Ontem, acompanhei tenso as imagens do conflito entre moradores da favela Paraisópolis com a polícia, mostradas pela Globonews. Não havia até então muitas informações, o cinegrafista do helicóptero filmava e o repórter narrador repetia inúmeras vezes as mesmas frases, sempre com a palavra “baderneiros”. Eram muitos os que jogavam pedras contra a polícia e recuavam, deixando no caminho carros e caçambas de lixo incendiados, impedindo o avanço da PM. Hoje, os jornais relatam que o motivo foi o assassinato de um morador, e a reação foi planejada, provavelmente por ordem dos traficantes da favela. Deram ouvidos ao secretário de Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, que no local disse que em horas iria prender os bandidos. As imagens me lembraram conflitos em Gaza e na Cisjordânia, com jovens atirando pedras contra soldados israelenses e seus tanques.
A foto acima me veio à cabeça, de Tuca Vieira, fotógrafo premiado da Folha de S.Paulo, publicada em livro e que já correu o mundo. Nela, a prova de que há imagens que efetivamente valem mais que mil palavras. Um muro separa duas cidades, bem distintas e opostas. De um lado, o bairro do Morumbi, com um dos mais altos IDHs do país e do mundo. No outro, uma comunidade que teve origem na migração nordestina, com sua falta de saneamento, educação pública e apenas um campo de futebol para seus jovens.
No ano passado, uma simples obra municipal demonstrou o que separa estes dois mundos. A reurbanização de uma escada que liga a favela a um trecho do Morumbi foi motivo de protestos da classe média, mesmo que por lá pudessem melhor trafegar suas domésticas na volta para casa. Quase foi pedido um posto de fronteira. Os moradores de belos imóveis fecharam a pendenga aceitando um reforço policial e inúmeras câmeras de segurança para vigiarem a descida dos palestinos, quer dizer, dos moradores da favela.
Impossível não lembrar do racismo de parte da nossa classe média, recentemente exposto publicamente por Cora Rónai, que em texto sionista comparou o pesado fardo que é conviver cercada de favelas com o que vive Israel, cercado pela falta de civilização de seus vizinhos.
E de imaginação em imaginação, vejo uma senhora ali, naquela varanda à direita, com bela vista para Paraisópolis, entre a leitura da revista Caras e o catálogo da Daslu, tecendo considerações políticas. Reclamando seus direitos, desejando mandar para longe os filhos dos nordestinos, afirmando que afinal é ela que paga impostos...
Paga??? A Daslu não paga os seus. E seu marido, provavelmente sócio do Jockey Clube, deve estar ciente que o clube nunca pagou IPTU, e deve hoje ao erário público quase R$ 200 milhões, depois de já ter dívidas antigas esquecidas por governos simpáticos às elites que lá freqüentam.
É, senhor secretário Ronaldo Marzagão, infelizmente tamanho problema não pode ser resolvido apenas por caricata empáfia. Sua fábrica de enxugar gelo terá que trabalhar em dupla jornada.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Longe do paraíso
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6 comentários:
Excelente análise, comentário certeiro!
Nick
Belo texto, Jurandir.
Muito bom, cara. Eu gostaria de ter escrito isso, apesar de não morar em Sampa.
Dá uma zoiada no meu modesto blog.
www.casadonoca.blogspot.com.
Abraço.
Caro Jurandir
Arrepia ver essa foto e o seu significado, lembrei da Casa Grande e Senzala. A diferença social é violenta. Você imaginou se a polícia entrar com a mesma fúria no Morumbi?! A rede Globo entra em delírio, assim como os demais componente do PIG.
Isso me fez lembrar os guetos na Alemanha Nazista, o Apartheid, os bantustões.
Ainda há muito que se fazer no Brasil.
Saudações
Avelino
NEGUINHO DA BEIJA-FLOR ANUNCIARIA ASSIM:
OLHA O PEDÁGIO AÍ GEEEENTE
Governo Serra abre caminho para pedágio urbano em SP
Gestão encaminhou à Assembleia Legislativa proposta que permite a cobrança
A Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC) permite rodízios de veículos até em rodovias e estímulo ao transporte coletivo
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL - fOLHA
O governo José Serra (PSDB) encaminhou à Assembleia Legislativa um projeto de lei que prevê a implantação do pedágio urbano em ruas e nas vias de ligação entre cidades das regiões metropolitanas do Estado -São Paulo, Campinas e Baixada Santista. A proposta prevê ainda a criação de sistemas de rodízio de veículos que afetariam até as rodovias.
As medidas estão dentro do projeto que estabelece a PEMC (Política Estadual de Mudanças Climáticas), que compreende uma série de ações para reduzir os níveis de emissão de poluentes em São Paulo.
Excelente!
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