quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Festa nas trevas


Fantasmas surgem da escuridão. Ainda não sabem direito para onde seguir. A mídia, confusa, chega ao ponto de dizer o que um entrevistado disse e mostrar logo em seguida que ele não disse, como mostra o Cloaca. Mas tentam, ficaram animados. Pouco importa que o recente apagão não traduza crise de energia, o que é claro. A escuridão trata de fazer os gatos todos ficarem pardos. Aliás, foi o que José Serra e alguns outros representantes da noite aprenderam recentemente com o professor Drew Western, que diz que o importante não é fazer um eleitor pensar, mas sentir. Ou, mais vale parecer que é do que ser. Como se essa gente mal iluminada não soubesse, poderiam até ensinar.

Mas estou com uma pulga atrás da orelha. Não chego ao ponto de desconfiar, como o Eduardo Guimarães, de redações preparando edição sobre o apagão antes do fato. Menos. Mas acho que não é nada difícil no quadro atual aparecerem crimes políticos para alimentar o forno da mídia, que carece de mais lenha. E fui pesquisar para encarar meus medos e desconfianças.

Com umas googadas, achei uma tese do último Simpósio de Inovação Tecnológica, de autoria de André Luiz Carneiro de Araújo, Paulo Régis Carneiro de Araújo e Antônio Themóteo Varela. Trata-se de uma solução tecnológica para evitar furto de cabos elétricos. Segundo eles, algo que acontece com freqüência. Para mostrar o funcionamento de suas idéias, analisam o processo do ataque dos ladrões:

Em um primeiro cenário, o indivíduo que deseja violar o sistema inicialmente tenta derrubar o sistema elétrico. Há duas formas em que ele pode fazer isso. A primeira é abrindo as canelas que fica antes do transformador. Neste caso a concessionária não tem como identificar o evento. A segunda é provocando um curto fase-fase ou fase-neutro que aciona o dispositivo de segurança do sistema. A concessionária consegue identificar o evento, entretanto não consegue determinar se o evento é um furto ou outro problema qualquer em sua rede.


São especialistas no setor. Fica claro que há maneiras fáceis de derrubar um sistema elétrico. Principalmente quando há muitos interesses envolvidos.

Neste ponto estou com o Eduardo Guimarães: Atenção! Vamos botar a PF pra trabalhar!


Em tempo:

A melhor frase sobre a cobertura do apagão é do Hermenauta: “Juro que nunca vi tantos inimigos do Iluminismo reclamarem tanto do escuro…”.

3 comentários:

Paulo Régis disse...

Oi Jurandir!

Sou Paulo Régis, um dos autores do trabalho. Nosso trabalho foi realizado para linhas de 220V e 13,8KV, que podem ser facilmente acessadas por pessoas mal-intecionadas. E oferecem um risco médio para pessoas que entendem de sistemas elétricos. Mas, em linhas de transmissão de 230KV e 500KV (as que geraram o apagão), além do acesso mais complicado, o risco para se causar um evento de curto-circuito é muito alto. Além do mais, o desligamento de uma dessas linhas não é manual e sim por chaves seccionadoras automatizadas dentro das subestações.

O evento foi sim uma falha técnica, causada talvez por fuga à terra por quebra de isoladores ou por evento meteorológico. Mas, nunca vamos saber, pois se foi pelo primeiro caso a empresa de geração ou transmissão tem que pagar uma multa milionária.

PS: Certa vez, ocorreu uma falha intencional do sistema elétrico. Foi causada por índios que atearam fogo na base de uma torre de transmissão, fazendo-a cair, provocando, assim, uma falha de cabo ao solo.

Abraço!

Paulo Régis

Jurandir Paulo disse...

Agradeço de público o prestativo esclarecimento do Paulo Régis e do André Araújo (que me respondeu por email), os dois do FET-CE (Instituto Federal de Educação Tecnológica do Ceará). Entendi melhor que provocar um blecaute, como o último, não é tarefa muito simples. Provocá-lo, de maneira criminosa, parece necessitar de muita artimanha. Mas achei interessante a informação de que se o motivo não for problema meteorológico, pode ficar mal na foto a CESP, empresa privatizada do Estado de São Paulo, afinal foi lá onde a coisa começou, segundo as informações até aqui apuradas.

Não é a primeira vez que a empresa é responsabilizada por interrupção de energia. Em 11 de março de 1999, ela já havia causado um blecaute em 70% do território brasileiro. Vejam artigo no Brasil Atual:

http://www.redebrasilatual.com.br/temas/cidades/falta-de-investimentos-no-setor-eletrico-levou-as-crises-de-1999-a-2002

Agradeço ao Paulo e ao André as informações.

Anônimo disse...

Pouco antes das eleições de 2010, é só fabricar outro apagão destes, bem vinculado à mulher-minas e energia:

Nunca foi tão fácil desconstruir uma candidatura !

"Quem não faz - toma !"