segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Entendendo Mendes

Quando Gilmar Mendes tomou posse da presidência do STF, em 23 de abril último, estranhei o tamanho da festa na Corte. Toda a república estava presente. Vários ex-presidentes, empresários, donos da mídia, até o Pelé compareceu. Foram cerca de 4.800 convidados, servidos das melhores bebidas, salgados, canapés e boa música, a cargo de orquestra da Universidade de Brasília. Tamanha demonstração de importância, que segundo O Globo custou R$ 76 mil, aguçou minha curiosidade sobre este homem que disse na posse que para aperfeiçoar o judiciário era necessária a “diminuição dos custos e a maximização dos recursos”. Como é tema recorrente em seus discursos, — segundo a mesma reportagem, Mendes, em sua posse no CNJ criticou os gastos excessivos do judiciário e defendeu uma melhor gestão de recursos — entendi que o STF fazia ali uma maximização. O dinheiro investido teria retorno garantido. E o fato me fez perguntar a amigo jornalista, experiente profissional, quem era afinal o tal Gilmar Mendes, que até então pouco havia me dado conta da existência. A resposta precisa é impublicável, mas em uma versão livre foi dito que era alguém que tinha muitos negócios na República, com muita troca de interesses com os que ali estavam em sua festa.

Entendi um pouco melhor da explicação do amigo quando a reportagem de capa da Carta Capital, de 6 de outubro, mostrou o empresário Gilmar Mendes e seus negócios no Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), com contratos conseguidos pela boa influência política, até mesmo para a compra de um terreno para sua sede, adquirido por 20% de seu real valor.

Agora, na última edição da mesma revista, entendo o que faltava. Gilmar Mendes é autêntico representante de nosso passado colonial, atuando como coronel na política da cidade de sua oligarca família, Diamantino (MT), de forma muito distinta da de um guardião do estado de direito. Há fatos muito graves apurados pela reportagem. E demonstram que os valores republicanos do ministro não valem muito em sua terra. Entre tantos casos narrados, fiquei consternado com o acorrido em 14 de setembro de 2000, quando a estudante Andréa Paula Pedroso Wonsoski registrou um boletim de ocorrência em delegacia da cidade contra o irmão de Mendes, candidato a prefeito pelo PPS. Diz o BO que a jovem afirmou ter sido repreendida pelo candidato um dia antes e ameaçada por seus cabos eleitorais, irados por denúncia feita em rádio de troca de cestas básicas por votos. 32 dias depois, após participar de um protesto estudantil contra o abuso do poder econômico nas eleições municipais, Andréa desapareceu. Seu corpo só foi encontrado em 2003 e apenas em 2005, depois da insistência de sua mãe em apurar o caso, o exame da ossada descobriu que foi morta com um tiro na nuca. O caso está arquivado na Vara Especial Criminal de Diamantino e a polícia nunca conseguiu esclarecer o crime. A justiça ali nunca foi feita. Lá a legislação parece que é outra.

19 comentários:

Joel Neto disse...

Na minha opnião o judiciário é o mais corrupto dos poderes e tem de haver uma mudança nesta escolha para o STF. É necessário ser mais democratico.

Anônimo disse...

Detesto comprar o Brasil com os EUA, mas tenho que dizer eleições diretas pra STF já, a exemplo da escolha dos promotores por lá. Impeachment por Mendes. Não dizem que o STF é um tribunal político? Então...

Anônimo disse...

Leia-se comparar ao invés de comprar. Pode editar o coment se quiserem, desculpe.

Anônimo disse...

jurandir:
o gm é empresário influente,contrata vários colegas do stf,defende o fh e o dd.temos aí um perfil do "presidente da
suprema corte",como eles gostam
(rapapé um atrás do outro).agora você traz informações que eu não tinha.é bom tomar cuidado com o
homem.um abraço.
romério

Jurandir Paulo disse...

Briguilino e Lila, sou todo a favor do povo eleger o judiciário, mas as elites não abrem um dedo para essa possibilidade. Ali reside uma parte fundamental dos seus mecanismos de poder. Não é por menos que na história, sempre que o povo se revoltou contra o andar de cima, os juízes estavam no começo da fila do esculacho.

Romério, quem tem, tem medo. Meus advogados serão municiados com o que foi publicado na imprensa, aqui nada inventei e nem apurei sozinho. O problema é que advogados de proleta não conseguem nem um mísero hábeas corpus, que o ministro dá com vontade para seus amigos. Mas, por outro lado, estou apostando que o reinado de Mendes não tem muito futuro. Sua moral já desceu para o pé e já escorre pelo bueiro mais próximo.

advbr disse...

Sabem qual vai ser a próxima de Gilmar Mendes?
É notícia na imprensa que a FEBRABAN vai entrar no Supremo com medida judicial para suspender as milhares de ações de poupadores que buscam ressarcir as perdas com planos Verão, Bresser e Collor. Ora, vão propor a ação no final do ano, segundo a assessoria jurídica da FEBRABAN. Por qual razão ? Bem no recesso lá estará o Senhor Mendes. Será que ele vai conceder a liminar ? Sabe-se que os bancos tem financiado congressos jurídicos e levado magistrados a resorts e spas para importantes palestras (!) Não é o Sr. Mendes empresário do ramo da educação ? Não poderia receber sua empresa também subsídios dos bancos ? É claro que a liminar já está pronto, e eu não preciso de grampo para saber disso. Nelson Jobim prestou um grande serviço ao Judiciário pedindo demissão. Mendes não vai fazer o mesmo. Mas aneurisma cerebral e enfarto do miocárdio são coisas que estão aí circulando.
TONY LUIZ RAMOS

Anônimo disse...

Eu li essa reportagem... concordo muito com o Idelber qdo ele diz que apesar de todas as coisas boas que Lula fez, colocar Gilmar Mendes como presidente do Supremo atrasou nossa, han, democracia, em algumas décadas. Voltamos às práticas coronelistas.

Anônimo disse...

Vamos começar a contagem!

1ª viagem

O prefeito eleito Eduardo Paes viajou para descansar depois da maratona eleitoral. Nada mais merecido. O curioso é que escolheu como destino turístico, a cidade preferida de seu “padrinho” Sérgio Cabral: Paris.

Anônimo disse...

REVISTA VEJA: CADÊ A GRAVAÇÃO?

Marcela Rocha
Especial para Terra Magazine


Para Amaury Portugal, presidente do Sindicato dos Delegados da Polícia Federal do Estado de São Paulo, na atual situação do crime organizado no Brasil, sofre a PF, sofre o governo, mas os criminosos são liberados impunes pela Justiça. Ele critica a atuação do Judiciário na continuidade das ações feitas pela PF:

- A Justiça não os julga; são presos pela PF e depois liberados por causa de recursos, os tribunais atendem tudo o que eles pedem.

Houve abusos na operação Satiagraha?


Amaury Portugal: Esta é uma questão que está sendo revista através de um inquérito policial feito pela própria PF. Eu não vou me pronunciar sobre isto até que a própria instituição diga se houve ou não.

Por exemplo, a PF está investigando os grampos acusados pela revista VEJA. Mas adianto que não foi encontrada a maior prova de que houve este grampo: a gravação.



FONTE: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3336152-EI6578,00-Crime+se+espalha+pelos+Poderes+critica+delegado.html

André Egg disse...

É isso aí.

Reportagens e blogagens como essas aos poucos vão criando uma cultura favorável a uma limpeza no judiciário brasileiro. Sem isso continuaremos a manter nossos problemas sociais crônicos e o debate político interditado.

Rapaz!

Tô todo orgulhoso de entrar aí no blog-roll.

Anônimo disse...

O último relato do texto só tem uma classificação possível - ASSASSINATO POLÍTICO.

Mas tem gente que jura que vivemos sob a "plenitude do regime democrático"...

Anônimo disse...

Uma correção. NÂO foi Lula q "colocou" GM de presidente do stf. O cargo tem um ritual, o mais antigo ou vice assume a presidência. No caso específico, esse sacripanta era vice.
Zanuja

Anônimo disse...

Que horror, não, um sujeito tão inescrupuloso, truculento, perigoso, ser um dos ministros do STF! Mas a verdade é que o STF é uma das principais salvaguardas das quais dispõe a elite reacionária deste país. Quero também acrescentar ao que a comentarista acima, Zanuja, corretamente colocou, que foi o Presidente Fernando Henrique Cardoso quem indicou Gilmar Mendes (que foi advogado-geral da União durante o governo FHC) para o cargo de ministro do STF, indicação essa que foi acolhida pela base governista de FHC no Senado Federal (em 2002).

Romanzeira disse...

Que coincidência. Estava lendo o teste do desconfiômetro quando acabei chegando novamente esse texto que já tinha lido há algum tempo mas não lembrava mais.
Agora entendi porque Mendes está tão ouriçado com o MST e tem tanto espaço na mídia - tudo que o cara fala vira notícia. Canalha da pior espécie!

Jurandir Paulo disse...

Romanzeira, o cara não vale nada. Menos ainda a nossa república e sua mídia que reproduz cada suspiro do canalha, que não gasta palavra se não tiver seu interesse no jogo.

Romanzeira disse...

Corrigindo, teste do ditadômetro e não desconfiômetro, como tinha escrito. rs... Desculpe!

Lucablog disse...

Olá, amigo

Pela primeira vez, visito seu blog. Li notícia sobre a ação nefasta de um dos maiores bandidos da nação: Gilmar Mendes (ele não é maior que seu criador, FHC).
Mesmo relatando fatos passados, percebe-se a atualidade dos temas. Estamos em 23.04.09 e o que se constata é a conituidade da bandalheira, cujo futuro parece ser o aprofundamento da sacanagem.
Minha satisfação é a existência de espaços como o seu e a blogosfera atenta e atuante. Bravo.
Continue assim e formaremos um exército contra os que pretendem fazer deste país um paraíso de tudo quanto não presta.
Já coloquei o abundacanalha entre meus favoritos. Serei um visitante atento. Evoé.

Um abraço
Luca Vianni

Anônimo disse...

Já viram o abaixo-assinado ao Impeachment de Gilmar Mendes?

Unknown disse...

Impeachment para Gilmar Mendes? Até onde me consta Impeachment é um ato para cassação do mandato do chefe do Executivo!
Toda a piramide está contamidade, mas nós, Cidadões, Eleitores, MATERIA PRIMA de um país ajudamos contaminar essa piramide. Criticamos os corruptos mas tb estamos corrompidos, não estamos na nossa forma "pura". Q tal Agir ao invés de criticar!! Bora?