terça-feira, 30 de junho de 2009

O estrebuchar da velha mídia

O Ali Kamel, diretor de jornalismo da TV Globo, repete argumentos recentes da mídia em papel, que pretende com seu poder de oligopólio acabar com o acesso gratuito na internet ao seu conteúdo noticioso. Para ler, só pagando. Como? Ainda estão definindo. Mas, o diretor já avisa em artigo o que desejam. Cita exemplo da indústria cinematográfica, de Lost, que amarga perda de audiência. Algumas observações são necessárias:

1) Lost é péssimo exemplo. Foi a internet que muito ajudou a divulgar a audiência da série. É assunto hoje já velho: o quanto a pirataria, de fato, impede o negócio dessa indústria. Lost já está com seu prazo de validade esgotado, com ou sem pirataria.

2) No dia que a indústria da informação na internet fechar todas as portas, quem comentar as notícias pagas, quem se atrever a romper o cerco e fazer reportagem, ganha o mercado. O que falta é um outro modelo de negócios, algo que a mídia não quer fazer.

3) A tentativa de salvar a velha indústria do papel, que tem que migrar e ganhar dinheiro na internet, começa a ficar patética com ajudas como a do juiz Richard Posner, de Chicago, potencial candidato a Suprema Corte americana. Ele, simplesmente, quer proibir qualquer link para material com copyright. É um visionário, um homem à frente de seu tempo...

4) E se blogs e redes sociais copiam material de jornais, o contrário já acontece, sem nenhum crédito. O que fazer se a mídia tradicional perde em agilidade e qualidade para muitos blogs?

Nossa direita e suas vergonhas

A Veja tem um blogueiro pago para brindar seu “seleto” público com este tipo de opinião:

O cerco está se fechando sobre o governo provisório de Honduras. Parece difícil que resista à pressão. Se Barack Obama não exercesse a presidência dos EUA com uma espécie de vergonha da história gloriosa do seu país, teria a coragem de não incentivar o circo.

Reinado Azevedo, hoje

Imagino a que tipo de história gloriosa o blogueiro se refere, saudoso. São muitas, destaco três, entre extensa lista:


Momento glorioso 1) Guerra do Vietnã, onde as forças armadas americanas viajaram léguas para defender, segundo elas, a “democracia”. Usaram, para convencer a população civil, produtos como o napalm e o agente laranja, deixando um rastro de milhões de vítimas inocentes.


Momento glorioso 2) Em 2003, mais uma vez os americanos viajaram léguas para impor sua “democracia”, agora ao povo iraquiano. Diziam que procuravam armas químicas, mas todos sabiam que estavam de olho no petróleo do país.


Momento glorioso 3) Depois da guerra hispano-americana, os EUA foram tomar posse de seu butim nas Filipinas. Em 1906, o general Leonard Wood comanda o que ficou conhecido como o Massacre Moro, quando pelo menos nove centenas de filipinos, incluindo mulheres e crianças, foram encurralados numa cratera vulcânica na ilha de Jolo e metralhados e bombardeados durante dias. Tal corajosa façanha mereceu cumprimetos do presidente Theodore Roosevelt: “Congratulo a si e aos oficiais e homens sob o seu comando pelo brilhante feito de armas que o senhor e eles sustentaram tão bem a honra da bandeira americana”.

FH era chavista?

Depois de ampla rejeição à quartelada em Honduras, onde até os EUA, eternos patrocinadores de golpes de estado pelo planeta, pedem o retorno do presidente eleito, nossa mídia faz acrobacias sobre o assunto. E sobra sempre para o Chávez. O Hayle Gadelha tem uma ótima observação para a barafunda de raciocínio de nossa direita:

Hoje li a seguinte nota na coluna do Ancelmo, no Globo: "Não se pode apoiar golpe contra a democracia. A única saída em Honduras é devolver imediatamente Manuel Zelaya ao cargo. Mas a situação no país deixa o alerta no ar. É que a crise toda começou quando Zelaya, inspirado em Hugo Chávez, quis prorrogar seu mandato contra todas as instituições legislativas e judiciárias" (com grifo meu). Fiz algumas reflexões: 1) Apesar de Ancelmo ter dito com todas as letras que não se pode apoiar golpe contra a democracia, ele acaba mostrando que também foi contaminado pela justificativa do golpe, que seria a inspiração em Hugo Chávez na oposição às instituições legislativas e judiciárias. 2) Quando o Congresso venezuelano aprovou a prorrogação do mandato presidencial, disseram que que ele era "controlado completamente por seguidores de Hugo Chávez". Nesse caso não vale a instituição legislativa? Que inspiração é essa? 3) Fernando Henrique, quando obteve a prorrogação do seu mandato através do Congresso, inspirou-se (por antecipação) em Hugo Chávez? 4) Zelaya, é verdade, opôs-se às instituições legislativas e judiciárias (onde não tinha maioria) e pretendia ouvir diretamente a população, através de voto livre. Está errado ele? Ou faltou inspiração? 5) Que inspiração teria sido mais cara - a da prorrogação através do Congresso à Fernando Henrique ou em consulta à população como pretendia Zelaya? 6) Por último, quem inspirou o golpe militar hondurenho?

As hipocrisias serrosferatusianas de cada dia


O Ricardo Kotscho é um ótimo observador, lembra de uma reportagem esquecida pela mídia ao ouvir a declaração de José Serra em encontro do PPS ao lado de Roberto Freire, presidente da legenda dos neoliberais ex-comunistas. Disse o governador avampirado:

“O PT usa o governo como se fosse propriedade privada. Quando o PT foi para o governo, incorporou esse patrimonialismo do partido. Em São Paulo, não existe esse loteamento governamental, ao contrário do federal”.

Kotscho, jornalista de boa memória, fotografou a hipocrisia do candidato de dentes afiados:

Não existe? Serra esqueceu-se que estava ao lado do presidente do PPS, Roberto Freire, suplente do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), atualmente ganhando a vida como membro de dois conselhos municipais em São Paulo, embora seja do Recife e more em Brasília.

Ex-candidato a presidente da República, hoje Freire não se elege nem síndico em sua cidade, mas fatura R$ 12 mil por mes para participar de uma reunião mensal e assinar as atas da Emurb (Empresa Municipal de Urbanismo) e da SP-Turismo.

Quem lhe arrumou esta boquinha foi o próprio governador José Serra, em 2005, quando era prefeito de São Paulo. Mantida pelo seu sucessor Gilberto Kassab, a sinecura abriga hoje 58 conselheiros, que custam R$ 4 milhões por ano à Prefeitura.

Quem fez a denúncia, em janeiro deste ano, foi o repórter Fabio Leite, do Jornal da Tarde. Mas, ao contrário do que acontece no plano federal, não mereceu nenhuma repercussão na chamada grande imprensa. Em seu texto, Leite escreveu que esta “bondade administrativa visa acolher aliados e engordar os salários dos secretários municipais”.

Até hoje esta informação não foi desmentida nem se tem notícia de que Roberto Freire, fiel à sua cruzada de paladino da moralidade alheia, tenha aberto mão da bem remunerada boquinha.

domingo, 28 de junho de 2009

Não ao golpe de estado em Honduras


O presidente Manuel Zelaya de Honduras foi afastado hoje de seu cargo em um golpe de estado. O motivo alegado foi a sua proposta de um plebiscito no país sobre mudanças na constituição, que permitiriam a reeleição presidencial. Quer dizer, a proposta, que tem amplo apoio popular, foi impedida de ser levada democraticamente à nação, e o presidente punido, levado para fora do seu país. É apenas mais um golpe de estado durante governo democrático americano.

Zelaya fez o caminho certo, acreditou nos valores democráticos, que seus inimigos fingiam acreditar. Se estivesse do outro lado, compraria deputados, o judiciário, teria a mídia em seu bolso, e teria mudado a lei apenas com o Congresso, tal como feito no Brasil por Fernando Henrique Cardoso.

Segue texto de Laerte Braga:

Golpe é inaceitável – como fica o Brasil?

Laerte Braga


O golpe de estado em Honduras é inaceitável em todos os sentidos. A diplomacia brasileira e o presidente Lula, mais que ninguém, têm que tomar posição dura e clara, inclusive não reconhecimento da barbárie militar, rompendo relações com aquele país até que seja restabelecida a vontade popular.

Não é hora de notas de condenação. É hora de atitudes concretas e efetivas. Não existe conversa de acordo nesses momentos. Existe um presidente eleito seqüestrado por militares encapuzados – típico dos golpistas em qualquer lugar do mundo, inclusive aqui no Brasil – momentos antes do início de uma consulta popular.
Os fóruns internacionais clássicos, Nações Unidas e OEA – Organização dos Estados Americanos – têm a obrigação de reagir e impedir que se consuma um atentado ao processo democrático em Honduras.

Está evidente a intervenção do embaixador dos EUA no processo golpista, denunciada desde quarta-feira quando um general, desses com medalhas de bom comportamento e por saber comer de boca fechada e com garfo e faca, se opôs a uma decisão presidencial, com largo apoio popular, insurgindo-se em nome dos interesses de elites nacionais subordinadas, lógico, como as daqui, aos grandes grupos econômicos e bancos no perverso modelo de globalização segundo a ótica exclusiva dos donos do mundo.

A posição do governo brasileiro não pode limitar-se a uma condenação oficial do golpe. O tamanho, o peso, a importância do Brasil o tornam parte ativa do processo político latino-americano e não se pode permitir que essa região volte a ser palco de golpes de estado desfechado por elites e militares quando têm seus interesses contrariados.

Elites, em qualquer lugar do mundo, são apátridas. Regem-se por lucros e escoram-se na hipocrisia – demonstrada agora – da farsa democrática.

Não têm escrúpulos quando seus “negócios” são contrariados e quase sempre têm os militares como parceiros. Militares se arrogam o privilégio do patriotismo doentio e fanático que na verdade disfarça características de forças da barbárie a serviço dos grandes grupos.

É recente e Lula tem que se lembrar, a defesa que o ex-comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno fez de empresas estrangeiras que atuam ali, criticando índios, trabalhadores sem terra com o pretexto que estavam sendo manipulados por organizações internacionais. Como se a VALE, que patrocina o general, hoje na reserva, em conferências Brasil afora defendendo o “patriotismo” e a Amazônia, fosse nacional.

O discurso é igual em qualquer lugar do mundo entre golpistas.

Não há o que contemporizar. É restabelecer a vontade popular e pronto. Isolar Honduras enquanto estiver submetida a militares golpistas e elites pútridas – como as nossas –. Não há que se falar em congresso e corte suprema, basta tomarmos como exemplo o nosso congresso, a nossa corte suprema. Lembrarmo-nos de Gilmar Mendes. De José Sarney.

E nem há que se falar em “gorilas”. Os gorilas não merecem. São generais golpistas a soldo de empresas, bancos e latifúndios. Consideram o país, nesse arremedo de patriotismo canalha, como propriedade privada.

A ação diplomática, até para evitar que a moda volte a imperar, são várias as tentativas contra os governos de Chávez e Evo Morales. Se prestarmos atenção a cada proposta ou cada decisão do presidente do Paraguai que contraria essas elites aparece alguma figura a dizer-se estuprada ou forçada a sexo com o presidente. Lula deve lembrar-se da campanha de 1989 contra Collor quando foi vítima da mesma prática de chantagem e mentira.

Nem é hora de acreditar na grande mídia – aliás hora nenhuma pode-se acreditar –. Os próprios militares golpistas mostram isso quando cortam os sinais de tevê e rádio das emissoras oficiais e mantêm os sinais da emissoras privadas. São cúmplices.
Há um golpe e repressão brutal e violenta como em todos os golpes.

Não é um golpe só contra o povo hondurenho. É contra todos os povos da América Latina. E a despeito do show do presidente dos EUA, com interferência do embaixador norte-americano em Tegucigalpa. Escorados na representação diplomática dos EUA.
O desafio do governo Lula é mostrar agora que essa época de golpes é coisa do passado e tem que ser sepultada.

Não cabe a militares e nem a banqueiros, empresários e latifundiários decidir os destinos de um povo. Cabe ao próprio povo. E era isso que Zelaya pretendia com o referendo. Ouvir o povo sobre as reformas na constituição de Honduras.

E nem cabe analisar o governo de Zelaya. Essa é uma prerrogativa do povo hondurenho.
É isso que deve ser considerado, nada mais. Esse tem que ser o norte da diplomacia brasileira, do governo brasileiro, do contrário num futuro próximo podemos ser novamente vítimas de “trogloditas” como disse Chávez.

E não vale culpar o presidente do Irã, ou a revolução islâmica e popular naquele país. Os velhos pretextos de golpistas.
“Ou é democracia ou não é”, como dizia Sobral Pinto. “Não existe democracia a brasileira, ou a francesa, democracia não é como peru”.

E quem enche a boca para falar em democracia são eles.

Lula tem o dever de bater de frente com essa corja que mantém intocados privilégios de elites e dos EUA. O chanceler Celso Amorim é um dos maiores da nossa História exatamente por ter a percepção da importância do processo político em curso na América Latina. Tem consciência que o seqüestro do presidente, dos embaixadores de países como a Venezuela, Cuba e Nicarágua por militares/bandidos em Honduras é um crime sem tamanho.

Não se pode deixar esse tipo de criminoso impune de forma alguma. Não importa que Obama seja só um show e que os EUA continuem o mesmo.

O golpe é inaceitável e o Brasil tem o dever, por seu governo, de não aceitar esse tipo de prática dos que se acham donos da vontade popular.


quinta-feira, 25 de junho de 2009

Rufam os tambores da mídia


O editorial do jornal O Globo de 24/06/2009 parece saído de amareladas folhas do nosso passado, em estilo e nos seus propósitos. Ele condensa um arrazoado de valores conservadores contra o atual governo no que toca sua tentativa, ainda tímida, de tentar um contraponto às “verdades “do oligopólio midiático. É uma lição sobre o que pensa um setor que contraria princípios básicos da democracia. Uma demonstração de arbítrio e intolerância, com sérias ameaças. Leiam e reflitam. Segue a “obra” com meus comentários:

Para cooptar
O Globo - 24/06/2009

No primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, o pendor dirigista e intervencionista de grupos que o acompanham levou o governo a tentar uma operação legislativa para limitar o trabalho da imprensa. Vem daí o projeto de lei de criação do Conselho Federal de Jornalismo, um organismo paraestatal destinado a tolher redações. A reação foi grande, o Congresso criticou, e Lula, com acerto, voltou atrás.


Mentira! No primeiro mandato de Lula os barões da mídia correram com seus chapéus na esperança dos habituais empréstimos via BNDES para seus falidos negócios. A torneira fechou, começaram a campanha contra o governo. O Conselho não era proposta do governo, mas dos jornalistas, representados por seus sindicatos e sua federação nacional. Nunca foi objetivo tolher redações, mas assegurar um jornalismo ético, sem desvios de interesses. As empresas teriam assento na entidade, poderiam fazer valer seus votos. A publicidade tem órgão que regula suas atividades, o Conar, ninguém imagina que ele possa tolher as agências. Inclusive, as Organizações Globo a ele recorrem com frequência. Advogados, médicos, engenheiros também têm seus organismos de regulamentação. A reação partiu apenas do próprio oligopólio da mídia que, em feroz campanha em seus veículos, derrubou a proposta em poucos dias, garantindo o jornalismo que conhecemos, marcado pela venalidade.

É do mesmo período a tentativa de controle da produção audiovisual por meio da Ancinav, outra iniciativa frustrada deste grupo.


Mais mentira. A mídia foi porta-voz de uma histérica e desmedida reação contra uma proposta que favorecia a pequena produção artística. O fez por seus interesses cruzados com o velho monopólio do setor cultural, que não desejava colocar em risco seu modelo de negócios. Ganharam as Organizações Globo, linha de frente do combate, temerosa de perda de receita em um novo cenário que favoreceria a cultura brasileira.

Não por coincidência, eram propostas ao estilo bolivariano, projeto autoritário de subjugação da sociedade, de inspiração cubana, exportado por Hugo Chávez para Equador, Bolívia, Paraguai e com influência até na Argentina. Não deu certo no Brasil porque suas instituições democráticas são das mais consolidadas na América Latina.


Neste ponto, o editorial parece ter sido redigido pelo professor Hariovaldo Almeida Prado, tamanho o clichê. Seu autor, certamente, não acha que foi autoritarismo o golpe praticado contra Chávez e seus milhões de votos, com a ajuda da mídia venezuelana e muito provavelmente da CIA.

No segundo mandato, o governo Lula optou por uma estratégia mais sutil, da qual constam uma grande ampliação do leque dos beneficiários das verbas publicitárias do Executivo — a rigor, iniciada já no primeiro mandato —, e uma postura mais agressiva, exemplificada pelo blog da Petrobras, lançado em meio a discursos ornados por chavões, mas cujo objetivo era mesmo atemorizar a imprensa profissional. Mas errou na dose ao quebrar a relação de sigilo entre repórter e fonte. Teve de recuar. Não há nada de ilegal no blog da empresa. Havia um retrocesso no terreno da ética, depois corrigido. Também não parece existir ilegalidade na política de distribuição de verbas publicitárias, com prioridade para veículos da imprensa regional. Os números provam o alcance da estratégia: a Secretaria de Comunicação distribuiu, no ano passado, propaganda oficial entre 5.297 veículos. Em 2003, foram 499. Não é ilegal, mas se trata de indiscutível desvio de verba pública para pequenas empresas de comunicação que tendem a ficar dependentes da propaganda oficial —, ao contrário da imprensa profissional de grandes centros. A coluna do presidente, oferecida a jornais populares, é outra evidência do projeto de cooptação de parte da mídia.


É muito descaramento. As pequenas empresas podem ficar dependentes! É como dar comida aos pobres, eles viciam! Mandem os anúncios para as grandes, elas vivem de outros expedientes, não terão azia e má digestão. Por favor, leiam o excelente texto de Franklin Martins que desnuda este argumento do oligopólio da mídia.

Assim como a montagem de uma rede sindical de comunicações no ABC paulista, sustentada por verbas publicitárias oficiais, visa também a influenciar eleitores. Não há justificativa técnica para a inserção de anúncios neste tipo de veículo.


O absurdo é colossal. O argumento é que permitir a democratização da informação leva ao perigo de influenciar eleitores! Como assim? A grande mídia não influencia? Ou terá em seguida outro discurso sobre sua isenção? Desfaçatez tem limites. Aqui já é crime.

Operações como essas são conhecidas. Getúlio Vargas manejou recursos do Banco do Brasil com o mesmo objetivo. A História mostra que o desfecho é sempre uma conta com vários zeros endereçada ao Tesouro Nacional.


O final é primoroso, como se o velho jornal direitista em algum momento de sua história tenha se preocupado com as contas do Tesouro Nacional, logo ele que tanto se beneficiou com verbas de governos amigos. O que parece é existir uma emblemática ameaça. Lembra, no fundo, que Getúlio enfrentou uma pesada batalha da mídia que resultou em seu suicídio. Está claro o recado. Cabe a nós e ao governo dar a devida atenção ao barulho dos tambores. Eles querem briga.

Fonte da imagem: www.genesullivan.com

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Para não dizer que não falei sobre o dito canudo


Confesso cansado dessa discussão sobre o fim da obrigatoriedade do diploma de jornalismo. Acho triste que uma entidade de classe como a Fenaj tivesse apenas esta defesa como pauta de reivindicações. É patético o chororô de jornalistas e estudantes carpindo pelo finado canudo. Faltaram a aulas sobre trabalho, valor e lucro. Daí, acabo de ler o texto definitivo sobre o fim de tamanho fetiche: o jornalista e professor Wladymir Ungaretti lembra saudoso do tempo em que jornalistas eram intelectuais e de esquerda.

O golpe contra o Irã está em marcha


Notícia da AFP, em inglês:

US lawmakers target Iran gasoline imports

Spurred on by post-election turmoil in Iran, a key committee in the US House of Representatives voted Tuesday to target the Islamic republic's gasoline imports and its domestic energy sector.

The House Appropriations Committee approved by voice vote a measure prohibiting the US Export-Import Bank from helping companies that export gasoline to Iran or support its production at home.
"While students are murdered in the streets of Tehran, we should not use taxpayer money to bolster the Iranian economy," said Republican Representative Mark Kirk, a leading author of the provision.

Because of a lack of domestic refining capacity, oil-rich Iran is dependent on gasoline imports to meet about 40 percent of domestic consumption.

Iran gets most of its gasoline imports from the Swiss firm Vitol, the Swiss/Dutch firm Trafigura, France's Total, the Swiss firm Glencore and British Petroleum, as well as the Indian firm Reliance.

In 2007 and 2008, the US Export-Import Bank approved two separate loan guarantees totaling 900 million dollars to expand the largest refinery owned by Reliance, which provides roughly one-third of Iran?s daily import of gasoline, Kirk's office said.
Kirks' measure was an amendment attached to the annual spending bill to cover the expenses of the US State Department and other US foreign operations, which must clear the House and Senate before being signed into law.

Even before protestors took to the streets of Tehran after the contested Iranian presidential election, lawmakers had targeted the Islamic republic's imports of refined petroleum products and foreign investments in its energy sector to break its defiance of global pressure over its suspect nuclear program.


É o cerco econômico, primeira etapa de um roteiro conhecido contra um país onde os EUA têm interesses. John Perkins era um especialista neste assunto, assim atuou para a NSA, um dos braços do sistema de defesa (ou ataque) do império americano. Hoje, dá sua versão de como a coisa funciona. Vale a pena ver a parte 1 e a parte 2 destes vídeos.

A leitora do blog Maria Luiza manda matéria da Counterpunch que, entre várias informações importantes, lembra que a grande fraude é contestar um resultado que já estava previsto por institutos de pesquisas.

Tudo parece refilmagem. Apenas os atores são outros, ainda mais canastrões.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Era isso, faltava o Gabeira


Vendo as fotos das manifestações pró-Moussavi, com mulheres em elegantes véus, cartazes bem impressos em inglês, em país onde seu povo majoritariamente mal sabe ler em farsi, imaginava já ter visto algo parecido. Hoje, caiu a ficha. Fernando Gabeira escreve artigo na Folha para lembrar que está ali, junto aos protestos contra as eleições no Irã. Nada mais Gabeira, mais Morumbi-Leblon, acreditar que a teocracia iraniana é o mal do momento. A saudita, sócia dos EUA, um mal necessário.

Mas quem entende de políticos brasileiros, suas marketagens, é o Hayle Gadelha, jornalista e publicitário, que já fez muitas campanhas eleitorais, sabe como a coisa funciona e mata a mosca em seu blog:

Gabeira escreve hoje na Folha um artigo (“Pra lá de Teerã”) criticando o Brasil por “não-crítica” ao Irã. Tudo bem, está no papel e no direito dele. Quer embarcar na gritaria geral contra Ahmadinejad, aproveitando a onda onde surfa o seu eleitorado. Com isso, ele marca sua posição anti-Lula e tenta limpar a barra depois do caso das passagens. O engraçado está em sua frase, quase no final, combatendo a política externa brasileira. Diz ele que “alinhar-se aos setores mais conservadores (...) é qualquer coisa pra lá de Teerã”. Logo ele que fala! Na sua campanha para Prefeito do Rio aliou-se ao que há de mais conservador, indo do lacerdismo de César Maia ao polêmico Prefeito Zito, de Caxias. É o caso de se perguntar: que barato é esse, Gabeira?

Foto de Ana Branco, reproduzida do Blog do Gadelha

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Haja coração

Se nossa mídia surtou com a criação do Blog da Petrobras, com a proposta de criação de um conselho de jornalismo, imagine quando chegar ao Brasil o MediaBugs. É o projeto de Scott Rosenberg, um dos fundadores do salon.com, que acaba de ganhar o segundo lugar no Knight News Challenge 2009, da Fundação Knight, que elege e financia projetos de comunicação na área de inovação tecnológica.

O MediaBugs pretende ser um registro de erros da imprensa. Leitores reclamam, as empresas de comunicação são chamadas a responder, tal como em sites de defesa do consumidor. Tudo é apurado, registrado e tornado público, inclusive com um ranking de veículos que mais pisaram na bola.

É..., o futuro reserva muitas emoções para o jornalismo.

Fonte: Tiago Dória

Estava me programando para falar do Irã...


... mas o Kayser disse tudo.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Vende-se


Esta é a capa do Los Angeles Times da última sexta-feira. Venderam a capa para a HBO. É a crise dos jornais nos EUA. Mais, só comercializando a mãe. Como os nossos adoram as novidades de fora, a capa é só o que lhes resta para vender.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

O dia em que os jornais brasileiros acabaram

Gay Talese, o jornalista e escritor americano, é um grande polemista. Acerta e erra, mas sempre com boas reflexões, um ótimo papo. É o que li no Observatório da Imprensa, de entrevista a Veja.

Faz ótimas observações sobre jornalistas e suas fontes:

"Os repórteres que estavam em Washington em 2002 não tinham o ceticismo, o estranhamento necessário. Foram educados nas mesmas escolas que o pessoal do governo. Eles vão às mesmas festas que o pessoal do governo. Seus filhos frequentam as mesmas escolas. Todos nadam na mesma piscina, pertencem ao mesmo clube de golfe, vão aos mesmos coquetéis. São repórteres prontos para acreditar no governo. É assim hoje, e era assim em 2002. Os repórteres estavam prontos para acreditar no governo sem pedir provas, evidências, nada. Por pouco, não acusaram Saddam Hussein de ter patrocinado os atentados de 2001. Eram como um bando de pombos para os quais o governo jogava milho. Os repórteres de hoje cobrem a guerra dentro dos tanques das tropas americanas. É ridículo. Um repórter deve prestar contas ao seu jornal, e não ao coronel que está protegendo a sua vida.


Mas faz uma análise parcial sobre a internet:

"Com as novas tecnologias, e sobretudo com a criação da internet, o público hoje é informado de modo mais estreito, mais direcionado. Na internet, os jovens se informam de modo muito objetivo, no mau sentido. Eles têm uma pergunta na cabeça, vão ao Google, pedem a resposta, e pronto.

(...) Quem lê um jornal impresso lê sobre tudo isso e depois, ao virar a página, lê sobre a mulher do Silvio Berlusconi, depois sobre as chinesas que perderam seus filhos naquele terremoto, depois sobre o desastre do Air France que saiu do Rio para Paris. Enfim, lê histórias que não procurou e, por isso, acaba adquirindo um sentido mais amplo do mundo.

(...) A internet é o fast-food da informação. É feita para quem quer atalho, poupar tempo, conclusões rápidas, prontas e empacotadas.

De fato, é uma grande transformação. E Talese, como tantos, ainda não entendeu o que muda. Antes, um único produto, o nosso jornal escolhido, era lido no café da manhã, em seu cardápio de assuntos selecionados por editores. Hoje, temos uma ampla variedade de fontes, até para as mesmas notícias. Podemos checar a informação, procurar por outras versões. Não temos mais aquela tranquilidade do folhear linear, enquanto a torrada esquentava. A página virou, paciência. Informação agora chega por leitores de feeds, ou em nossa rede social escolhida. Um conhecido no Twitter, ou nem tanto, nos avisa de uma leitura com um link que nos leva a portais noticiosos, blogs, seus comentários. Não é verdade que a internet dificultou acharmos assuntos não procurados. Talvez existam até mesmo mais recursos para tal. Não é raro para algum navegante pela web iniciar uma leitura e viajar por várias, até chegar a algo inesperado. Certamente não é como na calmaria do folhear do antigo diário em papel. Perdemos aqui, ganhamos ali, mudou. Mas a alteração fundamental é que o futuro não mais garante a fidelidade de leitores a um único produto. Perderam os barões da mídia, donos de nosso único “filtro”, expressão recente de Ricardo Gandur, diretor do Estado de S.Paulo.

E para o Brasil há uma data que ficará marcada como emblema da mudança, do fim dos jornais em papel, talvez só percebida para historiadores no futuro: o dia 1º de junho de 2009. Foi quando a Petrobras publicou um anúncio de meia página no jornal O Globo para contestar uma reportagem publicada no jornal um dia antes. Custou quase meio milhão de reais. Poucos dias depois, criou um blog para se defender de várias reportagens publicadas na mídia sobre a empresa, em nítida campanha política. Uma delas, rebatida, acusava a empresa de contratar uma assessoria de comunicação. Custo do contrato? Quase o mesmo que o anúncio publicado em um único dia, apenas para os leitores do Globo.

Entenderão um dia.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Um estranho modo de editar

O jornalista Ricardo Gandur, diretor de conteúdo do Grupo Estado de S. Paulo, diz no Observatório da Imprensa que a sociedade não pode prescindir de edição. Buscar informação de forma direta, na fonte, é um perigo se não existir um “filtro”. Explica: “É o mesmo que desinstitucionalizar a imprensa”.

Gandur e outros acreditam na “instituição imprensa” como um valor da sociedade. Não acreditam que esta sociedade esteja manifestando claramente que há algo condenável nessa instituição: a sua patente parcialidade. Um jornal estrangeiro, o El País, colabora com um bom argumento ao noticiar a criação do Blog da Petrobras e a repercussão por aqui. Segundo o espanhol, nossos jornalões “se adiantaram ao trabalho de uma CPI, apurando possíveis irregularidades da empresa”. Ou seja, o adiantar o trabalho da CPI é pautá-la com factóides. Como é o mecanismo? Luiz Nassif é bem objetivo: “Conta-se uma inverdade, cria-se a marola, depois pouco importa se o fato relatado era mentiroso”.

Um exemplo foi o falso grampo no STF, gritado pela revista Veja. Outro, do momento, antecipando a CPI da petrobras, as matérias para denunciar a operação contábil da estatal, acusada de dar calote no tesouro. O assunto foi berrado por dias, mas respondido com precisão no Fatos e Dados: é recurso normal de engenharia fiscal, está dentro da lei, e é utilizado por várias empresas.

Os jornais e seus patronos na oposição ao atual governo não sabiam? Claro que sabiam, é o que diz matéria de César Felício no Valor de hoje:

Estopim para a criação de uma CPI no Senado, a manobra contábil da Petrobras, que deixou de recolher três meses de contribuições, reforçando seu caixa em R$ 4 bilhões este ano, pode ter sido seguida pela maioria dos grandes contribuintes do País. Um estudo preparado pelo economista José Roberto Afonso, consultor do PSDB, com base em dados coletados no gabinete do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que tem acesso ao Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), detalha a queda na arrecadação tributária federal no primeiro quadrimestre deste ano, que é desproporcional à redução do PIB . Enquanto o Produto Interno Bruto teve uma redução de 1,8% no primeiro trimestre de 2009, em comparação com o mesmo período no ano passado, as receitas federais tiveram uma redução de 7,2% de janeiro a abril, percentual que sobe a 8,7%, caso se retirem as receitas previdenciárias. Em termos absolutos, houve uma perda de R$ 11 bilhões.

(…) Os dados mostram que, mesmo depois da Petrobras encerrar a sua compensação tributária e voltar a recolher as contribuições em abril, a arrecadação federal acelerou a queda: de retração de 4,4% em março para 8,8% em abril, quando comparada com igual mês no ano anterior, o que pode ser um indicativo de que os mecanismos de compensação tributária foram seguidos por outras grandes empresas.


Quer dizer, o PSDB e a imprensa sabiam que várias empresas se protegiam nas mesmas decisões. É o "filtro" de Gandur ajudando com a criação de um factóide para a CPI. E se essa CPI precisa da ajuda da imprensa para “antecipar” seus trabalhos, que tal ir buscar uma reportagem do saudoso Aloysio Biondi, na Folha de S.Paulo, em 6 de fevereiro de 1996:

Um estranho modo de governar

Aloysio Biondi

A equipe FHC vem utilizando com extrema agilidade a "carta branca" que ela própria se deu. Em operação realizada na Bolsa de Valores de São Paulo, o BNDES entregou a seis bancos e corretoras 600 milhões de ações da Petrobrás _sem necessidade de os compradores desembolsarem um tostão. O preço combinado por 0,55% do capital de uma das maiores empresas do mundo foi de R$ 60 milhões, mas para pagamento somente daqui a um ano, com juros de 10% ao ano (extremamente simpáticos), mais a Taxa de Juros de Longo Prazo. Além disso, o BNDES "inovou", mudando totalmente as regras do mercado, e autorizou os "compradores" a revenderem as ações (contratos "a termo") a qualquer momento, sem necessidade de os novos compradores pagarem o débito antes de vencido aquele prazo. Isto é, antes de 12 meses não entrará um tostão nos cofres do BNDES, que, segundo um diretor do banco estatal, aceitou essa condição, "que interessa aos investidores, porque não tem necessidade imediata de fazer caixa". Um argumento estranhável, já que o governo FHC está-se desfazendo de estatais e de ações em poder do BNDES exatamente para levantar recursos e, indiretamente, cobrir o falado "rombo" do setor público. Teoricamente, qualquer interessado poderia ter comprado as ações, pois a venda foi feita por meio de leilão em Bolsa. Mas o respectivo edital comunicando sua realização foi publicado somente dois dias antes do leilão.

Cartas marcadas

Toda a operação foi planejada e articulada por seis bancos e corretoras, que passaram a dispor de 0,55% do capital da Petrobrás, sem pagar nada, à espera da alta dos preços das ações. Graças à concordância do BNDES, vão embolsar lucros que deveriam ser do banco estatal, isto é, da coletividade. O BNDES aceitou até cartas de fiança (de outros bancos) em substituição ao ’’depósito de garantia’’ (margem) de 20%, habituais no mercado.

Manipulação

A operação foi acertada com a direção do BNDES há três meses, mas o leilão somente se realizaria quando as ações da Petrobrás chegassem a R$ 100 (o lote de mil ações) na Bolsa, o que aconteceu nos últimos dias de janeiro. Vale dizer, durante 90 dias somente a direção do BNDES e um punhado de instituições financeiras, seus clientes preferenciais e diretores sabiam que as cotações seriam "puxadas" para chegar aos R$ 100.

Privatização

Reunião do Conselho Nacional de Desestatização, no final de janeiro. Discute-se o roteiro de privatização da Rede Ferroviária Federal. O presidente da empresa aponta que o preço estabelecido para a venda está muito baixo, pois foi calculado há dois anos por uma empresa multinacional de consultoria. O representante do BNDES não contesta, mas alega que "essa revisão atrasaria o leilão em pelo menos três meses", e a rejeita. Um patrimônio de bilhões de reais vai ser vendido a preços reconhecidamente subavaliados?

Autoritarismo

Brechas nas leis do Ministério da Fazenda e do Banco Central alimentam a remessa de dólares e sonegação de impostos. Com essas acusações, a Procuradoria Geral da República e a Receita Federal pediram mudanças na legislação, em outubro. O Banco Central se opôs, e acabou ganhando a disputa. Agora, em entrevista, o diretor da área externa do Banco Central, Gustavo Franco, diz que, por meio de telefonemas a banqueiros, proibiu que eles fizessem aquelas operações. No governo FHC, o Brasil não precisa de leis, como ocorre em qualquer sociedade democrática. Autoritarismo confesso.

Caixa preta

O Ministério Público Federal quer processar o ministro da Fazenda e os diretores do Banco Central por causa do socorro a bancos "quebrados". O ponto básico da acusação é totalmente jurídico: houve desrespeito à lei, que proíbe essa utilização de recursos públicos. Em sua defesa, Malan, Loyolla e equipe dizem que fizeram tudo dentro da lei, isto é, autorizados por um "voto" (de resolução) do Conselho Monetário Nacional. O Ministério Público diz que o que vale é a lei.


Reproduzido de www.aloysiobiondi.com.br.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

terça-feira, 9 de junho de 2009

Editorial: Voltam-se as vistas para o nosso petróleo

No centro do noticiário da criação de uma CPI com propósito estritamente político, visando atuar como palanque para a eleição do candidato da oposição, o jornal O Globo decidiu, de maneira agressiva, antiética, cúmplice e ilegal, tentar acuar a Petrobras pela iniciativa de criação de um blog, que tem por dever de ofício acompanhar com a atenção devida as evidências de manipulação da informação, praticada com persistência por este e outros jornais igualmente comprometidos em interesses de um mesmo oligopólio.

O caminho encontrado pelo diário foi publicar matérias e um fastidioso editorial para acusar, de forma leviana e sem sentido, o blog por quebra de sigilo, criando para a história do jornalismo uma nova norma, onde entrevistados têm o compromisso do silêncio ao serem inquiridos pelo oligopólio da mídia. Tal devaneio não tem respaldo em nenhuma jurisprudência, apenas devemos creditar seu engenho ao desespero de quem foi apanhado em práticas ilícitas.

O indisfarçável objetivo intimidativo da empresa jornalística, como bem interpretaram diversos blogs brasileiros, desrespeita profissionais e atenta contra a liberdade de imprensa, ao violar o direito da sociedade de ser informada, sem limitações. O Globo fere a Constituição.

Corporação poderosa, com tendência histórica para se voltar contra os anseios da sociedade, vide seu apoio irrestrito à ditadura militar, sua tentativa criminosa de fraudar uma eleição, como no caso Proconsult, o Globo se tornou, hoje, apenas um aparelho de propaganda de setores políticos conservadores que desejam retornar ao poder para mais uma vez lapidar o patrimônio da nação e impedir as conquistas sociais do povo brasileiro.

O jornal alega praticar jornalismo ao cometer o erro de tentar calar um simples blog, como se ali não estivesse, acima de tudo, o propósito de dar ao povo brasileiro e aos milhares de acionistas da Petrobras, o outro lado da notícia, tarefa que o jornal infelizmente não cumpre. O Globo erra ao não ser transparente com seus leitores, que deveriam estar informados das motivações de seu despropositado rancor.

Pelo tamanho desta empresa jornalística, que ainda influencia alguns milhares de brasileiros, ela não pode ser instrumento de grupos políticos, não importa de qual figurino ideológico.

O Globo, que perde leitores para inúmeras novas formas de leitura na internet, sem conseguir montar um novo plano de negócios neste novo cenário, deseja transformar a nova concorrência em inimiga. Atitude furiosa que não contempla o entendimento que a democracia e a liberdade de informação estão sendo ampliadas. A blogosfera já atingiu um porte diante do qual as corporações deveriam tratá-la com respeito, sem permitir que antipatias e invejas determinem ações e pesadas palavras. A imprensa corporativa, agora sem qualquer regulação, acalenta, nas entrelinhas desta nova ofensiva, determinar que a internet tenha regras rígidas, impedindo o legítimo direito do cidadão ser ao mesmo tempo receptor e fonte de informação.

O Tribunal de Contas da União (TCU), ligado ao Legislativo, tem amplo acesso a contratos firmados pela administração direta pelos quais o contribuinte financia ONGs e organizações sociais. Na estatal faz o mesmo. Mesmo assim, o jornal faz intriga em aventar a possibilidade de existir alguma irregularidade em contratos que a reportagem ainda não conseguiu apurar.

Outro sinal da transformação do jornal o Globo em mero panfleto da oposição ao atual governo, é o permanente uso em suas reportagens de ilações que buscam colocar a Petrobras como ré em um mar de irregularidades, sem que até agora uma única denúncia tenha sido comprovada. Sugerem apadrinhamento político, caixa dois, irregularidades em licitações e distribuição de royalties, até na política de pessoal há suspeitas, criticando o número de funcionários para a área de comunicação. Nesta tentativa canhestra de condenar antecipadamente a estatal, os erros de apuração nas reportagens são visíveis e grotescos. No último domingo, reportagem do Globo criticou a empresa por ainda “apostar na fracassada mamona”. Recebeu de pronto, no dia seguinte, resposta do blog da Petrobras onde ficam visíveis os equívocos da reportagem, que não entendeu que não há fracasso, apenas uma necessária limitação na composição final do biocombustível. A mamona vai bem e há um amplo projeto com enorme impacto social, envolvendo a agricultura familiar. Se não fosse o Blog da Petrobras, a sociedade não entenderia o fato.

O ataque do jornal O Globo à Petrobras, nova especialidade de uma empresa que deveria estar concentrada em buscar seu lugar em um novo mundo repleto de redes sociais na internet, não deve ser, portanto, um simples desvio organizacional. Longe disso. Tudo parece coerente com um estilo de jornalismo caracterizado por sempre favorecer os interesses dos inimigos do povo brasileiro e o patrimônio da nação, algo que parece ser o mister histórico desta empresa de comunicação.

Nota pessoal do editorialista: Agradeço penhoradamente a inspiração do Professor Hariovaldo Almeida Prado, que muito me socorreu com sua sapiência e as bênçãos de São Serapião. Apenas confesso que não entendi muito bem em nossa conversa se o editorial deveria ser a favor ou contra quem. Mas, acredito ser este apenas um detalhe. Pois, como dizem os respeitados jornalistas Sérgio Leo e Pedro Dória, o fundamental no jornalismo é a técnica. Se quiserem outra versão do mesmo, cliquem aqui.

Olha o disclaimer aí, gente!

E o tal do disclaimer continua enlouquecendo o mundo corporativo da notícia. Agora, nada mais nada menos que a ANJ, a entidade de classe das empresas jornalísticas, criou uma nova e desvirada interpretação da palavra inglesa. Entendo que é novidade, a coisa surgiu por imposição dos departamentos jurídicos das grandes corporações, publicando de forma automática um aviso ao pé dos emails de seus funcionários, com claro objetivo de enquadrá-los por possíveis desvios do uso da comunicação. Mas, há agora ao menos três versões destacadas pela mídia para o mesmo fato.

Vamos a eles:

1) Disse um repórter do Estado de S.Paulo, em pergunta ao Blog da Petrobras, que houve desrespeito ao disposto no disclaimer da Folha, já que havia ali uma proibição de divulgação:

A divulgação do e-mail enviado pela repórter da Folha de São Paulo não é ilegal? Há um disclaimer no fim das mensagens enviadas pelo jornal que diz que qualquer divulgação é proibida. Vocês pediram autorização ao remetente?


O disclaimer da Folha, tal qual do Globo, Estadão entre tantos de empresas jornalísticas, afirma que toda a mensagem é propriedade da empresa e é proibida sua reprodução. Tal afirmação, juridicamente, não tem a menor validade ao ter um destinatário, que passa a ser seu proprietário. Se eu recebo uma carta, ela é minha. Qual lei vai proibir a reprodução das cartas que recebi ao longo da vida? Teria que pedir autorização a cada remetente? E se recebesse perguntas por telefone, poderia divulgá-las por não terem um disclaimer embutido?

2) Já o Globo, segue outra interpretação, ainda mais incoerente. Depois de acusar o blog da Petrobras de vazar informações, acrescenta a denúncia de que a estatal desrespeita o seu próprio disclaimer, que proíbe a reprodução. Diz:

Além de violar o sigilo dos órgãos de imprensa, a prática da Petrobras ignora regras estabelecidas pela própria estatal em sua comunicação com terceiros. Os e-mails enviados pela estatal contêm uma mensagem de rodapé, em três idiomas, que ameaça processar os destinatários que não derem "tratamento adequado" às informações.


Digamos que a viagem global foi longe. Segundo o jornal, a Petrobras desrespeita a norma que ela mesma criou para impedir que suas informações estratégicas sejam divulgadas por algum funcionário. O disclaimer da Petrobras é claro em seus objetivos, diz: "Sem a devida autorização, a divulgação, a reprodução, a distribuição ou qualquer outra ação em desconformidade com as normas internas do Sistema Petrobras são proibidas e passíveis de sanção disciplinar, cível e criminal". Quer dizer, haverá sanção disciplinar e criminal se algum funcionário desrespeitar apenas as normas internas da empresa. Será que o Globo quer dizer que a Petrobras tem que punir a própria Petrobras? Será que leram o disclaimer? Custo a acreditar que não tenham entendido.

3) Já a ANJ, ao mesmo disclaimer da Petrobras, deu interpretação pra lá de Bagdá. Em texto assinado por Júlio César Mesquita, vice-presidente da entidade, depois de pesadas acusações a estatal, diz que o disclaimer da Petrobras é uma intimidação aos jornalistas. Diz:

Como se não bastasse essa prática contrária aos princípios universais de liberdade de imprensa, os e-mails de resposta da assessoria incluem ameaças de processo no caso de suas informações não receberem um “tratamento adequado”.


Como? Onde? E tem mais:

Tal advertência intimidatória, mais que um desrespeito aos profissionais de imprensa, configura uma violação do direito da sociedade a ser livremente informada, pois evidencia uma política de comunicação que visa a tutelar a opinião pública, negando-se ao democrático escrutínio de seus atos.


Caro Sr. Mesquita, foi de seu entendimento que o disclaimer da Petrobras é endereçado aos jornalistas? Ah, é brincadeira sua, né? Só pode. Violação do direito da sociedade? Tutelar a opinião pública? Negando-se ao escrutínio de seus atos?

Sr. Mesquita, o blog da Petrobras divulga para a sociedade sua versão dos fatos. Mostra o que foi perguntado à empresa, o que ela respondeu, e o que possivelmente foi publicado, replicando quando necessário. A empresa nega-se ao escrutínio? Violar o direito da sociedade é desrespeitar as leis brasileiras, não as criadas por empresas, sem validade legal.

Diz a maior delas, a Constituição Brasileira, em seu capítulo V, art. 220:

A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.


É o que esta sociedade, na qual estou incluso, deseja. Por esta lei, lutaremos. Antes de se confundir em argumentos, errando em simples interpretação de texto, sugiro que leia atentamente a mesma Constituição. Entenderá o motivo que hoje nos leva a ler menos jornais e mais blogs. Sugiro, para começar, a leitura do mesmo artigo citado de nossa Lei Máxima, em seu parágrafo 5º:

Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio.


domingo, 7 de junho de 2009

O samba do vazamento doido

Como esperado, o desespero tomou conta da mídia demo-tucana após a criação de um simples blog pela Petrobras. O motivo é óbvio: a estatal desnuda a prática sistemática da imprensa em distorcer em comprometidas edições o que foi apurado por seus jornalistas. Bastou para a reação violenta. Em impensado texto, o Globo tenta investir contra o blog, com o parvo argumento de que há uma caracterização de vazamento de informação. É a tese primeira, surgiu no susto, fruto de questionamento do Estadão, mas que o Globo não entendeu. Argumentou o vetusto diário paulista que a Petrobras desrespeitou o “disclaimer” ao fim dos emails da Folha (pois é, em tese seu concorrente), que impede a reprodução de seu conteúdo. Esqueceram que tal texto, padrão hoje no mundo corporativo, caracteriza apenas que os emails são de propriedade da empresa. Visa enquadrar juridicamente seus funcionários por possíveis outros usos. Erra o Estadão em imaginar que ao enviar perguntas por email elas não podem ser reveladas. Que mundo é esse? Por telefone o mesmo conteúdo seria livre? Aula de direito para estes jornalistas, por favor.

Já o Globo, viajou bonito. Não entendeu o parceiro. Diz em texto que “os emails enviados pela estatal contêm uma mensagem de rodapé, em três idiomas, que ameaça processar os destinatários que não derem tratamento adequado às informações”. Como assim? Que mensagens da Petrobras estão sendo reveladas? As respostas, por email? Citam que no disclaimer da Petrobras está dito que as mensagens são proibidas de reprodução por normas internas da empresa...

Para, para, para... Assim vai ficar muito fácil. Vamos combinar o seguinte: Globo, Folha e Estadão, marquem uma reunião, tracem uma estratégia, uma defesa que faça sentido, continuem no jogo. Daremos tempo. Queremos a briga, ela é boa. Ganhar assim fica muito fácil. Por aí não vai dar. Consultem seus departamentos jurídicos. Não queremos, já, usar a frase:

Perderam, playboys!

sábado, 6 de junho de 2009

No meu Google Reader, antes de correção do Globo Online.


Sentar em um acento periga ser agudo descuido. Assentemos todos: a mídia corporativa desce a ladeira em acentuado declive. E, assertivamente, ainda falam mal dos blogs...

Abriram as portas das fábricas de salsichas

Obrigado ao meu leitor anônimo que deu a dica. A criação do blog da Petrobras é uma das melhores ações de comunicação recentes. No momento que a mídia parte orquestrada para cima da Petrobras, em mais uma tática demo-tucana, a resposta imediata da empresa a cada erro ou desvio de informação publicado é contraponto dos mais necessários e até aqui inexistente. É o que de melhor estamos conquistando com a blogosfera, o cidadão comum tendo acesso à informação sem intermediários. Tarefa que a grande mídia imaginava ser apenas sua. Não é. Ela é parcial e tem interesses específicos na apuração dos fatos, distantes do objetivo de dar aos seus leitores a chance de ouvir o outro lado.

A novidade já causa frisson nas redações, podemos perceber pelas perguntas que os jornais o Globo e o Estado de S.Paulo fizeram sobre a criação do blog. Este último, em nome do cartel, chega a tomar as dores da Folha de S.Paulo, com o patético argumento que o disclaimer no email enviado com as perguntas do “concorrente” proíbe reprodução. Não, não há reprodução de emails. O que o blog faz, para a grande dor de cabeça da mídia, é divulgar perguntas, respostas da empresa e matérias publicadas. O horror para os que até aqui podiam distorcer na edição cada apuração. Terão agora o contraponto da Petrobras e o acompanhamento das notícias por muitos.

Bola dentro. Já sou leitor diário.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

O retorno

Amigos,

estou de volta depois de algumas semanas distante de notícias, ainda com malas por abrir. Há muito para comentar, pelo ainda pouco que estou tomando conhecimento em meu retorno.

A oposição sem rumo apostou em uma tática do velho FH, que ouviu passarinho cantar sem entender direito o som. Resultado: a coisa ficou torta para o lado deles nesta CPI da Petrobras, com o risco de tiro pela culatra, o próprio ex-governo tucano pode sair ainda mais chamuscado ao final. Arrisco um nome para ela: a “CPI da barata voa”.

O cúmplice O Globo, tentando fazer seu papel de agência tucana, tomou uma piaba de anúncio de Petrobras publicado no próprio jornal. Desnudaram ponto a ponto reporcagem de um dia antes. A resposta do jornal foi pífia, em discreta nota. Devem ter gostado do feito. Afinal, me conta uma fonte do mercado publicitário, o espaço custou quase meio milhão. É esse o nó dos donos da mídia em papel. Ganham em um dia essa grana e não tem como cobrar o mesmo na internet em meses. O ralo está ficando perto.

E tem tucano empurrando Lula para o terceiro mandato. Que coisa... E ainda falam mal do bolsa-família mas querem ser o pai da criança. No desespero, enlouqueceram!

Vejo boas discussões sobre a imprensa, seu papel.

E no triste acidente aéreo, a imprensa demonstra que seu negócio é mesmo showrnalismo. Tragédia e mistério e tudo que desejam. No meio, vão tentar arrumar um jeito de envolver o governo no acidente. Esse pessoal de propaganda vende qualquer idéia.

Aos poucos volto com melhores observações. Uma dúvida, pergunto a vocês, qual o canalha que está melhor merecendo subir ao pódio, ali no logo do blog?