domingo, 28 de junho de 2009

Não ao golpe de estado em Honduras


O presidente Manuel Zelaya de Honduras foi afastado hoje de seu cargo em um golpe de estado. O motivo alegado foi a sua proposta de um plebiscito no país sobre mudanças na constituição, que permitiriam a reeleição presidencial. Quer dizer, a proposta, que tem amplo apoio popular, foi impedida de ser levada democraticamente à nação, e o presidente punido, levado para fora do seu país. É apenas mais um golpe de estado durante governo democrático americano.

Zelaya fez o caminho certo, acreditou nos valores democráticos, que seus inimigos fingiam acreditar. Se estivesse do outro lado, compraria deputados, o judiciário, teria a mídia em seu bolso, e teria mudado a lei apenas com o Congresso, tal como feito no Brasil por Fernando Henrique Cardoso.

Segue texto de Laerte Braga:

Golpe é inaceitável – como fica o Brasil?

Laerte Braga


O golpe de estado em Honduras é inaceitável em todos os sentidos. A diplomacia brasileira e o presidente Lula, mais que ninguém, têm que tomar posição dura e clara, inclusive não reconhecimento da barbárie militar, rompendo relações com aquele país até que seja restabelecida a vontade popular.

Não é hora de notas de condenação. É hora de atitudes concretas e efetivas. Não existe conversa de acordo nesses momentos. Existe um presidente eleito seqüestrado por militares encapuzados – típico dos golpistas em qualquer lugar do mundo, inclusive aqui no Brasil – momentos antes do início de uma consulta popular.
Os fóruns internacionais clássicos, Nações Unidas e OEA – Organização dos Estados Americanos – têm a obrigação de reagir e impedir que se consuma um atentado ao processo democrático em Honduras.

Está evidente a intervenção do embaixador dos EUA no processo golpista, denunciada desde quarta-feira quando um general, desses com medalhas de bom comportamento e por saber comer de boca fechada e com garfo e faca, se opôs a uma decisão presidencial, com largo apoio popular, insurgindo-se em nome dos interesses de elites nacionais subordinadas, lógico, como as daqui, aos grandes grupos econômicos e bancos no perverso modelo de globalização segundo a ótica exclusiva dos donos do mundo.

A posição do governo brasileiro não pode limitar-se a uma condenação oficial do golpe. O tamanho, o peso, a importância do Brasil o tornam parte ativa do processo político latino-americano e não se pode permitir que essa região volte a ser palco de golpes de estado desfechado por elites e militares quando têm seus interesses contrariados.

Elites, em qualquer lugar do mundo, são apátridas. Regem-se por lucros e escoram-se na hipocrisia – demonstrada agora – da farsa democrática.

Não têm escrúpulos quando seus “negócios” são contrariados e quase sempre têm os militares como parceiros. Militares se arrogam o privilégio do patriotismo doentio e fanático que na verdade disfarça características de forças da barbárie a serviço dos grandes grupos.

É recente e Lula tem que se lembrar, a defesa que o ex-comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno fez de empresas estrangeiras que atuam ali, criticando índios, trabalhadores sem terra com o pretexto que estavam sendo manipulados por organizações internacionais. Como se a VALE, que patrocina o general, hoje na reserva, em conferências Brasil afora defendendo o “patriotismo” e a Amazônia, fosse nacional.

O discurso é igual em qualquer lugar do mundo entre golpistas.

Não há o que contemporizar. É restabelecer a vontade popular e pronto. Isolar Honduras enquanto estiver submetida a militares golpistas e elites pútridas – como as nossas –. Não há que se falar em congresso e corte suprema, basta tomarmos como exemplo o nosso congresso, a nossa corte suprema. Lembrarmo-nos de Gilmar Mendes. De José Sarney.

E nem há que se falar em “gorilas”. Os gorilas não merecem. São generais golpistas a soldo de empresas, bancos e latifúndios. Consideram o país, nesse arremedo de patriotismo canalha, como propriedade privada.

A ação diplomática, até para evitar que a moda volte a imperar, são várias as tentativas contra os governos de Chávez e Evo Morales. Se prestarmos atenção a cada proposta ou cada decisão do presidente do Paraguai que contraria essas elites aparece alguma figura a dizer-se estuprada ou forçada a sexo com o presidente. Lula deve lembrar-se da campanha de 1989 contra Collor quando foi vítima da mesma prática de chantagem e mentira.

Nem é hora de acreditar na grande mídia – aliás hora nenhuma pode-se acreditar –. Os próprios militares golpistas mostram isso quando cortam os sinais de tevê e rádio das emissoras oficiais e mantêm os sinais da emissoras privadas. São cúmplices.
Há um golpe e repressão brutal e violenta como em todos os golpes.

Não é um golpe só contra o povo hondurenho. É contra todos os povos da América Latina. E a despeito do show do presidente dos EUA, com interferência do embaixador norte-americano em Tegucigalpa. Escorados na representação diplomática dos EUA.
O desafio do governo Lula é mostrar agora que essa época de golpes é coisa do passado e tem que ser sepultada.

Não cabe a militares e nem a banqueiros, empresários e latifundiários decidir os destinos de um povo. Cabe ao próprio povo. E era isso que Zelaya pretendia com o referendo. Ouvir o povo sobre as reformas na constituição de Honduras.

E nem cabe analisar o governo de Zelaya. Essa é uma prerrogativa do povo hondurenho.
É isso que deve ser considerado, nada mais. Esse tem que ser o norte da diplomacia brasileira, do governo brasileiro, do contrário num futuro próximo podemos ser novamente vítimas de “trogloditas” como disse Chávez.

E não vale culpar o presidente do Irã, ou a revolução islâmica e popular naquele país. Os velhos pretextos de golpistas.
“Ou é democracia ou não é”, como dizia Sobral Pinto. “Não existe democracia a brasileira, ou a francesa, democracia não é como peru”.

E quem enche a boca para falar em democracia são eles.

Lula tem o dever de bater de frente com essa corja que mantém intocados privilégios de elites e dos EUA. O chanceler Celso Amorim é um dos maiores da nossa História exatamente por ter a percepção da importância do processo político em curso na América Latina. Tem consciência que o seqüestro do presidente, dos embaixadores de países como a Venezuela, Cuba e Nicarágua por militares/bandidos em Honduras é um crime sem tamanho.

Não se pode deixar esse tipo de criminoso impune de forma alguma. Não importa que Obama seja só um show e que os EUA continuem o mesmo.

O golpe é inaceitável e o Brasil tem o dever, por seu governo, de não aceitar esse tipo de prática dos que se acham donos da vontade popular.


10 comentários:

Eliaz disse...

A sua proposta (a de Zelaya) infringia as Leis daquele pais, os poderes Legislativo, Judiciário e Militar eram contra, de forma UNÂNIME à sua proposta.
Alguns podem não concordar com as leis, mas infelizmente (ou felizmente) elas nos regem e são inportantes para o nosso convivio, e quem infringi-las, deve sofrer as consequências, ou você acha que ele é himune pelo fato de ser presidente?

E pode apostar, Hunduras somente sofrerá Ameaças, não acontecerá nada. Ainda mais se eles organizarem novas Eleições logo.
Chavez so tem barulho.

Patrick disse...

a) Que divisão é essa em que "Militar" é um Poder do Estado?
b) O tal do "Supremo Tribunal" de Honduras é o "Tribunal Superior Eleitoral", que lá é um órgão vinculado ao Congresso (como o Tribunal de Contas da União no Brasil).
c) O referendo não era vinculante. Por que tanta repulsa a uma consulta popular informal, a ponto de instituir um golpe militar?
d) E os assassinatos praticados pelos golpistas, como o do deputado fiel a Manuel Zelaya, César Ham, como ficam?

Anônimo disse...

O Brasil tem que reagir, afinal somos uma das maiores democracia do mundo. Golpe é coisa nojenta, absoleta e arcaico não condiz com atualidade democrática que vive os povos da América Latina. Se o Governo Lula não reagir vai perder ponto para Hugo Chavez que poderá liderar um bloco de resistencia e sairá muito fortalecido politicamente se o Poder for devolvido ao Presidente legítimo de Honduras. Quanto ao comentário que o presidente deposto infrigia as Leis de seu País, isso não procede, visto que o dever de um líder democrático é ouvir a população era justamente isso que estava fazendo. Golpistas são antidemocrático e temem a decisão soberana do povo, por isso tentaram abafar a voz do povo com os zunidos das armas. Ora sendo militar e detentores das forças armadas nada mais justo que sejam combatidos pelas forças armadas de Estados Democráticos. Parabéns Hugo Chave e Rafael Correia. Vai em frente Chavez que a opinião pública Latino-Americana vai te apoiar!

Jurandir Paulo disse...

Eliaz, seu pensamento só perde para o do blogueiro farsista e fascista da Veja, que acha que foi Manuel Zelaya que praticou golpe de estado.

Adriano Matos disse...

Grande texto do Laerte Braga!

Chama o governo Lula para romper relações com a Honduras-gopista e anti-democratica, no que eu concordo plenamente.

Temos que isolar aqueles que são democráticos apenas quando estão no poder e usam todo tipo de desculpa idiota para se justificar.

Anônimo disse...

Ora, como fica o Brasil? O Brasil, ou melhor o atual governo brasileiro e a sua diplomacia brilhante dará apoio ao golpista Zelaya, assim como apoia Fidel/Raul Castro, Chavéz, Kim Jong-il, Kadafi, Ahmadinejad, Evo, Omar al-Bashir, Daniel Ortega, Lugo, Correa, enfim só a NATA da escória.

Jurandir Paulo disse...

Anônimo, golpista é Micheletti e seus gorilas fardados, que desrespeitaram a constituição de Honduras em vários pontos, impedindo até o direito constitucional da defesa de Zelaya, que desejava apenas modernizar a democracia daquele país, dominado por uma das mais atrasadas oligarquias do planeta. Seus aliados são Uribe, Bush, e toda a canalha fascista que teima em guardar o pelourinho e a chibata para manter inalterado um sistema injusto, cruel e, além de tudo, profundamente burro, que está levando o planeta ao precipício.

Anônimo disse...

Caro Jurandir, você seria capaz de afirmar que o atual (des)governo Lula não apoia o golpista Zelaya; o coma-andante Fidel/Raul Castro; o grande democrata Chavéz; Kim Jong-il; o terrorista Kadafi; Ahmadinejad, o louco; o cocalero Evo; Omar al-Bashir; o pedófilo Daniel Ortega; o casanova Lugo; Rafael Correa? Me aponte o que esses seres abjetos fizeram para levar o planeta para longe do precipício.

Como é mesmo o nome do novo presidente MILITAR de Honduras? Não tem presidente MILITAR? Então é uma Junta MILITAR? Não, não tem MILITAR. O novo presidente é CIVIL e já marcou as novas eleições, e Zelaya só não vai poder disputar democraticamene porque a CONSTITUIÇÃO não permite. A sim, entendi. Ora, ora, não me fale em golpe.

Anônimo disse...

Se tem alguém aqui cujos valores morais se casam perfeitamente com os de Kim Jong-il e Kadaffi é o Anônimo defensor de golpes de estado.

Jurandir Paulo disse...

Caro Anônimo golpista, enquanto lhe faz falta um raciocínio coerente, abundam adjetivos em sua prosa. Conheço o fenômeno. O que seriam daqueles caras, igualmente de idéias curtas, se não fossem as botas bem engraxadas, os uniformes bem engomados, as flâmulas, os galhardetes e as grandes bandeiras com a suástica?