A colunista do jornal Globo, Cora Rónai, dedica sua coluna de hoje a tentar uma defesa a sua colega Renata Malkes, que teve seu passado de fervorosa militante sionista revelado pelo blog Cloaca News, no último dia 7. Mas, de forma envergonhada, em nenhum momento cita a companheira de empresa. O que faz é destilar ódio racista para com palestinos, reafirmar a supremacia de Israel e denunciar a internet como um antro de irracionalidade, onde nada pode ser dito a favor de Israel.
Um dos raciocínios da colunista é o de que Israel sofre um problema de marketing. As imagens de uma criança morta são sempre mais impactantes do que as de crianças israelenses escondidas em um abrigo. A isto se deve a “singular percepção de um povo intrinsecamente mau e sanguinário”, escreve.
Mas, de tudo o mais chocante e explícito é a frase:
“Por ser um país desenvolvido cercado de vizinhos em diferentes estágios de “civilização”, Israel paga, guardadas as devidas proporções, o preço que a classe média paga, no Brasil, em relação às comunidades carentes”
Em uma única frase há toda uma clara manifestação racista contra os palestinos, segundo ela ainda não civilizados, e contra os favelados brasileiros, mal comparando as duas realidades, completamente distintas, as unindo em um mesmo ódio de classe.
Goebbels bateria palmas.
Atualizando: Li muitos comentários interessantes no site da Cora Rónai, contestando suas opiniões sionistas. Um recado: não há uma guerra de interpretação de fatos, como alguns comentaristas aqui e ali manifestaram, ela é estritamente ideológica. Parem de chamar de burros os que não entendem que “os judeus são o povo escolhido”. Há uma profusão de análises sobre o que acontece na Palestina, de gente séria, que estuda de verdade a História. É o único lucro que vejo no meio de tantas perdas neste genocídio. Quero sugerir a ótima leitura do Rafael Galvão sobre o tema.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
Os protocolos da “sábia” Cora Rónai
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17 comentários:
pois a colunista eh mesmo nojentinha, rapaz.
Nao acredito que ela tenha ido alguma vez a Israel e visto um povo amedrontado. Nao sao pessoas amedrontadas, embora os tolos de lah queiram que isto aconteca.
E os de ca e de outros cantos tambem.
Paz e bom humor, mano
Também li o artigo. Nunca achei a Cora Ronai brilhante como colunista, o único assunto que ela aborda e eu curto é gato, mas também nunca a considerei uma escrota.
Um artigo horroroso, com o unico objetivo de legitimar o perfil político do jornal: totalmente de direita, conservador e reacionário. E ainda dizem que hoje não existe mais direita e esquerda. No ambito da politica partidárias esses limites podem estár meio fluidos, entretanto, no que diz respeito as idéias, ainda é possivel distinguir muito bem a diferença entre um pensamento e outro.
P.S.: e essa comparação entre classe média carioca e israelenses é estapafúrdia!
Por outro lado, uma coisa me deixa muito satisfeita nesse artigo: a preocupação com o espaço que os blogs estão ocupando junto ao público. Como os jornalistas se sentem incomodados...rsrsrs...
Eu também li a Cora Ronai hoje.. Escroto até não poder mais!
Fascista e preconceituosa em relação aos palestinos e aos moradores de favelas. E ainda ecoou aquela velha tática da imprensa sionista: Chamar todo mundo que discorda de Israel de anti-semita.
Pra piorar, ela ainda fez coro com o ministro israelense, o tal que disse que as crianças palestinas morrem mais porque os isralenses cuida melhor de suas crianças.
Ridículo.
Agora é entrar no blog dela e abrir o verbo:
cora.blogspot.com
Além de racista, a colunista mostra uma ignorância quase cômica, se não fosse tão trágica. Dizer que Hollywood é contra Israel e judeus? A mídia em geral?! Mas heeein? A academia? Do que ela está falando? Acho mesmo que ela se incomodou com o que tem lido em blogs e resolveu, logo ela, atacar com esse papo de "esquerdas antissemitas" (sem o hífen mesmo). Eu poucas vezes li um texto tão lamentável, preconceituoso e vai, evolucionista! Ela defende uma idéia de civilização, de desenvolvimento, que faria corar até um positivista mais *esclarecido*. Melhor ela falar de gatos.
Goebbels de calcinhas?
Kelly, que comentário triste. Você já foi alfabetizada? Seu comentário dá indícios de que não saiba ainda ler.
Jurandir, com todo o respeito, você não somente não conseguiu compreender como ainda vai precisar de um bom banho, posto que, na intenção de caçar fantasmas, simplesmente "viajou na maionese", algo pouco recomendável a um senhor de sua idade. Como dizem as crianças: "menos, Jurandir... menos..."
Deve ser o Jânio Quadros que se materializou. Só pode ser.
jurandir:
a moça é uma autêntica bobinha da classe média.reacionarismo aí é
consequência.
um abraço.
romério
A Cora esta de parabens com este artigo.Tentando explicar uma situacao nao entendida por muitos, foi clara e objetiva. Pena mesmo, que tenha quue ler o que este punhado de desinformados escreveu!!! Vao ler e se informar!! bitolados que so ouvem e acreditam no que querem!!! Mas o que a gente pode esperar? Sao estas mesmas pessoas que nao levantam um dedo para exigir das autoridades um fim na situacao de caos e violencia que atinge a cidade!! So sabem botar licao de moral nos outros, ao igual que o proprio PT que criticou o estado de Israel, nem sabe a metade do que acontece por la, nao sabem o que e soberania, nem protecao, e no lugar de olhar para o proprio rabo, vao olhar o do vizinho. O Hammas!!! grupo terrorista sim, que originou o conflito com a utopia de uma desocupacao do estado da Palestina? Nao se importam nem com a morte dos seus proprios irmaos, respondem que o sangue das mulheres e criancas e uma honra para Ala!! Perguntados pq continuam com esa guerra hipocrita, em quanto estao sentados confortavelmente na Siria, armando eses loucos, respondem dizendo que como lideres tem que ficar por la!! Covardes!!
Senhora Cora, cumpriu com o seu dever, que e o de informar, e pode ter certeza que, pessoas inteligentes conseguiram entender o seu recado. Parabens novamente!!
Jurandir, fui lá solapá-la só depois de ler o seu post. Abraços.
Lamentável!
A Cora até parecia uma pessoa culta, inteligente.
Mas é só mostrar as garras do preconceito e da discriminação que a gente vê que é rasteira, como os algozes do povo palestino.
Como os escravagistas que mutilaram nações.
Triste!
Adorei ter um *detrator* da categoria do Jânio. Se um carinha como ele está contra o que o Jurandir escreveu e eu comentei, e favorável à Cora, quero e MUITO estar em campo contrário.
Vocês não sabem o pior. Ela caiu de pau no pessoal que postou comentários agressivos no blog. Teve gente xingando ela de filha da puta e até ameaçando. Ela disse que ia bloquear, deletar, processar, fazer e acontecer.
Tudo bem, respondi eu. Mas lembrei a ela que um montão de gente, da forma mais educada possível, questionou o texto dela com argumentos bem fundamentados e etc. E perguntei o que ela tinha pra responder a essas pessoas, afinal foi ela que começou a polêmica. Sabe o que ela disse?
Que não começou debate nenhum, que apenas colocou a opinião dela e pronto. Ao que parece, ela vê a opinião dela como palavra final e definitiva.
Aí eu vi que com gente assim não tem jeito.
Toda as famílias tem uma história para contar; estou contando algumas aqui
Eva Bartlett da Faixa de Gaza invadida, Live from Palestine, 30 de janeiro 2009
História de uma família
Destruição em Izbet Abed Rabu.
Há muitas histórias. Cada relato – ou seja cada parente assassinado, cada pessoa atingida, cada pessoa queimada, cada casa incendiada e destruída, cada janela estilhaçada, cozinha demolida, pecados de roupa, quartos revirados, balas e bombas, buracos de granadas nas paredes, pichação agressiva dos soldados israelenses – é importante.
Vou começar contando as histórias de Ezbet Abbed Rabu, Jabaliya, onde as casas perto da estrada para o norte foram invadidas por balas, bombas e ou soldados. Quando não eram destruídas eram ocupadas ou trancadas. Ou invadidas e depois destruídas. O exército israelense é criativo quando quer destruir, quando quer descaracterizar a propriedade, quando quer insultar. Fica-se imaginando o que ouvem quando recebem ordens de destruir e matar. Criativos no modo como defecavam nos quartos e colocavam as fezes nos armários e em outros locais. Na verdade, pensando bem a criatividade não era tão ampla. O resto era a rotina de sempre, saquear a casa do começo ao fim. Revirar e quebrar todos os armários, prateleiras da cozinha, televisão, computador, esquadrias das janelas e tanques de água. Bem treinados e bem mandados eles são.
A primeira casa que visitei foi a de uns amigos muito queridos com quem eu havia passado a tarde anterior à invasão, e com quem me escondi no porão quando os mísseis começaram a pulverizar a área. Eu estive preocupada o tempo todo com o pai. Depois, vendo que ele ainda estava vivo, comecei a olhar os detalhes. O porão foi o cômodo menos afetado: estava desarrumado, pilhas de terra perto das janelas por onde tinham entrado pelo efeito das bombas que escavou a colina atrás da casa, os colchões estavam revirados e as coisas espalhadas. Este era o lugar mais arrumado e menos danificado.
Os outros andares, desastre completo. Fezes dos israelenses espalhadas no cão. Tudo quebrado. Latas dos alimentos dos israelenses jogadas em todo o chão, buracos de balas nas paredes e fedor.
Nos quartos das crianças, muito mais desordem e o fedor muito mais intenso. Aqui ficou sendo a base principal dos soldados, como se podia facilmente ver, caixas de alimentos, comida pré-cozida, macarrão, latas de chocolate e sanduíches empacotados – e as roupas que deixaram para trás. Calças de soldados no banheiro, totalmente borradas. Sim, cheias de fezes.
Minha amiga me diz: "O cheiro era horrível. A comida estava espalhada em todos os lugares, azeda. Dando ânsia de vômito. Eles defecaram nas pias, em todos os lugares. Espalharam nossas roupas por tudo quanto era chão. A última vez que invadiram em março de 2008 foi fácil, eles quebraram tudo e consertamos tudo. Mas desta vez eles evacuaram em tudo, nos armários, mas camas – minha cama está cheia de fezes israelenses. Nojento!"
Ela é forte e já lidou com invasões antes, mas perante o desrespeito à sua casa, sente-se deprimida.
"Há um minuto atrás, Sabreen abriu o guarda roupa dela e havia uma tigela de fezes lá dentro. Eles quebraram a porta do banheiro e a colocaram em nosso quarto não sei porquê."
A porta está caída de lado no chão do quarto, que parece ter sido atingido por um furacão. "Eles espalharam minhas roupas íntimas em todo lugar," prossegue ela enumerando as pequeninas faltas de educação que doem mais que os problemas financeiros.
E enquanto F. continua a limpar a bagunça dos soldados, ela fala sobre como a família se sente. "Abed [seu sobrinho] está apavorado, quer ir embora com medo dos aviões sem tripulantes que atiram bombas, mesmo depois que disseram que iriam cessar fogo”. Eles não o fizeram, Israel violou o cessar fogo.
Aqui havia uma igreja.
Terra revirada pelos tanques.
"Não foi um exército profissional"
Quando eu voltei lá dois dias depois, a casa estava muito mais limpa, mas ainda tinha o mau cheiro da presença dos soldados. "Limpamos o que pudemos, mas é difícil, não temos água corrente mais, temos que encher jarros na caixa dágua da cidade”. Andando na estrada arenosa eu sei que é difícil até sem carregar peso, imagine carregando jarros ou tentando passar de carro com qualquer quantidade de água ." A estrada tinha sido totalmente revirada pelos tanques israelenses.
Da varanda eu olhei e vi o solo todo revolto, as casas bombardeadas as árvores queimadas mas ainda de pé no meio das ruínas. O tanque de água de cimento que tinha sobrevivido aos ataques aéreos anteriores, desta vez acabou, destruído completamente.
Da janela da sala olhando as colinas vimos que os tanques não só tinham revirado a terra mas criaram também uma arena para onde os israelenses levaram os palestinos detidos. Um vizinho, ela diz, foi levado para lá. Era um senhor de 59 anos e seu filho de 19, e sob a mira de metralhadoras tiveram que tirar as roupas e ficar nus. Os soldados os cercaram com os tanques. "Nós não tínhamos feitos nada. " eles contaram mais tarde. Ficaram detidos por três dias em uma solitária, foram vendados, algemados, intermitentemente interrogados, surrados e as perguntas eram: “Vocês tem túneis em sua casa ? Onde estão os soldados de vocês? Onde estão os foguetes? O que é que vocês sabem sobre o Hamas? Vamos destruir sua casa toda se você disser que sabe alguma coisa sobre eles."
A irmã de F., A, descreve seus 17 dias na escola Foka depois de ter sido expulsa de sua casa em al-Tatra. As escolas que deveriam ser um local seguro (mas na realidade não eram porque vimos que al-Fakhoura e as outras escolas da ONU foram bombardeadas com fósforo branco, que decepa e aleija) não tinham nenhum conforto, nem calor, algo para se beber ou noites calmas.
"Nós não conseguíamos dormir toda a noite, estávamos com muito medo. Não havia segurança. Para onde poderíamos ir? Não tínhamos para onde ir. Éramos 35 pessoas amontoadas em uma sala de aula pequena. Não havia colchões, cobertores. Estava frio, muito frio durante a noite. Não havia eletricidade, nem água. Os poucos banheiros eram usados por centenas de nós, estavam superlotados, sujos. Nossos parentes conseguiram cobertores para nós depois de quatro dias, então melhorou um pouquinho. Mas não havia o que comer, somente um pouco de pão, não era suficiente para uma família.”
A perspectiva normal de gratidão por estar viva ainda sobrepuja o que seria o seu direito de sentir-se indignada, deprimida, de chorar ou de lamentar este sofrimento. "Graças a Deus sobrou um quarto na nossa casa. As casas da maioria das pessoas foram completamente destruídas”, ela diz, olhando para sua casa quase inteiramente destruída com exceção de um único aposento que permaneceu com o teto. Os soldados saquearam tudo, destruíram todas as roupas e jogaram bombas, roubaram o computador e os 2.000 em dinheiro que tinham.
A Anistia Internacional enviou uma equipe para averiguar os fatos em Gaza, depois dos ataques de Natal dos israelenses. Chris Cobb-Smith, um militar e oficial do exército britânico disse “O pessoal de Gaza foi saqueado, vandalizado, suas casas foram desrespeitadas. Os soldados israelenses deixaram atrás de si não somente montes de lixo e de excremento mas também equipamentos militares e munição. Não é um comportamento que se espera de um exército profissional, mas sim de vândalos cínicos e raivosos." E isso foi a história de uma família somente.
A life interrupted.
Salvando o que restou.
Terrorismo Psicológico
Dois de seus filhos tentavam puxar peças de roupa, livros, o que pudessem de debaixo do armário derrubado. Cada item é sagrado. A mãe me levou para ver a casa, indicando todas as violações feitas contra a existência deles, as paredes pichadas, as janelas quebradas, copos e pratos quebrados, sacos de trigo rasgados espalhados – e o trigo é nesta situação, tão precioso – e o mesmo lixo revoltante deixado pelos soldados: sacos de comida estragados, fezes pela casa toda mas não nos banheiros, roupas usadas e papel higiênico. O mesmo fedor.
"Eles quebraram tudo, destruíram nossas vidas. Aqui era o quarto dos meninos”. Vamos então andando no meio dos restos. “Olhe, cuidado!” “Pise aqui!” Para que eu não pisasse sobre cacos e objetos quebrados nos aposentos destruídos.
Não é somente a destruição, o desprezo, o vandalismo, o desperdício. É também a interrupção da vida, de uma vida já perturbada pelo cerco. Ela me mostrou livros escolares, rasgados, arruinados – a maldade intencional dos que fizeram isto - e perguntou como as crianças estudariam sem livros, sem luz, sempre tendo que fugir de casa, em constante medo de outro bombardeio e e de mísseis jogados pelo exército mais armado e destruidor do mundo.
Pichação deixada por soldados israelenses: "Até agora/ 1 sabotador rastejante (terrorista)/ 3 na encruzilhada/ 2 nas plantações/ Um velho suicida/ [ilegível]/ Um inocente."
As pichações dizem:
"Não odiamos os árabes mas mataremos todos os do Hamas," e "O exército israelense esteve aqui. ” Sabemos que vocês estão de volta aqui. Não vamos matar vocês agora, mas vocês vão viver com medo e terão que fugir durante toda a vida!”
Para os membros da família que sobreviveram como ela, o terror psicológico é real, não é um filme. Para os que já morreram, a frase “não vamos matar vocês” é uma mentira. Pergunte aos pais, às mães e aos irmãos.
De cima da laje podemos ver as casas dos vizinhos que sofreram a irracional ira da máquina militar israelense. E enormes áreas de terra que há dias tinham casas,árvores estão agora nuas, cheias de fragmentos de bombas, detritos, tocos e trilhas de tanques de guerra.
"Era nosso pomar, frutas, limões, oliveiras ..."
"Ali era a casa do meu irmão, está toda destruída ..."
Ela tinha que falar depressa, porque os aviões sem piloto, que jogam bombas já podiam ser ouvidos, com seu som estonteante.
Passamos por uma bomba de água que atendia a 10 casas na área, atingida por mísseis, arruinada.
Passando por mais destroços de casas, encontrei Yasser Abu Ali, sócio de uma loja de tintas e ferramentas que foi bombardeada por mísseis F-16. Dezessete pessoas eram dependentes diretos da receita da loja, sem contar os indiretos, como fornecedores, compradores. No que ele descreve a perda de cerca de ' $200,000 sua e de seus irmãos, descubro que ele é primo do Dr. Izz al-Din Abu al-Eish, o médico cujas três filhas e uma sobrinha foram assassinadas por bombas jogadas em sua casa em Jabaliya. Todos tem uma história triste, algumas sobrepondo-se a outras tragédias.
Casa destruída de Samir Abed Rabu
Na casa de Samir Abed Rabu a visita começa do mesmo modo que as outras, tudo quebrado e revirado, de novo os restos dos soldados israelenses, fezes, comida pobre, baralho e mais pichação: “ Entre no exército israelense hoje!”.
A casa tem mais buracos que paredes, de múltiplas bombas, assim como de metralhadoras de tanques. Vendo tantas casas intencionalmente e maldosamente destruídas nós perdemos a noção de prejuízos. Algumas coisas ficaram de pé, como uma cadeira, embaixo do teto todo arrebentado.
E há também buracos de obuses. Olho o buraco de frente para a rua Salah al-Din no cruzamento Dawwar Zimmo e percebo que foi de um desses rombos que o enfermeiro Hassan foi atingido, graças a Deus não morreu como os outros 13 enfermeiros que não sobreviveram. Graças a Deus nós também não morremos. Esses rombos estão em todas as casas em Jabaliya, al-Tatra, al-Zeitou – por toda Gaza.
O quarto do bebê também foi atacado. Uma parede de desenhos coloridos e lindos posters de criança fazem o contraste com a feiúra do bombardeio que abriu buracos em tudo, mostrando que nada é sagrado para um exército que especializa-se em matar crianças.
O jumentinho que está do lado de fora explica o cheiro de podre, também abatido, mas um cheiro diferente do odor usual dos soldados israelenses.
Ao sair das ruínas da casa de Samir Abed Rabu, vi uma outra família sem teto, fazendo chá sobre uns destroços, atrás do que restou de sua casa. Saed Azzat está de pé ao lado de um buraco causado por míssil no teto de sua casa, explicando que no primeiro dia da invasão israelense, ele e a família estavam dentro de casa quando o míssil caiu. Saíram então desesperados, correram até uma escola e somente souberam que a casa tinha sido também ocupada quando ao voltar viram os restos da passagem dos soldados israelenses.
Exatamente como os outros: tudo arrebentado, fezes dos soldados e garrafas de vinho vazias e jogadas ao léu. Vinho israelense, claro. A caixa d´água destruída, e a falta do teto mostrava mais visivelmente a destruição de todos os limoeiros à volta de sua casa.
Eu saí dali tentando passar entre os táxis, motos, carrinhos com itens pessoais, pessoas que não tinham mais onde ficar, pessoas que tinham vindo pegar o que sobrou das casas para tentar começar tudo de novo noutro canto. Eu senti que já tinha visto mais do que poderia suportar ou descrever. Mas pensei, eu sei que tem mais outros tristes casos, eu tenho que suportar, eu tenho que informar.
Violação de uma casa
Yousef Sharater and children in front of their damaged home.
Incrivelmente, a escada da casa de Yousef Shrater que foi bombardeada e incendiada ficou intocada, assim como as 14 pessoas que viviam lá, sendo três famílias. Shrater, pai de quatro crianças, caminha sobre os blocos de cimento arrebentados e as escadas cheias de restos, sobre o lixo deixado pelos soldados e outros restos de uma casa que foi bombardeada e depois ocupada.
No segundo andar, na parte da frente a janela original está rodeada de buracos causados pelo míssil que atingiu sua casa. "Eles estava, ali," conta Shrater apontando para um local a cem metros de distância, uma colina em Ezbet Abed.
Na sala ao lado, Shrater aponta para o outro lado, de onde os tanques vieram e estacionaram perto de sua casa para bombardeá-la: "Minha esposa, meus filhos e eu estávamos nesta sala quando eles começaram a jogar as bombas. Corremos para os fundos procurando proteção."
A sala dos fundos é um aglomerado de destroços e pedaços de coisas explodidas. Os tanques tinham cercado toda a área residencial e mal a família tinha-se trancado na sala dos fundos uma nova bomba rachou a casa toda. "Caiu a menos de um metro da janela, se tivesse caído na sala teríamos todos morrido”.
Shrater explica como os soldados forçaram a entrada na casa, expulsaram todos os membros da família, separando os homens das mulheres e trancando todos em uma casa ao lado, juntamente com outras pessoas da área. Seu pai e sua mãe que viviam em uma barraca ao lado, foram mandados para lá também Os soldados então ocuparam sua casa durante todo o período da invasão, como todos os outros soldados o fizeram em toda a Gaza. E do mesmo modo que aconteceu com os outros quando os moradores sobreviventes voltaram, acharam a casa, além de bombardeada, suja, vandalizada, com fezes por todos os lugares, tudo o que era de valor roubado, como celulares, jóias e dinheiro. Em alguns casos, roubaram até móveis pequenos e televisões, que eram usadas e depois jogadas fora nos acampamentos de soldados. Shrater disse que os soldados roubaram mil dólares e dois mil dinares.
O pai de Yousef que sofre de asma.
Na parte de trás do cômodo de esquina, Shrater passa sobre uma depressão no piso de mais de um metro e meio, onde os ladrilhos foram arrancados e a camada de areia foi retirada. "Eles fizeram sacos de areia para colocar ao lado das janelas para poderem atirar com metralhadoras." Os sacos ficaram jogados lá cheios de areia e de roupas. "Eles usaram as roupas das minhas crianças para fazerem suporte para as metralhadoras” lamenta Shrater " As roupas que eles não colocaram nos sacos, jogaram no vaso sanitário”, acrescenta ele mostrando.
Os buracos feitos para usar metralhadora, estão nos quartos do lado oeste, na direção de Dawwar Zimmo onde foram, achados corpos metralhados que não puderam ser alcançados pelas famílias nem pelos enfermeiros (incluindo os médicos da Cruz Vermelha que foram atingidos quando tentavam alcançar um corpo).
Do telhado podemos ver mais claramente a área onde os tanques foram posicinados, as incontáveis casas demolidas e destruídas, os estilhaços de bombas caídos dos mísseis jogados pelos tanques. O pai de Shrater, de 70 anos está no telhado e começa então a contar sua experiência quando foi seqüestrado de sua casa e trancafiado com sua mulher e outras pessoas durante quatro dias. "Eles vieram até nossa casa, ali," disse, indicando a casa de um piso onde ele vivia com sua esposa, ovelhas e cabras. "Os soldados israelenses chegaram na nossa porta, berraram mandando que saíssemos e começaram a atirar em nossos pés. Minha mulher ficou aterrorizada. Eles roubaram todo o dinheiro que tínhamos depois nos algemaram. Antes de vendarem nossos olhos, soltaram as ovelhas e as cabras das barracas e mataram todos com as metralhadoras. Mataram os oito animais na nossa frente.”
O ancião Shrater, que sofre de asma e sua esposa Miriam foram então vendados e levados para outra casa onde, durante quatro dias, os soldados não permitiram que ele usasse o inalador e nem sua esposa usasse os remédios para diabetes. Nem se falava de alimento e água e o pai de Yousef Shrater disse que seus pedidos aos soldados eram respondidos pelos soldados com: “Sem comida. Entregue-nos o Hamas, aí eu dou alimentos”. E como fazer uma coisa destas? Quem de nós sabia onde poderia haver algum membro do partido?”
Mariam Shrater, still terrified from her four-day ordeal.
O velhinho nos leva até as escadas atrás da casa de seu filho até a casa de seu pai onde sua mãe, ainda aterrorizada senta-se com os olhos ainda espantados com a crueldade. "Vimos coisas horríveis, horríveis. Vi mortos e mortos espalhados pela rua” diz ela, ainda em agonia. . Hajj Shrater concorda: "Em 63 anos eu nunca vi tanta maldade”, A insulina e a seringa negadas, estavam jogadas no chão, ao lado da porta junto com algumas pílulas. A vinte metros os restos da ração dos animais, jogados e sujos misturados com terra e detritos.
A casa entre a casa de Yousef Shrater e a de seus pais também foi danificada. O teto de amianto está todo quebrado no chão dos quartos, da cozinha e dos banheiros, exceto pelos pedaços ainda pendurados. A cozinha está preta de fumaça do que deve ter sido uma bomba fosfórica e os pedaços de bomba estão por toda a casa. Duas portas de metal da fábrica do outro lado da rua, bombardeadas por um F-16 estão perto da cozinha, tendo entrado pelos buracos do teto, também destruído na quase totalidade. Mahmoud Shrater, irmãos de Yousef disse: "É impossível recuperar isto, temos que viver agora em barracas, no inverno.”
Todas as imagens foram feitas por Eva Bartlett.
Eva Bartlett is a Canadian human rights advocate and freelancer who spent eight months in 2007 living in West Bank communities and four months in Cairo and at the Rafah crossing. She is currently based in the Gaza Strip after having arrived with the third Free Gaza Movement boat in November. She has been working with the International Solidarity Movement in Gaza, accompanying ambulances while witnessing and documenting the ongoing Israeli air strikes and ground invasion of the Gaza Strip.
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