quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Nossa imprensa apoiaria um Mubarak na Venezuela?


A mídia brasileira mais uma vez esteve em campanha contra Hugo Chávez. Antes das eleições já vendiam a opinião de que o processo seria viciado e que o governo “ditatorial” usaria de truculência contra a oposição, pondo dúvidas sobre o futuro resultado. As eleições aconteceram, não houve protestos sobre a sua legitimidade e a mesma mídia passou a comemorar o resultado como prova do fim da revolução bolivariana.

Não foi bem assim, basta um olhar desapaixonado pelos números. Mas gostaria de lançar algumas perguntas para entendermos esta fixação que a imprensa tem com Chávez, que motiva o farto espaço dedicado a ele, sempre para desqualificá-lo.

Quanto espaço vem sendo dado em nossa mídia ao governo de Hosni Mubarak no Egito, que já dura 27 anos?

Quantos editoriais foram escritos para condenar as últimas eleições plebiscitárias, em 2007, quando menos de 5% dos egípcios referendaram as reformas constitucionais?

Quantas palavras os colunistas amestrados usaram para condenar a ditadura sanguinária do Egito, que se vale de eleições fraudulentas para legislar com leis emergenciais que permitem acabar violentamente com greves e divergências políticas, calar a imprensa, prender pessoas rotineiramente sem julgamento e torturar prisioneiros?

Quantos posts os nossos blogueiros de direita usaram para condenar a prisão de Abdel Kareem Nabil, estudante da Universidade Al-Azhar, que foi sentenciado por ter feito críticas em seu blog a Mubarak e aos muçulmanos conservadores?


Nada. Mubarak fica do outro lado do leque ideológico. Chegam até a analisar o Egito como força de equilíbrio no Oriente Médio. Isto porque dividiu o mundo árabe, fazendo a política dos EUA na região, apoiando a guerra contra o Iraque, as provocações ao Irã, ajudando Israel contra os palestinos.

Nossa mídia nem personalidade tem na cobertura de assuntos internacionais. É apenas uma caricatura tosca da CNN ao repetir o chororô pelo petróleo que não é mais patrimônio americano. Que homem mau é o Chávez, né?

Ps: querem entender mais sobre os crimes de Mubarak? Sugiro consultar o verbete sobre o Egito da Anistia Internacional. Ele é farto e está baseado em vários relatórios de seus representantes, que inclusive entrevistaram vítimas daquela ditadura e seus familiares.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ô Jurandir,

As mesmíssimas perguntas poderiam ser feitas em relação à monarquia saudita, que simplesmente decapita os elementos mais "perigosos".

No entanto, a mídia nacional bate na mesma tecla... demonizam os adversários políticos dos EUA. Esperam convencer o público já "adestrado" pela propaganda do Tio Sam que rola na Sessão da Tarde.

Sei que este comentário é meio que chover no molhado, mas paciência!

Jurandir Paulo disse...

Luiz Henrique, é comentário preciso. A feudal Arábia é amiga dos EUA, por consequência de nossa mídia. Paquistão é outro. Ditadores são sempre os outros.