Francisco Weffort, perguntar em recente artigo no Globo se “teria sido mesmo um golpe?”.

Vamos parar de asneiras. Não há jurista aqui ou acolá que vá nos engabelar. Onde está o direito de defesa, seriamente garantido na Constituição hondurenha? Diz ele:

ARTICULO 82.- El derecho de defensa es inviolable.
Los habitantes de la República tienen libre acceso a los tribunales para ejercitar sus acciones en la forma que señalan las leyes.


Chega! É um golpe clássico. Como tantos outros na história da América Latina. Não foi contra Zelaya, originado na mesma classe dos golpistas, mas contra o povo hondurenho, que acreditava, como a estudante de direito Wendy Elizabeth Ávila, que podia confiar na democracia de seu país. Não podem. Ela é uma fraude. Só funciona se o time dos donos do campo e da bola estiver ganhando. Era certo que perderia à frente. Este é o motivo verdadeiro do golpe. Que fique a lição para todos nós.

Foto: velório da jovem Wendy Elizabeth Ávila/AP

domingo, 27 de setembro de 2009

França quer acabar com a farra do Photoshop

Os parlamentares da terra de Sarkozy devem estar com muito tempo livre. Segundo notícia, estão discutindo uma lei que obriga toda imagem humana modificada digitalmente na publicidade, nos jornais, nas embalagens, ter a mensagem: “Fotografia retocada para modificar a aparência física de uma pessoa”. Claro, já há quem lembre que além das imagens humanas na publicidade, o cinema e a TV também usam de expedientes para maquiar atores, entrevistados, apresentadores etc. Lembram até que qualquer voz no rádio não corresponde à voz normal, já que são aplicados diversos filtros em estúdios.

Mas, fora a polêmica, este blog confessa que adora praticar esta transformação, em nome da melhor estética. Darei um exemplo:


Nesta imagem de um homem feio, retirada do ótimo site DeviantART, vamos usar os poderosos recursos do paintbrush, meu programa favorito para transformações digitais.


Agora, a imagem transformada. Vejam que belezura.

sábado, 26 de setembro de 2009

PSDB diz que é Brazil


Em seminário sobre educação promovido pelo PSDB hoje em Natal, com a presença de José Serra e Aécio Neves, foram distribuídos adesivos com o frase: “PSDB a favor do Brazil”. Percebido o erro, a organização do evento correu para pedir que os participantes retirassem o adesivo.

Vai de vento em popa a campanha tucana. Mas convenhamos, tem todo o jeito de ser ato falho.

Fonte: nominuto.com

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Quem pagou?

Foi post neste blog em abril. O picareta Diogo Mainardi recebeu um dossiê, divulgou e pautou a imprensa por dias com suposições sobre a atuação de Victor Martins na ANP. Tudo para tentar atingir o irmão de Victor, o ministro Franklin Martins.

Pois, passados meses, Marcelo Auler, sério e conhecido jornalista, publica reportagem hoje no Estadão revelando que o dossiê que originou a denúncia de Mainardi era falso, e que há na justiça o pedido de prisão de seu autor, o agente federal aposentado Wilson Ferreira Pinna, lotado na Agência Nacional de Petróleo. Vejam post no Luis Nassif, com links para a matéria do Estadão e o texto embusteiro do Mainardi.

Nossa imprensa voltará ao assunto com o mesmo destaque que antes? Irá adiante na informação, procurando saber quem pagou ao agente?

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Conta outra


Pesquisas eleitorais nesta altura do campeonato servem sempre a algum interesse. Tentem me convencer do contrário, que o mundo e o Carlos Augusto Montenegro são exemplos de imparcial serenidade. Esta, o dedo está claro. Pergunto: qual o fato que levou Ciro Gomes a crescer? Sua ótima performance em recente entrevista na Bandeirantes? Faça uma continha básica com aquela audiência. Não bate. O objetivo é simples, e óbvio. Para a candidatura Serra é fundamental que Ciro e sua turma se animem com a candidatura presidencial, esquecendo a alternativa existente de concorrer ao governo de São Paulo. Ali, o vampiro perde duas vezes: 1) fica sem a garantia de fácil recuo, tentando ser reeleito, no cenário de sua possível desistência à presidência. 2) Tem um crítico pesadíssimo ao tucanato em sua base, o maior palanque estadual brasileiro, o que interfere diretamente na candidatura Serra à presidência.

Resta saber quem pagou a pesquisa. Alguma aposta?

Nós e você são...

Vi no domingo e me pareceu um erro de português a nova campanha do jornal O Globo. Diz: “Nós e você. Já são dois gritando”. Mas nada, deve ser erro mesmo de aritmética, algo que aquela empresa tem dificuldades, como bem mostrou recentemente o atento Esquerdopata.

Vida cervical


Devo mil desculpas aos leitores do blog. Nada de grave com o blogueiro. Menos faltaram canalhas para apontar. Bastou o acúmulo de estresse da vida proletária, uma mudança de endereço, alguns caixotes sendo carregados na cabeça, uma coluna cervical sendo atingida, um micro pedindo reformatação do HD, para calar o escriba. Coisa pouca. O suficiente para reflexões que tentarei aos poucos relatar.

A primeira constatação deste longo período foi o sumiço da tal oposição. Segue a mídia tal qual banda sustentando os acordes de um show enquanto os artistas principais foram aos camarins. Lá, o que imagino estarem fazendo agora alguns dos perdidos caciques do PSDB, DEM e PPS, é o que explica uma reportagem da Carta Capital de 17 de junho, que acabo de reler. Nela, o relato da apresentação do professor de neurociência cognitiva, Drew Western, autor de um best seller, “O cérebro político”, aos perdidos políticos.



Vejam a cara de atenção do Serra, é impressionante. O vampiro acredita na tese do professor de que o mais importante não é a razão na política, mas a emoção. Mais vale parecer que é do que ser. Como se estes precisassem desta lição. Uma constatação da teoria que consultores servem apenas para dizer aquilo que os contratantes já sabem, desejam apenas provar e convencer mais alguém.