Recebi este comentário de Gravataí Merengue:
Oi, Jurandir. A questão crucial é que ninguém debateu o CONTEÚDO da defesa que fiz de Janaína.
Sou amigo de gente conservadora e de gente progressista. Tenho amigos miliatares e militantes.
Neocon? Não, não sou. Defendo casamento gay, liberação de drogas, descriminação do aborto (antes da formação do córtex), livre manifestação, separação igreja/estado etc.
É bem provável que minhas idéias sejam diferentes daquelas da maioria da esquerda brasileira, mas é preciso saber separar o que é a "esquerda brasileira" e o que é a esquerda no espectro político realmente científico (e não simplesmente partidário).
Quanto aos links, minha página oferece acesso tanto a Reinaldo Azevedo (de quem não gosto) quanto para Nassif (de quem gosto, apesar de ter-me xingado sem motivo).
No mais, reitero o pedido para que o debate se mantenha no campo dos fatos e argumentos. VocÊ diz que eu expus um amontoado de palavras, sei lá, usou algo pejorativo.
Mas não os contestou. Assim fica difícil.
No mais, parabéns pelo blog, não o conhecia. Um abraço.
Gravatá
Respondo:
Gravataí,
Também convivo e tenho amizade com pessoas de um amplo arco ideológico. Não tenho a menor dificuldade em conversar, debater, contestar e ouvir argumentos. Faço isso com regularidade e posso adiantar que, no geral, ao menos de minha parte, consigo chegar a lugar nenhum de forma recreativa, lúdica, sem corpos estirados no chão. No máximo copos. Mesmo assim, mais bebidos do que quebrados.
Não considero ter usado um anátema quando o chamei de neocon. Há quem se vanglorie em ser. É neologismo, vem sendo bastante empregado, e se refere a um novo tipo ex-liberal, ex-socialista, que desencantado adota posturas conservadoras. Gosto da definição de Paul Gigot neste link. O que poderia melhor definir suas variadas posições recentes em atacar a mídia independente e agora, em particular, Luis Nassif? Seria seu desejo ser encaixado em algum novo tipo de esquerda? Que causa seria a sua? Há uma insistente parcialidade, agora mesmo você ameaça um novo tema: “... até por isso que logo mais publico o meu "Dossiê Caros Amigos". Próximas vítimas? Há uma nítida fixação sua em condenar apenas um lado do aspecto ideológico. Quando virá seu Dossiê Ricardo Sérgio de Oliveira? É nome que causa arrepios em tucanos. Algo que imaginam estar bem varrido para debaixo do tapete. Seria uma boa causa. Topa, doutor?
Não fui pejorativo ao dizer que você “expeliu um monte de palavras”. Você mesmo se reconhece como um compulsivo argumentador. Atua agora como um logorréico advogado, de forma declarada: “Senhores jurados, vocês concordam com a tese de acusação de Luís Nassif?”, disse você brincando ao fechar seus argumentos.
Mas vou concordar a aceitar ficar restrito ao campo dos fatos e argumentos. De tudo, quero me concentrar na parte do Dossiê de Nassif que fala da relação Dantas-Janaína - Juíza Márcia Cunha, onde mais você usou palavras e grande empenho nas argumentações. Para que muitos possam entender os fatos e o que está em jogo, tenho que lembrar o contexto da situação como intróito. Uso como fonte os próprios textos citados e outros, onde cito a fonte:
Em abril de 2004, os fundos de pensão e o Citigroup propuseram uma ação na justiça para invalidar um discutível “contrato guarda-chuva”, que dava plenos poderes de gestão a Daniel Dantas e seu Opportunity, a parte minoritária da Brasil Telecom. Ele havia sido validado nas artimanhas de Dantas e no cochilo dos outros. Quem tiver tempo e paciência, sugiro este texto da ANAPAR – Associação Nacional dos Fundos de Pensão. Ele bem relata as maracutaias de Dantas e seu método.
Em maio de 2005, a juíza Márcia Cunha proferiu sentença anulando os efeitos do contrato. O mundo caiu sobre sua cabeça. Ou melhor, o Opportunity caiu sobre ela. Como não havia melhor defesa jurídica sobre a manutenção do contrato, a saída foi justificar que a Juíza não era a autora da sentença. Chegaram a comprometer ridiculamente Antonio Olintho, da ABL, que deu parecer favorável aos reclamantes. Como se fosse ainda possível piorar a grotesca situação, a Juíza acusa o Opportunity de tentar corrompê-la.
No meio de tal imbróglio, com nítida disputa de interesses, Janaína Leite é chamada para acompanhar o caso no Rio. Pergunto a você, Gravataí, e a todos: o que seria mais lógico que a jornalista tentasse saber? O que seria do interesse dos leitores? O que foi feito está registrado na reportagem da Folha, de 7/10/2005, assinada por Janaína Leite. Nada fica claro sobre os interesses envolvidos. A juíza fica acuada em posição de ré. Ao final da reportagem, há uma ilustrativa entrevista:
Folha - A sra. foi a autora da sentença contra o Opportunity?
Márcia Cunha - Essa pergunta chega a ser ofensiva. Por sorte, tenho testemunhas que me viram escrevendo. É uma tentativa de desmoralização.
Folha - O texto é muito diferente dos padrões das suas decisões anteriores. Por quê?
Márcia - É um processo complexo, com 18 volumes.
Folha - A decisão saiu em poucos dias. A sra. leu tudo?
Márcia - Claro, eu tinha lido o processo há mais tempo porque dei outras decisões, inclusive favoráveis ao Opportunity.
Folha - A sra. disse que houve uma tentativa de corrupção por intermédio do seu marido. Por que não colocou isso por escrito na sua defesa?
Márcia - Como a senhora sabe disso? Não posso dizer, é algo de maturação sigilosa.
Folha - Mas a sua defesa é pública. E por que denunciar só agora, pela imprensa?
Márcia - Existem coisas que só podemos dizer quando há provas. Naquela época não tinha provas. Só vim a público porque o Opportunity estava distribuindo dossiês contra mim nas redações de jornais, com coisas falsas.
Folha - Na entrevista a "O Globo" a sra. falou que tinha fitas mostrando o diálogo. Houve outras conversas com seu marido?
Márcia -Não vou falar sobre isso. Ir contra os interesses deles expôs meu nome, sai uma coisa torta no jornal e eu nunca mais recupero a idoneidade.
Folha - A sra. comprou um apartamento de quatro quartos em Ipanema pouco depois de dar a sentença?
Márcia - Meu Deus, que absurdo! Eu moro de aluguel.
Folha - A sra. mudou quando?
Márcia -Em maio. Aluguei de um casal de velhinhos.
Folha - A sra. ganhou passagens da Varig?
Márcia - A assessoria do tribunal já esclareceu esse assunto. Não vou falar sobre isso.
Folha - A sra. foi a Nova York por conta própria?
Márcia - Para Nova York? Eu fui para os Estados Unidos em uma viagem pessoal em maio e só passei uma noite em Nova York. Fui acompanhar uma pessoa doente. Quem pagou foi ela.
Folha - Casos envolvendo a sra. já foram enviados ao Órgão Especial antes?
Márcia - Não. Tudo isso não passa de uma enorme mentira para macular meu nome.
Tirem suas próprias conclusões.
Como você acusa Nassif e defende Janaína?
1) Diz que um erro de Nassif foi ter dito que Janaína não identificou a fonte de tantas acusações, só depois confirmada ser o Opportunity.
2) Diz que a acusação contra a juíza foi acatada pelo Conselho de Magistratura “(por unanimidade!)”, ênfase sua. E em setembro, antes de entrevista ao Globo. Não caberia a Folha repetir a notícia, mas sim dar espaço para a juíza se defender.
3) Você defende a suspeição da juíza, diz: “E a suspeita, vale ressaltar, não foi pelo longo número de páginas, mas por dois fatores: a) a juíza proferia decisões manuscritas; b) a juíza não proferia decisões "longas".
4) Diz: “Janaína única e tão-somente informou ao leitor os fatos que eram apurados pelas instâncias oficiais do judiciário fluminense. Mas, lendo o texto de Nassif, mais parece que a repórter é que foi a autora da denúncia”.
5) Critica a afirmação de Nassif que depois a cobertura voltou às mãos “sérias” de Elvira Lobato.
Creio que estes 5 pontos são todos, ou ao menos são o essencial dos seus argumentos. Vamos a eles:
1) Em uma reportagem com tantos interesses e acusações pesadas sobre a juíza (que depois foi inocentada) caberia a repórter a obrigação de citar a fonte. Se não o fez, demonstrou culpa por isso demonstrar nítida parcialidade com os fatos.
2) Foi dado espaço para a juíza se defender? Tive pena dela. E por que não ouvir as outras partes com interesse no processo? Nada sobre o interesse dos milhões que envolviam a decisão da juíza? Só vale o Opportunity como fonte? E os fundos? O Citi?
3) Um dos argumentos foi de que havia diferentes grafias para “Nova York”. Convenhamos.
4) Vamos ser coerentes. A reportagem do Globo ao menos citou os envolvidos na acusação de corrupção e as relações existentes. Nassif não acusa Janaína por ser autora da denúncia. Ele suspeita que a reportagem foi parcial em não dar chance ao leitor de entender o que estava em disputa. O que me parece é que na reportagem da jornalista e na sua defesa está claro que a juíza é perigosa ré, e não vítima, como depois foi apurado.
5) Concordo com a gravidade da alusão de Nassif de que Janaína não foi séria. Ao menos não foi uma boa escolha de palavra. Mas creio que este texto de Elvira é muito mais informativo.
Quero só acrescentar que não tenho elementos para dizer que Janaína tinha algum compromisso com Daniel Dantas. Nem vi em Nassif uma acusação clara neste sentido. Há muito a considerar, podendo ser interesses da própria redação, de Janaína em agradar seus chefes e garantir seu espaço. Minha preocupação é de que a série de Nassif vem servindo para abrir uma necessária cortina da nossa sociedade. A mídia tem compromissos com o poder econômico e com claros setores ideológicos, sim. Isto é visível e hoje uma questão importante a ser levada por toda a nossa sociedade. Sua defesa de Janaína é fraca, falta melhores argumentos. Houve parcialidade na reportagem e é natural que existam suspeições sobre os infinitos interesses envolvidos.
E obrigado pela atenção e seu elogio ao nosso blog.
Abraços,
Jurandir
– O PT e a “utopia” marxista
Há 3 horas
2 comentários:
Avelar foi precipitado, e agora tá querendo arrumar jeito de disfarçar isso, mas tem jeito não, irmão, ele foi afoito e pronto. Foi tu q pisou na bola, Avelar. E pisou feio, entrou de gaiato. Arregimentar defensores pra Janaína....q papo é esse? Apoio irrestrito? Q piada! Quem tem de
defendê-la é a fidedignidade dos argumentos dela.
Jurandir, vc está sendo equilibrado e está conduzindo essa questão com muita propriedade e bom senso, ao contrário do Avelar.
Meus cumprimentos.
Postar um comentário