quinta-feira, 14 de maio de 2009

Não tenho saudades


Tenho ainda vivo na memória os derradeiros momentos da finada ditadura militar, eles me lembram do cheiro de um velho mimeógrafo. Sou de uma geração que varava madrugadas para distribuir no dia seguinte pequenos panfletos, os “posts” da época, onde imaginava ali contribuir para uma revolução, no mínimo. Na pior das hipóteses, botar pijamas nos velhos generais. Ganhou esta. Mesmo assim, comemorei “pacas”, como dizia à época. Talvez por imaginar que alguns daqueles poucos panfletos que consegui rodar, naquela velha maquineta de grêmio estudantil, que teimava em rasgar o estêncil, tinham feito seu estrago, tal como desejava.

Sempre lembro disso quando converso com novas gerações, que já cresceram com computadores, alguns já com a internet. Era uma tarefa tosca, demorada. Para se ter uma idéia, fechar o texto com várias nervosas cabeças juvenis, com infinitas questões de ordem, era o mais rápido. Produzir, um sufoco. Cada erro de digitação na matriz tinha toda uma delongada técnica artesanal para a correção. Apenas valia pela farra noturna, sustentada por fortes bebidas baratas, que motivavam alguns erros pavorosos nos textos e na diagramação.

Missão cumprida. Não veio a revolução socialista, tal qual eu lutava, mas a digital. Paciência, e viva! Ficou muito fácil a tarefa de distribuir aquelas poucas centenas de caracteres. E ainda com figurinhas coloridas! Maravilha! E muito mais. O público agora é planetário, se interessar. Antes, algo restrito, escondido, com o temor constante de sermos apanhados pela vigilante repressão política.

Pois, sobre esta conquista há ameaças pairando. A informação sempre foi revolucionária. E a liberdade de expressão é um permanente incômodo para o poder econômico e seus variados gerentes. Neste momento, querem mudanças na lei para neutralizar o que alcançamos. Usam de pretextos para justificar propostas de controle. O objetivo é claro, inibir o cidadão de expressar seu pensamento. Querem que a informação apenas circule com o aval do cartel da mídia, que tem em seu DNA a ideologia de quem detêm o poder, e que agora pode trabalhar sem nenhuma lei que regulamente sua atividade. Artigos, parágrafos, alíneas, incisos, apenas para o cidadão que deseja opinar. Querem a volta dos mesmos temores, agora sob a vigília do judiciário.

Mesmo sem nova lei, já temos hoje uma boa amostra do que desejam no futuro: o site VG Notícias, de Várzea Grande, MT, que fica a menos de 200km de Diamantino, cidade do presidente do STF, Gilmar Mendes e seus capangas, está proibido de publicar noticias sobre o prefeito licenciado da cidade, Murilo Domingos. A decisão é do juiz titular da segunda Vara Cível do município, Marcos José Martins de Siqueira, que não levou em conta a defesa da jornalista responsável pelo site, Edina Araújo, que afirmou que todas as matérias publicadas pelo site são baseadas em documentos públicos e podem ser comprovadas. A decisão do juiz é um primor de incoerência e prepotência. diz:

“É bem verdade que a postura de impedir a veiculação de matéria jornalística, via de regra, implica ofensa ao Direito Constitucional da Informação. Contudo, quando a notícia apresenta potencial prejuízo à imagem, deve, excepcionalmente, subordinar-se aos necessários ajustes, sem que isso implique desrespeito à Constituição Federal”

Como assim? O prejuízo da imagem é ofensa que justifica “excepcionalmente” desrespeito ao direito à livre expressão, garantido pela maior lei, a Constituição? Como ficaria, então, a recente denúncia de Diogo Mainardi contra Victor Martins, diretor da ANP, que não foi comprovada? O tempo todo ele sustentou, com empáfia, que era mesmo uma tentativa de atingir o ministro Franklin Martins, irmão de Victor. Que juiz impediria as próximas colunas do fasciscolunista da Veja, baseado no mesmo princípio de prejuízo da imagem?

Amigos, é briga, e das boas. Em meus não tão bons tempos eu diria que é mais um capítulo da tal luta de classes. Nesta quinta-feira tem ato na Assembléia Legislativa de São Paulo contra o AI-5 Digital, o projeto do senador Azeredo. Não vamos permitir que acabem com nossa conquista. Não quero voltar para o meu velho mimeógrafo.

9 comentários:

Anônimo disse...

Rapaz.

Essa interneta é uma avalanche que não tem político que segure.

Pode vir o político que for, ninguém para a gente mais. A internet é um território livre em que vocÊ pode dizer o que quiser, e é assim que vai ser.

Por dois motivos simples

1) Que já tá na mão de todo mundo. Metade da população tem acesso à internet já.
2) que enquanto tiver um computador no mundo, tem um moleque gastando 10 minutos para descobrir como bular uma regra de segurança.

A partir do momento em que o projeto do "senador" azeredo passar e ele começar a ser sentido pela galera, o PSDB morre politicamente.

E aí são duas as opções: Ou o troço retrocede total, com a lei sendo revogada, ou vamos ter TANTAS maneiras de se burlar as medidas "de segurança" do projeto, que vai ser basicamente como se ele não existisse.

Pior: as proibições vão ser incentivo à contravenção.

Pensa na indústria fonográfica: baixar um único MP3 ainda é crime, até hoje. A indústria fonográfica continua batendo pesado, outro dia fecharam uma comunidade no orkut que distribuia cds completos em mp3, processaram os donos
VocÊ acha que os mais de um milhão de membros dessa comunidade falaram "é, eles tem razão: agora só vou comprar cd original"?????
Eles tão é jurando por Deus que nunca mais dão um real num CD, e que se descobrirem quem anda fazendo essa CENSURA, vai tomar porrada até de manhã cedo.

E pior: tão baixando os mp3 de outras das 9milhões de fontes existentes.

Um ataque a uma indústria fonográfica boazinha que só queria entreter? Porra nenhuma. TOdo mundo sabia que a indústria da música no Brasil sempre foi uma bosta, campeada por filhos da puta.

Mesma visão que o povo tem dos polítcos, que correm o risco de cortar a internet que eles gostam tanto de checar no orkut pra ver se a vizinha postou uma foto nova do aniversário

"Ah, mas aí eles vão derrubar tudo, cassar concessão de serviços de banda larga, etc"

Você acha MESMO que dá pra se safar com isso? "At this day and age??"


Ó, a gente realmente não pode dar mole não. A gente brigou muito pra chegar até aqui. Temos mais é que continuar lutando, denunciando e informando.

Mas pode apostar que a liberdade e dignidade que os brasileiros tem hoje ninguém tira mais.

Anônimo disse...

EM SAMPA, O PCC ESTÁ DE VOLTA

SÃO PAULO - [ 13/05 ]
Prisão de traficante gera protesto violento
Cruzeiro On Line

A facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) voltou a impor o terror em São Paulo, desta vez na Penha, zona leste na capital paulista, por causa da prisão de Wagner Barbosa da Silva, um de seus traficantes.

Homens ligados à facção criminosa queimaram ônibus e caminhões e fizeram barricadas nas ruas e avenidas do bairro. O trânsito na Marginal do Tietê foi bloqueado. Carros foram depredados.

A Polícia Militar reforçou o patrulhamento na região, com a Tropa de Choque. Houve tiroteio. Até as 20h, não havia informações sobre feridos.


Segundo a PM, a prisão do traficante causou o protesto. Silva foi preso durante a tarde, na favela Tiquatira, por policiais da 3ª Companhia do 51º Batalhão. O preso foi conduzido ao 10º Distrito Policial (Penha).

A Polícia Civil confirmou a prisão no início da noite. Um investigador afirmou que o traficante foi flagrado com maconha, haxixe, crack e armas.

O caso seria registrado pelo delegado plantonista da noite, Marco Gerck. Revoltados com a prisão, os homens do PCC fizeram barricadas na Avenida Gabriela Mistral, próxima à Favela Tiquatira, também conhecida como Favela Nicolas Jardim, e incendiaram veículos.

Na Avenida Governador Carvalho Pinto, conhecida como Tiquatira, os manifestantes também atearam fogo em ônibus. As labaredas atingiram a rede elétrica.


Um grupo de manifestantes também interditou, com madeiras, pneus e pequenas caçambas, a pista local da Marginal Tietê, sentido rodovia Ayrton Senna, a poucos quilômetros depois da sede do Sport Clube Corinthians Paulista.

Os homens passaram a atirar pedras nos veículos que tentavam furar o bloqueio. Os motoristas ficaram em pânico. A Tropa de Choque da PM e homens do Corpo de Bombeiros foram acionados. Policiais das Rondas Ostensivas com Apoio de Moto (Rocan) também reforçaram o efetivo.

Um helicóptero Águia sobrevoou o local para dar apoio aos PMs que tentavam desbloquear as ruas e avenidas e prender os manifestantes.(AE)

Abobrinhas Psicodélicas disse...

É Jurandir: o tempo passa, o tempo voa, mas a velha direita continua (ou pelo menos faz tudo para continuar)numa boa. A grande mídia conseguiu - em nome da sacrossanta liberdade de imprensa - abolir a "Lei da Imprensa" (que, tudo bem, era mesmo retrográda), sem, no entanto, haver a criação de novos mecanismos - democráticos e próprios de um Estado de direito - para substituí-la. Um desses mecanismos não criados - e que aparentemente não se tem a mínima vontade de criar - é a regulamentação do direito de resposta, uma garantia essencial contra os abusos midiáticos (dois casos que jamais devem ser esquecidos: o da Escola Base, em SP, e a matéria da "Veja" sobre o Cazuza agonizando). Por outro, lado o projeto do senador tucano-mensaleiro procura cercear a ação daquela que hoje é a principal trincheira anti-midiática: a blogosfera. Enfim, é esta a noção de liberdade tão cara ao grande capital: a liberdade como espaço próprio do mercado (que era o segmento atingido pela Lei de Imprensa). Já a liberdade para quem está fora do mercado - os blogueiros, por excelência - é aquela da velha máxima da "ditabranda" (para eles) tão apreciada pela "Folha de SP": "O preço da liberdade é a eterna vigilância"!

Abs.

Adriano Matos disse...

E sobre a acusação que o PT e o próprio Tarso Genro tornou mais rígida a proposta do Azeredo? Tem algum fundamento?

Jurandir Paulo disse...

Adriano, existe uma acusação? Sei de um adendo do Mercadante, mas o aspecto nefasto, embutido na lei, veio da alteração do Eduardo Azeredo, que é fazer um cadastro nacional de internautas, policiar cada um via provedores. Essa conversa mole não sei se surgiu no Imprensa Marrom, mas é típica do Gravataí Merengue. O papo não é semântico. O fato é que há interesses grandes em enquadrar a internet, e deixar o mais livre possível a mídia corporativa, o que já conseguiram. Estão em jogo aqui os grandes interesses do poder econômico a longo prazo, mas há um olho matreiro que visa bem direto a disputa em 2010. Não é o PT que teme os blogs na campanha presidencial.

Mack disse...

Jurandir, a única correção que faço é que em dado momento você diz:
Cada erro de digitação na matriz ...Não seria erro de datilografia? kkkk
O álcool que embalava essas farras muitas vezes era o sonegado ao mimeógrafo: Zulu, limão e açúcar.

Jurandir Paulo disse...

Mack, percebo claramente que vc é dos tempos da datilografia à álcool. :-)Pô, vc desencavou o tal Zulu, pensava que meus gastos neurônios e o fígado já tivessem dado conta de esquecer isso.

Adriano Matos disse...

Jurandir,

Vc tem toda razão. Li sobre essa acusação ao Tarso Genro no imprensa marrom que leio ocasionalmente, apesar de ser petista, pra ver como estão as movimentações do lado do inimigo.

Fui, portanto, ao blog do Sérgio Amadeu, figura proeminente na luta contra o vigilantismo na rede e a verdade veio a tona: O Ministro da Justiça publicou carta que confirma sua posição contraria ao projeto do Sen. Azeredo (http://www.softwarelivre.org/news/13424).

Peço perdão aos colegas por essa barrigada.

Folha Republicana disse...

Quem procura os seus merece respeito!
Como editora do blog Folha Republicana eu quero publicar a minha posição em relação ao que publiquei, extraído da Folha Online, o triste posicionamento do Deputado Federal Jair Bolsonaro.
Quem procura os seus merece respeito, apoio e admiração.
Quem hoje procura os restos mortais de seus entes queridos que foram torturados, assassinados ou desaparecidos são brasileiros patriotas e nacionalistas que ao procurarem e muitos estão há anos sem ter o direito de realizar um enterro dígno para quem procuram, estas pessoas através de suas lutas e reinvidicações promovorem um movimento histórico nacional e revitalizaram a cidadania brasileira.
Em todos os confrontos temos os dois lados de sofrimento.
Temos o que confronta e o confrontador.
Temos famílias que procuram "os ossos" de seus filhos que serviam ao Exército, Marinha e Aeronáutica.
Famílias que procuram restos mortais de militares que foram mortos em batalhas que não eram sua. Lutaram por imposição, obediêcia e disciplina.
Lutaram por estarem alistados, lutaram por não terem como fugir da situação.
Outros lutaram, foram torturadores e assassinos conscientes do que estavam fazendo mais todos os lados tinham família, alguém que por eles se importava.
Quando militei através de DCE, CA e o movimento estudantil ligado ao MR8 na década de 70, 1977 até 1982, eu fui testemunha ocular de situações terríveis e inadmissíveis.
Vi amigos serem chutados em sua genitálias e um veio a falecer e outros 4 ficaram impotentes.
Vi soldados nos perseguindo e alguns com lágrimas nos olhos e gritando:
"Não quero fazer isto, sou obrigado me perdoe"
Eu vi, eu estava lá.
Desde os meus 10 anos de idade eu participo de campanhas políticas.
Fui uma criança que era levada sentada nos ombros do pai para assistir ao Comício da Central do Brasil que foi proferido pelo Presidente João Goulart, discursos de governadores em palanques públicos e praças.
Graças a Deus sou parte de uma família muito rica, rica em história, rica em memória, rica em nacionalismo, rica em patriotismo,rica em respeito e amor ao próximo.
Por toda a minha herança e riqueza que hoje me posiciono de forma envergonhada em saber que temos um representante, recebeu votos e foi eleito(não por mim), na Câmara dos Deputados que com certeza possuí mais bens do que eu mais é infinitamente mais pobre, pois não é rico como eu... e não respeita a dor e o sentimento do semelhante a ponto de comparar restos mortais a ossos para cachorro.
Hoje sou uma Historiadora formada na UFRJ - Largo de São Francisco - Rio de Janeiro.
Palco não de palhaços mais de homens e mulheres que fizeram e continuam a fazer parte da nossa história.
Quem procura os seus merece repeito!!!!!!!!!!!
Sandra de Andrade