sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

“Vergonha para vós! Vergonha para Israel!”

Li os vários comentários no blog da Cora Rónai sobre o texto de sua última coluna no Globo. Há excelentes análises, que denunciam as várias contradições da jornalista em seu perverso e confuso raciocínio. Mas, pouco da polêmica ali se pode imaginar resolvida apenas pela lógica. Como contrapor a insanidade de quem chega ao cúmulo de criticar a mídia como patrocinadora de propaganda pró-Palestina? Ou a soberba dos que se acham o “povo escolhido”, que creditam toda a crítica ao antissemitismo de uma sociedade inculta. Estava refletindo quando li hoje a carta de André Nouschi ao embaixador de Israel na França, datada em 3 de janeiro e traduzida agora no Resistir. Nouschi é judeu, historiador renomado, tem 86 anos e combateu o nazismo na segunda grande guerra. Nada como uma boa esculachada de quem detêm verdadeiramente o saber:


Carta ao embaixador de Israel em França

por André Nouschi [*]

3 de Janeiro de 2009


Senhor Embaixador:

Para vós é shabat, que devia ser um dia de paz mas que é o da guerra. Para mim, e desde há vários anos, a colonização e o roubo israelense das terras palestinas exaspera-me. Escrevo-vos pois a vários títulos, como francês, como judeu de nascimento e como artesão dos acordos entre a Universidade de Nice e a de Haifa.

Não é mais possível calar diante da política de assassinatos e de expansão imperialista de Israel. Vós vos conduzis exactamente como Hitler se conduziu na Europa com a Áustria, a Checoslováquia. Desprezais as resoluções da ONU tal como ele as da Sociedade das Nações e assassinais impunemente mulheres e crianças; não invoqueis os atentados, a Intifada. Tudo isso resulta da colonização ILEGÍTIMA e ILEGAL. QUE É UM ROUBO.

Vós vos conduzis como ladrões de terras e virais as costas às regras da moral judia.

Vergonha para vós: Vergonha para Israel! Cavais a vossa tumba sem vos dar conta. Pois estais condenados a viver com os palestinos e os estados árabes. Se vos falta esta inteligência política, então sois indigno de fazer política e vossos dirigentes deveriam ir para a reforma. Um país que assassina Rabin, que glorifica seu assassino, é um país sem moral e sem honra.

Que o céu e que o vosso Deus leve à morte Sharon o assassino. Haveis sofrido uma derrota no Líbano em 2006. Sofrereis outras, espero, e enviais à morte os jovens israelenses porque não tendes a coragem de fazer a paz.

Como os judeus que tanto sofreram podem imitar os seus carrascos hitlerianos? Para mim, desde 1975, a colonização recorda-me velhas lembranças, aquelas do hitlerismo. Não vejo diferença entre vossos dirigentes e os da Alemanha nazi.

Pessoalmente, vou combater-vos com todas as minhas forças como o fiz entre 1938 e 1945 até que a justiça dos homens destruísse o hitlerismo que está no coração do vosso país. Vergonha a Israel. Espero que o vosso Deus lançará contra os seus dirigentes a vingança que eles merecem. Tenho vergonha como judeu, antigo combatente da II Guerra Mundial, por vós. Que o vosso Deus vos maldiga até o fim dos séculos! Espero que sejais punidos.

André Nouschi
Professor honorário da Universidade.

[*] Historiador, 86 anos, originário de Constantine (Argélia). Foi combatente da France Libre e é autor de um livro sobre o nível de vida das populações rurais de Constantine durante o período colonial até 1919 (PUF, 1961). Este livro foi saudado na altura pelo ministro do Governo Provisório da República Argelina (GPRA) e historiador argelino Ahmed Tafiq al-Madanî como "a gota de água que se oferece ao viajante após a travessia do deserto". Foi professor na Universidade de Tunis e é professor honorário da Universidade de Nice. Algumas obras de André Nouschi .


6 comentários:

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Jurandir,

Entrei no site da Cora através do seu link mas não tive paciência de ler muitos comentários. Deixei lá um comentário infeliz e saí. Saí puto.

Fiquei, na verdade, angustiado. É que fixei na mente o auto-engano de que opiniões com essa são de poucas pessoas, como ela e a Renata Malke. Ao entrar no site e ver a quantidade de pessoas que expressaram votos de parabéns a ela, fiquei enojado.

Na verdade, esse tipo de coisa só reforça a minha falta de fé na raça humana. Só reforçam meu pessimismo em relação ao mundo.

Carlinhos Medeiros disse...

Deplorável!

Anônimo disse...

Parabenizo-o pela feliz colocação da carta de André Nouschi.
Branca.

Daniel Pearl Bezerra disse...

BLOG DA DILMA PRESIDENTE
Expressão de Liberdade versus Libertinagem do PIG. Francisco Antônio de Andrade Filho.
É possível descobrir a relação entre ética, liberdade e libertinagem na cibercultura dos dias de hoje? Como ela manifesta a conexão do homem e da mulher com sua própria essência, que é a aspiração a liberdade? Seria ética a postura de indignação e de repulsa dos construtores da Democracia contra a tirania da libertinagem do PIG. Esse Partido cria terror e insegurança em nossa querida Pátria. Nada tem sido tão discutido na “Aldeia Global”, e de modo polêmico, quanto a relação entre a pluralidade de éticas, das quais não se excluem, nem os valores de liberdade, nem os malefícios da libertinagem nos espaços de comunicação dos Blogs. Em homenagem ao sucesso do Governo do PRESIDENTE LULA e na forte esperança da DILMA PRESIDENTE 2010, eu crio e reproduzo este momento de meditação, a seguir.
Os blogs criam um novo mundo, um ambiente mental, afetivo e comportamental bem diferente que as gerações passadas: estreitando relacionamento entre pessoas, povos e culturas, fontes de esperanças para todos. É a liberdade de imprensa, poder com ética. Desabafo Brasil. Dilma 13 – Presidente 2010, uma expressão de liberdade, com ética e em diálogo com a “mídia livre e independente”. De outro, blogs do PIG demotucanos, de modo negativo, atingem a vida do cidadão – a educação em todos os níveis: massificação de uma cultura superficial, violenta, sem ética e imposta pela “mídia”, um novo tempo de perversidade –, a do desrespeito à vida e aos direitos humanos. É a libertinagem do PIG, poder da era digital sem ética. Podres poderes, violentos, mentirosos e nojentos, que atendem apenas aos interesses do mundo econômico: degradação da natureza e aniquilação da vida social – e os interesses da vida humana. Tanto aqueles quanto esses, devem a liberdade de expressão a essa mulher: Dilma Rousseff.
E com Platão, medito e provoco um debate.. Segundo ele, a liberdade num Estado democrático, é “o mais belo de todos os bens”. Como entender, nos dias de hoje, os poderes políticos nacionais e internacionais que, em nome da Democracia, cometem tiranias, massacrando os cidadãos de seu país e de outras nações? E as “tiranias” contra os que “abusam da liberdade”? Como a liberdade poderia levar também à “tirania”? Seria para colocar limites no uso abusivo da mesma liberdade? Respondo com Baruch de Espinosa (1632-1677) em suas conhecidas obras clássicas intituladas: a Ética (1660) e o Tratado Teológico-Político (1670). Recordo-me do seu conceito de liberdade como uma expressão ética no plano noético e dos atos, o de que “ Deus ou Natureza “ (Deus sive Natura) "é causa livre de todas as coisas (...) nos concede um intelecto determinado e uma vontade indeterminada". Liberdade, aqui, não significa neutralidade face ao erro e ao mal, à falsidade e à falta de solidariedade.
Quando conhecemos “Deus sive Natura” e todas as verdades, somos livres, menos quando falam em nós as paixões, sobretudo a de mando sobre nossos semelhantes. Podemos ter alguma base para a nossa força livre sem imposição sobre os demais corpos e mentes.Na própria essência divina, existe o alento para a nossa vida. Escreve ele: "basta-nos saber que somos livres e podemos sê-lo; sem oposição alguma que venha do querer divino, que, de outro lado, somos causa do mal" - neste sentido de que nenhum ato poderia ser chamado mal, salvo do ponto de vista de nossa liberdade.
Existe, hoje, o Partido da Imprensa Golpista – PIG, a violência simbólica do poder político. Pior ainda, em nome de uma política minoritária, quer de partidos, quer da imprensa, falada, escrita e virtual, em todas as suas cores; - quer de poderes legislativos e judiciários -, procura expor os membros de um coletivo à conformação de suas palavras aos desejos de mando e de jugo de uns pelos outros. Infelizmente, nos dias de ontem contra Espinosa, e de hoje, contra outros pensadores críticos e inovadores, aqueles poderes podres encobrem o domínio das mentes e corpos finitos, no dito do filósofo, "transformam homens racionais em animais ou em autômatos", interessados em troca de favores pessoais.
É o massacre da liberdade humana em troca de prestígio material e de poder na tentativa de destruir a soberania popular – encarnada em LULA -, e na defesa das tribunas do PIG e de alguns setores privilegiados. E tudo isso, nas Tribunas e nas Cortes, "em nome de Deus". E haja paciência de outros deuses, finitos e autoritários. Acesse~o blog Oficial dos Amigos e Amigas da Dilma Rousseff: O BLOG DILMA 13 PRESIDENTE:
http://dilma13.blogspot.com/

Anônimo disse...

Daniel, que barafunda meu!
Cheirou e comeu a lata!!!
Alonso.

Anônimo disse...

Enterrado Vivo
Eva Bartlett , Gaza ocupada, Live from Palestine, 5 fevereiro 2009

Abu Qusay enterrado nos destroços.
"Isto aqui, foi no começo, quando eles começaram a cavar para tirar os corpos dos destroços”, disse Abu Qusay referindo-se a uma foto de si mesmo enterrado até os ombros nos escombros, com sua face totalmente ensangüentada. Algumas semanas depois de ter sido enterrado vivo pelo bombardeio sobre o prédio onde ele estava, incrivelmente exibia somente uma cicatriz na testa, atestando seu sofrimento.
Abu Qusay tem 30 e poucos anos, é pai de seis crianças entre quatro e 15 anos de idade e é policial e segurança particular, há 14 anos. Ele sobreviveu aos primeiros ataques durante os quais 60 aeronaves de guerra israelenses miraram e bombardearam simultaneamente 100 delegacias de polícia, escolas, escritórios do governo e outros locais em toda a Gaza.
"Estávamos em reunião. Éramos 15 e estávamos no terceiro andar, eram onze da manhã. Eu estava perto do gerente, que estava falando quando a primeira bomba nos atingiu. Um F-16 voou baixo, com muito barulho”. Ele continua com ar tenso. “A explosão propriamente dita, foi estranha, diferente das outras explosões que conhecemos, eu senti uma pressão imensa do ar que me jogou no chão, e ouvi a explosão dos prédios vizinhos, a sensação era tão estranha, eu não sei o que era”.
"Tentei abrir os olhos e não consegui, a poeira era tão densa que me cegava. Senti algo correndo pelo rosto, e tentei muitas vezes abrir os olhos sem conseguir. Quando finalmente consegui, não enxergava nada. Só um ponto de luz, parecia que eu estava na frente de uma parede com um pequeno orifício. Senti o pé de alguém na minha cabeça e eu estava muito desorientado, tentei empurrar o pé da pessoa mas descobri que meus braços estavam presos atrás de mim. Aí entendi que o líquido no meu rosto era sangue”. "Foi quando comecei a ouvir os gritos das pessoas à minha volta e a voz de alguém pedindo que fossemos pacientes”.
"Ai senti o peso movendo-se à minha volta e entendi que estavam me tirando de onde eu estava: enterrado nos blocos de concreto do prédio. O terceiro piso agora era o chão do edifício, os três andares foram totalmente demolidos. Perdi então os sentidos.” "Acordei no hospital de al-Shifa. À minha volta, em todo lugar haviam corpos e mais corpos. Cadáveres e feridos espalhados no chão da emergência. Tantos, tantos, demais para as poucas camas. Pessoas com pernas e braços amputados. Pessoas com horrendas feridas abertas. Era mesmo surreal. Eu estava em uma reunião, fui enterrado pelos escombros e agora havia toda esta morte à minha volta. Sem aviso. Eu não conseguia entender nada. Eu estava me sentindo perdido. Mas esqueci da dor que eu sentia quando vi um garoto que freqüentava a escola perto de Montada. A cabeça dele estava rasgada de feridas. Eu levantei, comecei a andar e olhar o que havia. Não conseguir parar. Os médicos mandavam que eu sentasse, ficasse quieto. Eles diziam, o que você vai fazer, onde vai, você está ferido”.
"Quando se vive em Gaza, espera-se qualquer coisa dos israelenses. Qualquer tipo de ataque. Já tivemos muitas invasões e bombardeios. Mas ainda assim eu não conseguia acreditar no que eu via. Na proporção do que eles tinham feito. E veja, eu ainda não sabia nada sobre os outros lugares em Gaza

No que Abu conta sua história mais F-16s sobrevoam roncando.

"Eu sabia dirigir ambulâncias. Eu aprendi porque senti que era muito importante aprender várias coisas. Mas no tempo em que eu fazia isso, nunca vi nada tão horrível como vi no ataque de Israel perto deste natal agora. São outros tipos de armas de ataque. Monstruosamente mutiladoras. Jamais vi tantas amputações e tantas decapitações.” "Não conseguia esquecer aquela criança da escola. Haviam “terroristas” na escola que foi atacada? O que é que aquela pobre criança fez? Eu sou policial, certo, para manter a ordem na cidade, certo, será que isto aconteceria no Canadá, na Inglaterra? Como é que os israelenses podem ser tão criminosos que bombardeiam áreas onde só há civis, crianças vindo da escola? Quem são os terroristas senão aqueles que arrancam com as bombas árvores e destroem casas totalmente – um massacre contra nós – sem provocação, isso sim é um horrível terrorismo.”
Abu Qusay é claramente um dos sortudos porque sobreviveu ao ataque com todos os seus membros intactos. Mas perdeu muitos amigos, pense o que é perder mais de dez conhecidos e amigos ou como a família Samouni em que morreram 48 parentes. Não consigo imaginar coisa mais horrível.
Eva Bartlett is a Canadian human rights advocate and freelancer who spent eight months in 2007 living in West Bank communities and four months in Cairo and at the Rafah crossing. She is currently based in the Gaza Strip after having arrived with the third Free Gaza Movement boat in November. She has been working with the International Solidarity Movement in Gaza, accompanying ambulances while witnessing and documenting the ongoing Israeli air strikes and ground invasion of the Gaza Strip. – www.electronicintifada.net