segunda-feira, 27 de abril de 2009

A mídia e seu “apesar da crise”

No Estadão de hoje, sinais de que o cartel da mídia vai jogando a toalha em sua torcida pelo tsunami econômico. "Consumo deve crescer no Brasil, apesar da crise", diz o título. Fiquei com a sensação de já ter lido em algum lugar, talvez dito de outra forma, e me preocupei em pesquisar quantas vezes a expressão “apesar da crise” foi usada recentemente. O resultado é impressionante. Vamos a alguns exemplos:


No G1, 2350 resultados no Google. Exemplos:

Apesar da crise, setor de imóveis populares se mantém aquecido

Grifes estrangeiras desembarcam no Brasil, apesar da crise

Apesar da crise econômica, indústria carnavalesca comemora vendas

Apesar da crise, Petrobras investirá mais em biocombustíveis

Nestlé mantém boa saúde apesar da crise


No Globo, 1.140 resultados no Google. Exemplos:

Apesar da crise, avanço do PIB brasileiro só perdeu para a China em 2008

CNT/Sensus: População espera aumento de renda e emprego, apesar da crise

Relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos devem avançar, apesar da crise

Aumenta a popularidade de Lula apesar da crise

Apesar da crise, Saara mantém esperanças de boas vendas no Natal


No Estadão, 997 resultados no Google. Exemplos:

EPE: apesar da crise, consumo de energia não vai cair

Apesar da crise, empresas de tecnologia crescem no exterior

Apesar da crise, indústria quer investir e foca mercado interno

LG aposta em Natal forte no Brasil, apesar da crise

Apesar da crise, Federer mantém liderança do ranking da ATP

Este último título acredito ser obra de um redator da economia emprestado à editoria de esportes. A crise do tenista Roger Federer é apenas pessoal, motivada por uma mononuscleose, de lenta recuperação física.

Quanto a Folha, apenas 6 resultados. Aposto que é coisa de seu rígido manual interno, apesar da crise dos jornais.

Atualizando:

Nosso leitor Rafael observou que pesquisando pelo próprio site da Folha há centenas de resultados com "apesar da crise". Pesquisando na Folha de S.Paulo, 830 resultados. Na Folha Online, 703.

6 comentários:

Rafael disse...

Acho que houve algum erro na sua metodologia em relação à Folha. Há centenas de ocorrências:

Folha de S.Paulo:
http://search.folha.com.br/search?q=%22apesar+da+crise%22&site=jornal&sdd=&sdm=&sdy=&edd=&edm=&edy=&src=redacao

Folha Online:
http://search.folha.com.br/search?q=%22apesar+da+crise%22&site=online&s=&sdd=&sdm=&sdy=&edd=&edm=&edy=&src=redacao

Jurandir Paulo disse...

Perfeito, Rafael. Só tinha pesquisado pelo Google. Por algum motivo que desconheço, só temos esses resultados na pesquisa dos próprios sites. Vou atualizar o post com sua observação. Obrigado.

Abobrinhas Psicodélicas disse...

Fazendo um exercício de futorologia (te cuida, Alvin Toffler!), podemos imaginar a seguinte manchete nos principais jornais do país, em 04 de outubro de 2010: "Apesar da Crise, Candidata de Lula vence as eleições no primeiro turno".

Abraços.

Jurandir Paulo disse...

Argonauta, ótima idéia para uma charge da capa da Folha ou do Globo.

Anônimo disse...

Bom tocar no assunto amigo. Tudo ta girando em torno da crise. Eu sendo sincero, ainda não me atingiu. Hj por exemplo tomei banho, apesar da crise.

O Cruzeiro meteu um chocolate no Galo domingo apesar da crise. "Fofão" (segundo o Lula) fez um golaço no Santos, apesar da crise.

Enquanto a Miriam Leitão Falar de crise eu to tranqüilo. Não é crise pra mim.

Abs
Ronaldo Freitas

Remindo disse...

Até fevereiro deste ano, a turma dos jornalões assustava o público com a crise. Ora, os anunciantes destes jornais também são leitores e também se assustaram. Ora, rico assustado retrai o seu rico dinheiro, e os jornalões só foram se dar conta disso no meio de março, levaram umas duas semanas para passarem suas novas diretrizes da luz no fim do túnel. Ora, o jornalista da área ecônomica, que era elogiado pelos sustos que dava nos leitores (e no governo) levou mais um tempo para assimilar a mudança. Agora estão, assim assim, assustados, os leitores, os anunciantes, o dono do jornal e o jornalista de economia que não está entendendo a virada do patrão. Parece que o governo está dando risadas.