Recentemente, tivemos uma ótima notícia quando um instituto, o Vox Populi, ouviu 2.500 pessoas e descobriu algo que já desconfiávamos: no Brasil, sites de notícias e blogs têm o dobro da audiência dos jornais, três vezes mais que o rádio. Muito bom. Mas certamente péssimo para o cartel da mídia, que tenta em desespero contra atacar.
Nos últimos dias, os principais jornais brasileiros deram destaque à reunião da SIP em Buenos Aires, com a presença do Pig sul-americano, que ratificou a tal “Declaração de Hamburgo”. Em meio ao brado, “cartel mundial unido, jamais será vencido”, editores e prepostos denunciaram o perigo para a democracia se o modelo de seus negócios for para o espaço, tal como parece caminhar célere. Para evitar o buraco, a solução é mudar as regras para proteger seu direito autoral. E apontaram um inimigo: os agregadores de conteúdo, que usam seus serviços sem pagar. Claro, mais uma vez falaram sobre o desejo de fechar a porta e cobrar por cada palavra que produzem. Só não disseram como, já que ainda não sabem.
Pode parecer, e talvez assim tenha sido vendido, que os jornais abriram guerra contra o Google News ou o Yahoo News, mas há algo mais que precisa ser pensado. Pouco, ou nada até agora foi tirado de audiência dos jornais via Google ou Yahoo. Até pelo contrário, os agregadores são fonte de visitas para portais noticiosos, tanto quanto para blogs e os mais diversos sites. Ganham com isso, tanto quanto os que recebem leitores.
Se não é o Google o inimigo, quem será? Vamos massagear os neurônios para olhar melhor o quadro. Falaram muito nos provedores de acesso. Querem policiar por essa via o seu direito autoral. Vigiar e punir. Como? Se alguém ler e comentar o que leu será punido? Texto não é uma combinação precisa de uma seqüência de bytes, como uma música. Ao ler, eu posso dar a mais variada interpretação. Não preciso usar as mesmas palavras, as mesmas frases. Como vigiar? Parece claro que há mais coisas que não foram ditas.
Existem motivos sérios para pensarmos que a mídia mundial, à beira do precipício, está abraçando na surdina o misterioso Anti-Counterfeiting Trade Agreement (ACTA). Até agora não há posição oficial sobre tal conchavo, mas sabe-se que ele envolve o governo dos EUA, a União Européia, Japão, Coréia do Sul, Canadá, México, Austrália, Nova Zelândia, entre outros, e grandes empresas representantes da indústria cultural. O objetivo, aparente, é enfrentar a pirataria, mas teme-se, e há motivos, que tenha também o propósito de controlar a informação, punindo provedores. Nenhum representante da sociedade civil foi chamado, nem a Organização Mundial do Comércio, nem a Organização Mundial de Propriedade Intelectual, nenhum representante da sociedade civil dos países envolvidos.
Filme de ficção? Parece que já há muita gente com preocupantes informações. A revista Wired e o BoinBoing já adiantaram alguma apuração, dando conta de que o objetivo é mesmo fiscalizar e punir provedores de acesso à internet, que serão obrigados a policiar eventuais infrações aos direitos autorais no material fornecido pelos usuários.
Para a mídia, é mais que uma carona. Ela busca não perder o bonde com a mudança do seu modelo de negócio, mas principalmente, e acima de tudo, quer manter o monopólio da informação, seu maior negócio.
Enquanto isso, no Brasil, nossa elite assustada ainda precisa dos velhos métodos de nossa herança colonial para controlar a informação. Basta chamar um juiz amigo, como Pedro Sakamoto, no Mato Grosso, que determinou que blogueiros ao alcance da sua Vara não emitam opiniões pessoais contra o ex-presidente da Assembléia Legislativa do estado, José Geraldo Riva (PP), sob pena de pesada multa. Na liminar, o juiz afirma que os blogueiros não podem acusar Riva – que tem 92 ações por improbidade administrativa e 17 ações criminais – sem um julgamento definitivo que confirme as denúncias. Até lá, é um probo e honrado cidadão. Que chamem Lula de analfabeto, isso pode.
E Obama criticou hoje a China por não ter liberdade na internet...
PS. E o Google, sempre tão sensível aos apelos dos poderosos, tirou hoje estranhamente do ar o blog FBI – Festival de Besteiras da Imprensa, que teve que se mudar. Nossa solidariedade.
Aviso à canalhada: nosso blog, que infelizmente não confia em um futuro de ampla liberdade na internet, já tem seu plano B montado. Que venham, combateremos à sombra!
Alguns links para saber mais sobre o ACTA:
Os Dinossauros Contra-atacam, no Arlesophia
ACTA: Tratado contra a pirataria prevê resposta gradual e responsabilização legal dos ISPs, no Remixtures
Tratado ACTA é DMCA com esteróides, no Libertarianismo
O silêncio sobre o ACTA, no Xô censura!
Justa homenagem a Raphael Martinelli
Há 7 horas
3 comentários:
Oi, Jurandir! Vc escreveu algo que eu, enquanto acompanho todo esse debate sobre a questão de direitos e liberdade de uso da net, também fico pensando: caramba, se o jornal é aberto, se eu posso ler, por que não posso comentar?
Em fim, esperemos que não seja preciso usar o Plano B! rs.
Grande abraço.
Ótima essa imagem, hein!
Romanzeira, a imagem original é de Jason Engle, um jovem artista digital de 24 anos. Não creditei antes por não saber, descobri agora. Vale a pena dar uma olhada em seu portfolio:
http://www.jaestudio.com/
Claro, teve uma pequena alteração minha para falar sobre o tema do blog. :-)
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