segunda-feira, 6 de abril de 2009

A fraude da Folha contra Dilma

Antonio Roberto Espinosa, citado em entrevista na Folha de S.Paulo, contesta a versão do jornal. Em carta, enviada ao proprio jornal e a vários sites, diz o seguinte:

Encaminhei a carta abaixo à redação. E peço que todos os amigos que a façam chegar a quem acharem necessário: redações de jornais, revistas, emissoras de TV e pessoas que talvez possam ser afetadas ou se sintam indignadas pela má fé dos editores do jornal. Como sabem, sou favorável à transparência, por achar que a verdade é sempre o melhor caminho e, no fundo, revolucionária.

À coluna “Painel do leitor”

Seguem cópias para o Ombudsman e para a redação. Vou enviar cópias também a toda a imprensa nacional. Peço que esta carta seja publicada na próxima edição. Segue abaixo:

Prezados senhores,
Chocado com a matéria publicada na edição de hoje (domingo, 5), páginas A8 a A10 deste jornal, a partir da chamada de capa “Grupo de Dilma planejou sequestro de Delfim Neto”, e da repercussão da mesma nos blogs de vários de seus articulistas e no jornal Agora, do mesmo grupo, solicito a publicação desta carta na íntegra, sem edições ou cortes, na edição de amanhã, segunda-feira, 6 de abril, no “Painel do Leitor” (ou em espaço equivalente e com chamada de capa), para o restabelecimento da verdade, e sem prejuízo de outras medidas que vier a tomar. Esclareço preliminarmente que:

1) Não conheço pessoalmente a repórter Fernanda Odilla, pois fui entrevistado por ela somente por telefone. A propósito, estranho que um jornal do porte da Folha publique matérias dessa relevância com base somente em “investigações” telefônicas;

2) Nossa primeira conversa durou cerca de três horas e espero que tenha sido gravada. Desafio o jornal a publicar a entrevista na íntegra, para que o leitor a compare com o conteúdo da matéria editada. Esclareço que concedi a entrevista porque defendo a transparência e a clareza histórica, inclusive com a abertura dos arquivos da ditadura. Já concedi dezenas de entrevistas semelhantes a historiadores, jornalistas, estudantes e simples curiosos, e estou sempre disponível a todos os interessados;

3) Quem informou à Folha que o Superior Tribunal Militar (STM) guarda um precioso arquivo dos tempos da ditadura fui eu. A repórter, porém, não conseguiu acessar o arquivo, recorrendo novamente a mim, para que lhe fornecesse autorização pessoal por escrito, para investigar fatos relativos à minha participação na luta armada, não da ministra Dilma Rousseff. Posteriormente, por e-mail, fui novamente procurado pela repórter, que me enviou o croquis do trajeto para o sítio Gramadão, em Jundiaí, supostamente apreendido no aparelho em que eu residia, no bairro do Lins de Vasconcelos, Rio de Janeiro. Ela indagou se eu reconhecia o desenho como parte do levantamento para o sequestro do então ministro da Fazenda Delfim Neto. Na oportunidade disse-lhe que era a primeira vez que via o croquis e, como jornalista que também sou, lhe sugeri que mostrasse o desenho ao próprio Delfim (co-signatário do Ato Institucional número 5, principal quadro civil do governo ditatorial e cúmplice das ilegalidades, assassinatos e torturas).

Afirmo publicamente que os editores da Folha transformaram um não-fato de 40 anos atrás (o sequestro que não houve de Delfim) num factóide do presente (iniciando uma forma sórdida de anticampanha contra a ministra). A direção do jornal (ou a sua repórter, pouco importa) tomou como provas conclusivas somente o suposto croquis e a distorção grosseria de uma longa entrevista que concedi sobre a história da VAR-Palmares. Ou seja, praticou o pior tipo de jornalismo sensacionalista, algo que envergonha a profissão que também exerço há mais de 35 anos, entre os quais por dois meses na Última Hora, sob a direção de Samuel Wayner (demitido que fui pela intolerância do falecido Octavio Frias a pessoas com um passado político de lutas democráticas). A respeito da natureza tendenciosa da edição da referida matéria faço questão de esclarecer:

1) A VAR-Palmares não era o “grupo da Dilma”, mas uma organização política de resistência à infame ditadura que se alastrava sobre nosso país, que só era branda para os que se beneficiavam dela. Em virtude de sua defesa da democracia, da igualdade social e do socialismo, teve dezenas de seus militantes covardemente assassinados nos porões do regime, como Chael Charles Shreier, Yara Iavelberg, Carlos Roberto Zanirato, João Domingues da Silva, Fernando Ruivo e Carlos Alberto Soares de Freitas. O mais importante, hoje, não é saber se a estratégia e as táticas da organização estavam corretas ou não, mas que ela integrava a ampla resistência contra um regime ilegítimo, instaurado pela força bruta de um golpe militar;

2) Dilma Rousseff era militante da VAR-Palmares, sim, como é de conhecimento público, mas sempre teve uma militância somente política, ou seja, jamais participou de ações ou do planejamento de ações militares. O responsável nacional pelo setor militar da organização naquele período era eu, Antonio Roberto Espinosa. E assumo a responsabilidade moral e política por nossas iniciativas, denunciando como sórdidas as insinuações contra Dilma;

3) Dilma sequer teria como conhecer a ideia da ação, a menos que fosse informada por mim, o que, se ocorreu, foi para o conjunto do Comando Nacional e em termos rápidos e vagos. Isto porque a VAR-Palmares era uma organização clandestina e se preocupava com a segurança de seus quadros e planos, sem contar que “informação política” é algo completamente distinto de “informação factual”. Jamais eu diria a qualquer pessoa, mesmo do comando nacional, algo tão ingênuo, inútil e contraproducente como “vamos sequestrar o Delfim, você concorda?”. O que disse à repórter é que informei politicamente ao nacional, que ficava no Rio de Janeiro, que o Regional de São Paulo estava fazendo um levantamento de um quadro importante do governo, talvez para sequestro e resgate de companheiros então em precárias condições de saúde e em risco de morte pelas torturados sofridas. A esse propósito, convém lembrar que o próprio companheiro Carlos Marighela, comandante nacional da ALN, não ficou sabendo do sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick. Por que, então, a Dilma deveria ser informada da ação contra o Delfim? É perfeitamente compreensível que ela não tivesse essa informação e totalmente crível que o próprio Carlos Araújo, seu então companheiro, diga hoje não se lembrar de nada;

4) A Folha, que errou a grafia de meu nome e uma de minhas ocupações atuais (não sou “doutorando em Relações Internacionais”, mas em Ciência Política), também informou na capa que havia um plano detalhado e que “a ação chegou a ter data e local definidos”. Se foi assim, qual era o local definido, o dia e a hora? Desafio que os editores mostrem a gravação em que eu teria informado isso à repórter;

5) Uma coisa elementar para quem viveu a época: qualquer plano de ação envolvia aspectos técnicos (ou seja, mais de caráter militar) e políticos. O levantamento (que é efetivamente o que estava sendo feito, não nego) seria apenas o começo do começo. Essa parte poderia ficar pronta em mais duas ou três semanas. Reiterando: o Comando Regional de São Paulo ainda não sabia com certeza sequer a frequência e regularidade das visitas de Delfim a seu amigo no sítio. Depois disso seria preciso fazer o plano militar, ou seja, como a ação poderia ocorrer tecnicamente: planejamento logístico, armas, locais de esconderijo etc. Somente após o plano militar seria elaborado o plano político, a parte mais complicada e delicada de uma operação dessa natureza, que envolveria a estratégia de negociações, a definição das exigências para troca, a lista de companheiros a serem libertados, o manifesto ou declaração pública à nação etc. O comando nacional só participaria do planejamento , portanto, mais tarde, na sua fase política. Até pode ser que, no momento oportuno, viesse a delegar essa função a seus quadros mais experientes, possivelmente eu, o Carlos Araújo ou o Carlos Alberto, dificilmente a Dilma ou Mariano José da Silva, o Loiola, que haviam acabado de ser eleitos para a direção; no caso dela, sequer tinha vivência militar;

6) Chocou-me, portanto, a seleção arbitrária e edição de má-fé da entrevista, pois, em alguns dias e sem recursos sequer para uma entrevista pessoal – apelando para telefonemas e e-mails, e dependendo das orientações de um jornalista mais experiente, no caso o próprio entrevistado –, a repórter chegou a conclusões mais peremptórias do que a própria polícia da ditadura, amparada em torturas e num absurdo poder discricionário. Prova disso é que nenhum de nós foi incriminado por isso na época pelos oficiais militares e delegados dos famigerados Doi-Codi e Deops e eu não fui denunciado por qualquer um dos três promotores militares das auditorias onde respondi a processos, a Primeira e a Segunda auditorias de Guerra, de São Paulo, e a Segunda Auditoria da Marinha, do Rio de Janeiro.



Osasco, 5 de abril de 2009



Antonio Roberto Espinosa



* Antonio Roberto Espinosa é jornalista, professor de Política Internacional, doutorando em Ciência Política pela USP, autor de Abraços que Sufocam — E Outros Ensaios sobre a Liberdade e editor da Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe



Fonte: Vermelho

6 comentários:

Der Hexenhammer disse...

Tá... A Dilma só teve participação "política"...

E isso aqui?

http://mallmal.blogspot.com/2009/01/o-rei-est-quase-morto-viva-rainha.html#links

Assaltos são políticos???

Romanzeira disse...

Meu Deus! A oposição está com muito medo mesmo de uma derrota, no fim do ano que vem! Tanto medo que, faltando mais de um ano para a eleição presidencial, já está tentando fabricar escânda-los e colocar a candidata do governo numa saia justa. Absurdo...

Jurandir Paulo disse...

Hexenhammer, você usa o prontuário da Dilma do Dops como fonte confiável? Por ele você afirma o que está em seu blog:

“Que tipo de país é capaz de eleger uma bandida, sanguinária, que roubava armas e assaltava bancos para a presidência da república?”

Roubava para a presidência da república? Como? Qual presidência? Ela bandida?

Vem cá, não ensinam mais história nas escolas? Nossa juventude deixou de pensar?

Quando eu tiver um tempo passo no seu blog para contar uma estória, espero que sirva para refletir.

Anônimo disse...

Tá virando festa, essa nojenta forma de "fazer jornalismo".

Todo santo dia aparece 1 panaca plantando mentiras e difamando Protógenes, transformado em bola da vez.

Antes eram petistas, tratados como bandidos/mensaleiros, agora sao policiais federais tratados como bandidos/PF.

E, prá fazer a merda feder c/ toga e tudo, tem o pilantra mor presidindo o STF.

A direita, q tá mesmo banguela e caducando, se apegou a essa figura putrefada do Juduciário, e o transforma (ou tenta) em porta-voz do atraso, ou seja, se sí mesma.

Sao 2 brasis, o de Lula e todos nos, e o deles, dos &% q Gilmar fazendo o papel higienico jurídico - pode cagar q ele limpa.

Nao tem mais Virgílio, Álvaro, Tasso nem Lorenzoni, nem ACMinho ... é pela boca de Gilmar Dantas, c/ seus espasmos verbo-fecais, q a oposicao neo-fascista resiste.

Reparem na fórmula: 1 corrupto jornalista vomita qlqr lixo, a mídia podre repercute, e Gilmar assina em baixo.

Por enquanto.

Inté,
Murilo

Anônimo disse...

Resumo da carta do tal Espinosa: o levantamento de informações para o seqüestro foi iniciado, mas o seqüestro não foi levado a cabo. E a reportagem da Folha não afirma nada diferente disso. E, se a Dilma não sabia dos planos, pior para ela: pois aceitava responder por uma organização cujas atividades ignorava, na melhor espírito do militante que renuncia à consciência individual e se orgulha por ser usado pelos "estrategistas" do partido. Essa gente foi derrotada historicamente e não tem nada a oferecer para o Brasil atual. E, no passado, partilhavam da lógica de Bukharin, que diza, em 1917: "We asked for freedom of the press, thought, and civil liberties in the past because we were in the opposition and needed these liberties to conquer. Now that we have conquered, there is no longer any need for such civil liberties." Pois então não venham cacarejar contra o mau uso da liberdade de expressão! Combatam as teses de que discordam, em vez de usar o espaço jornalístico e virtual para repudiar o fato de que essas teses sejam publicamente defendidas por indivíduos e grupos econômicos que possuem - oh! - interesses. No futuro, o mantra da "mídia golpista" será lembrado como a divisa vazia de uma esquerda impotente e corrompida.

Roberto Marques disse...

Entendo que criticar a posição de Espinosa ( e não o "tal Espinosa", como mal se expressou alguém por aqui, numa atitude desrespeitadora, leviana, e que fica mais impregnada pelo mau cheiro da covardia do anonimato do que pelo simples direito de não se identificar!!!) seja salutar por contribuir com a reflexão sobre aspectos históricos, ciência política e mídia. Perfeito. O que me assusta é ver a maneira como alguns participantes deste espaço, por meio de malabarismos linguísticos e citações (fantásticas!) em inglês, tentam mostrar "total conhecimento", num arroubo intelectual - "bonito" porém ordinário, num expediente que se pretende mais "moderninho", como se fossem, sim, "paladinos" de uma... "democracia", "democracia" essa presente em sites como Ternuma, Opus Dei etc.
Essa mesma turma é aquela que hoje arrota a chamada "Nova História" e que compara Karl Marx a Viagra. Fantástico. Deve ser aquela turminha que se conforta com o termo "terrorista", "comunista" etc. Ótimo. É isso: já imaginou combater a doçura dos militares do período com mandiopã e Kornflakes? Bem, bem... eu acredito que é melhor parar por aqui, pois eu sou um "comunista jurássico" e da esquerda.... "festiva" e, logo, logo, o pessoal "moderninho", alegre e feliz, de um mundo mais simpático e menos carrancudo, vai me chamar de... "terrorista". Afinal, como disse um outro aí, "assalto" não combina com "esquerda". Ótimo. Eu pergunto: tortura combina com educação e bons modos? Um golpe militar se critica de que maneira? Com flores e caixa de bombons?
Além disso, gostaria de saber quem "cacarejou contra o mau uso da liberdade de expressão"? Assim como se pretende afirmar que se "cacareja contra o mau uso da liberdade de expressão", por aí não fizeram nada mais do que não só "cacarejar", mas "urrar", "grunhir" ou quetais, contra a péssima forma de INTERPRETAR o... "mau (????) uso da liberdade de expressão". O fato de se questionar um artigo da Folha - que, sim, foi muito mal construído - porque aburdamente equivocado historicamente!-, e que, portanto, pode, sim, ser uma forma de posicionamento político indireto e antecipado a um futuro pleito eleitoral, não condena ninguém ao paredão da pseudo-visão dos "moderninhos", "democráticos"(???) de plantão, e muito os há por aqui. E daí? Quem é que disse que não pode? O fato de se criticar um jornal - que tem o seu valor, sim!-, justamente por uma pessoa séria, que tem um passado que o autoriza a essa crítica, não justifica um... "mau uso de liberdade de expressão". Quem é que falou - ou ainda -, quem é que disse que o autor de toda essa questão é de partido X ou Y ou que concorrerá a um cargo qualquer? A intenção, parece-me, foi a de criticar o fato histórico ali relatado - por quem o viveu-, e salientar uma desconfiança em relação a um possível interesse (eu disse "possível") eleitoral futuro moldado por um determinado segmento da mídia, como muitos, que se inclinam, sim (não há parcialidade nem papais-noeis...) mais para interesses políticos do que para informação séria.
É óbvio que há incorreções, arrogância, clichês e tantas incoerências oriundas da chamada "esquerda" de hoje. Mas o que é intragável é observar algumas posturazinhas que se pretendem irônicas (mas burras!!!) que escondem - infelizmente-, o profundo desconhecimento dos fatos históricos. Aventurar-se sim, todavia com altiverz.