quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Os temores da Folha

Pobres leitores da Folha de S.Paulo. Ao lerem no jornal de hoje a reportagem de Eduardo Scolese e Simone Iglesias irão entender que um enorme grupo de representantes de movimentos sociais lotou o salão do Palácio do Planalto para lançar Dilma Rousseff a presidência. É apenas o que dizem, reproduzindo dois discursos. Em nenhum momento os leitores foram informados do motivo que levou àquela reunião. Seus leitores foram privados de saber que o movimento social compareceu a Brasília para falar sobre a crise. Há uma diferença muito grande para a mesma reportagem feita pelo Vermelho. O que teme a Folha para omitir tantas informações?

O discurso da presidente da UNE, Lucia Stumpf, que pediu o afastamento de Henrique Meirelles do Banco Central? Disse ela: “Nós precisamos mais de que nunca alterar a política macroeconômica ainda vigente no nosso país de juros altos, superávit primário e controle do fluxo de capitais. Eu diria que é necessário alterarmos a política implantada pelo Banco Central. Isso só será possível com a imediata demissão do presidente do BC, Henrique Meirelles”. E ainda mais: “Essa é a manifestação daqueles que vão pressionar pela transformação, porque nós afirmamos aqui nesse encontro que o povo não vai pagar o preço da crise. É preciso investir no futuro do Brasil. É preciso investir na sociedade”.

Ou o jornal estaria preocupado com o teor da carta assinada por 58 entidades e que foi lida por Marina dos Santos, representante do MST, que diz: “Queremos aproveitar essa oportunidade para manifestar nossas propostas concretas que o governo federal deve tomar para preservar, sobretudo, os interesses do povo, e não apenas das empresas e do lucro”. Seria este o ponto das preocupações da Folha, interesses de empresas e o lucro são sagrados, nem pensar em divulgar tamanha subversão?

Talvez o jornal tenha achado muita pretensão da senzala fazer análise econômica e pedir mudanças. Quanta ousadia da plebe! Nas 15 questões fundamentais do documento, sendo a principal o controle e a redução imediata das taxas de juros, defende que o governo utilize as riquezas oriundas da exploração dos recursos naturais para investimento em emprego, educação, terra e moradia. Imaginem quanto desperdício de recursos deixar de especular com o dinheiro para esbanjar com o gentio.

Discorrem nesta ambição: “O governo federal deve revisar a política de manutenção do superávit primário, que é uma velha desgastada orientação do FMI, um dos responsáveis pela crise econômica internacional. E devemos usar os recursos do superávit primário para fazer volumosos investimentos governamentais na construção de transporte público e de moradias populares para a baixa renda”, dizem. E ainda dão pitacos em questões internacionais, pedem a retirada de forças estrangeiras do Haiti e a criação de um fundo internacional para a reconstrução daquele país.

Mas quem sabe o incômodo maior do vetusto diário foi o pedido de ação pela democratização dos meios de comunicação? Algo que não pode ser publicado de jeito algum. Imaginam que aí seria o fim. A informação correria solta, sem controle, onde reportagens seriam contestadas, mostrando o outro lado. Total barbárie. Onde esta sociedade iria parar?

2 comentários:

André Egg disse...

É.

Concordo com tudo aí nesse post.

Menos a parte contra o superávit. Os governos não têm como ficar rolando deficits eternamente. E o que causou essa crise foram todos os tipos insanos de déficit praticados pelos americanos.

No caso do Brasil, não dá para pedir o fim do superávit. Tem que mostrar que o culpado do déficit são os juros escorchantes, e não os investimentos sociais.

Ao invés de discursar contra o superávit devíamos ter slogans assim: "façamos superávit reduzindo juros e não cortando políticas sociais". Mas a frase é longa demais para um slogan...

Jurandir Paulo disse...

André, até concordo com você. Mas acredito que a economia sozinha explica muito pouco sem a política. O liberalismo ilude com a idéia que há uma gestão correta por parte do estado. Mentira. O Estado em um sistema capitalista sempre reproduz o interesse na máxima concentração do capital na mão de poucos, penalizando muitos, que pagam a conta.