quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Assustador, medonho, horroroso!!!



Até lá, se não rolar, um feliz Natal e um maravilhoso Ano Novo para nossos queridos leitores.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Pensem, por favor

Minhas profundas divergências ideológicas com a Folha de S.Paulo abundam até para a critica de cinema. Não é a primeira vez. O crítico Inácio Araújo não gostou de “Rebobine, por favor”, de Michel Gondry, segundo ele de um humor sem brilho. Não, não é. Não esperem apenas boas piadas, embora existam. O filme tem uma bela poesia e traz uma reflexão interessante para todos, paradoxalmente feita pela própria indústria cultural: o cinema tem agora um novo desafio com a digitalização e a internet. Como será esse novo modelo de negócio? O que amplas massas querem e estão dizendo a esse monopólio? Basta pensar. Sugiro que leiam Felipe Macedo, no Diplô. Segundo ele, o cinema mudou pouco até o advento das tecnologias digitais. O modelo básico de produção, de circulação e de exibição permaneceu o mesmo. Agora há um paradigma novo, com novos processos onde até a difusão já não precisa ser física. E acrescenta que este novo desafio tem muitas semelhanças com a época do surgimento do cinema. Quando, por duas décadas, muito foi tentado e discutido para formatar o cinema como o conhecemos hoje.

É o que a comédia consegue provocar. Elroy Fletcher (Danny Glover) é dono de uma decadente locadora de blockbusters. Vive pressionado pela prefeitura para mudar ou adaptar seu prédio a novas posturas. Sem dinheiro, faz uma viagem para pensar e deixa seu negócio nas mãos do atolado empregado Mike (Mos Def) e inadvertidamente na de seu amigo mecânico Jerry (Jack Black). A primeira e decisiva trapalhada de Jerry é desmagnetizar todo o arquivo de fitas VHS. Em pânico, a dupla resolve refilmar cada fita, conforme sua demanda. São os melhores momentos, onde títulos notórios do cinemão americano são recriados nos mais toscos e criativos recursos. Um exemplo: descobrem que na antiquada câmera há um botão para a imagem ficar em negativo, o que poderia sugerir a filmagem à noite. Mas como os atores ficavam irreconhecíveis, xerocam seus rostos em negativo para serem usados como máscaras. O resultado é hilário.

O negócio bomba quando a comunidade local descobre a nova arte da dupla. E de meros espectadores passam para participantes ativos nas produções, como técnicos e atores. Uma ótima metáfora com a nova geração YouTube, onde alguns toscos filmes são hoje mais vistos do que muitas produções da indústria. Quando sabemos que no Brasil mais de 60% dos jovens entre 15 e 29 anos nunca foram ao cinema e 92% dos municípios não têm sequer uma sala para exibição, o filme da indústria americana tem muito mais a dizer além das piadas.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O que vi no Roda Viva

Não foi muito diferente do que imaginava. Os entrevistadores do Roda Viva levantaram a bola para Gilmar Mendes fazer seu joguinho, repleto de dissimulações, diversionismos e empáfia. Não me impressionei com Eliane Catanhêde, como hoje leio em alguns comentários em blogs. A jornalista da febre amarela fez pose para a foto. A previsibilidade foi antecipada ontem em post do Rodrigo Vianna. Bem sacado, lembrou de quando Brizola esteve no programa, os entrevistadores eram claramente seus inimigos. Um deles, jornalista do Estadão, de notória vocação reacionária, provocou Brizola com uma antiga lenda sobre dinheiro de Cuba para a guerrilha, supostamente embolsada por ele, o que motivou seu apelido de “El Raton” dado por Fidel. O resultado foi antológico. Brizola virou o jogo e chamou o entrevistador diversas vezes de Raton, que a cada momento mais ficava parecido com um rato, acuado na sua maldade.

Gilmar teve vida fácil. E saiu pela tangente nos pouquíssimos momentos de perguntas mais constrangedoras. Indagado sobre os vários processos a seu irmão, em Diamantino (MT), respondeu que eles não existem por não terem chegado à primeira instância, tal questionamento só havia por parte de uma “revista desqualificada”. Não levou em conta que em sua terra não existe estado de direito. A justiça é feita à bala, tal como a que matou a jovem Andréa Paula Pedroso Wonsoski, que fazia oposição a seu irmão. Ninguém ousou questionar, defender o sério jornalismo da Carta Capital, nada a acrescentar. E foi possível ouvir risinhos dos entrevistadores ao fundo.

É a cara de nossa elite, ainda com os dois pés na casa grande. Escárnio com o andar de baixo em caricatos momentos orwellianos, quando falam de “jornalistas de aluguel”. Não, não são os que recebem gratificações de Dantas, que estão com seus nomes arrolados nas investigações da Satiagraha. Não. Segundo Mendes são os blogueiros, que existem por patrocínios obscuros.

É muita canalhice para um dia só.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

E hoje na TV Cultura...



Atualizando: Na pergunta de telespectador sobre as acusações sobre o irmão de Gilmar, a resposta foi escrota: se não chegaram à primeira instância, elas não existem. Simples, disse. E segundo ele representam a falta de credibilidade da revista que fez a reportagem. Alguns risos dos presentes foram ouvidos. Interessante, não leva em conta que lá naquele rincão a justiça é mais embaixo, resolvem pendengas à bala. Tal como as que mataram a jovem Andréa Paula Pedroso Wonsoski.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Carta aberta aos pichadores do Brasil



Meus jovens, não façam isso. Vejam o exemplo de Caroline Pivetta da Mota. Ela, junto com outros pichadores, fez uma intervenção em sala vazia da caduca Bienal de São Paulo. Imaginava ali, em ato de rebeldia, poder expressar seus sentimentos artísticos, inclusive com um enorme “Fora Serra”. Tal obra não foi bem recebida pelo curador da Bienal, que acha que rebeldia não mais combina com arte. Para ele, esse desvio terminou com Marcel Duchamp, quando em 1917 expôs um urinol em salão, denunciando o fetiche da mercadoria na arte. O fetiche ganhou, hoje o urinol vale 3 milhões de euros.

Caroline sofre agora nas mãos da severa justiça brasileira. Está presa há mais de 50 dias e o pedido de hábeas corpus, entrado no último dia 5, até agora não foi julgado. Vejam só a lição. Se a arte de vocês fosse voltada ao uso de informações privilegiadas para obter vantagens econômicas, como Daniel Dantas praticou no plano Collor, ou ao se locupletar no processo de privatização das telefônicas, tentado subornar um delegado da polícia federal, teriam conseguido um hábeas corpus em 24 horas diretamente do presidente do Supremo Tribunal Federal.

Entendam as diferenças (e minha ironia). Pensem nisso e façam melhores escolhas artísticas.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Arquiteto detona a Cidade da Dança de Serra



José Serra tem no atual prefeito carioca um modelo. Cesar Maia, do DEM, vai deixar aos cariocas uma péssima herança e uma obra inacabada que desde seu projeto inicial, que custaria R$ 80 milhões, foi motivo de forte polêmica: a Cidade da Música, agora já custando quase R$ 500 milhões aos cofres públicos, não tem ainda um projeto claro de ocupação, recebe críticas variadas da sociedade, músicos reclamam da falta de prioridade para melhorar o que já existe, pedido de CPI e ação no Tribunal de Contas do Município. Em São Paulo, Serra tenta algo semelhante com a sua “Cidade da Dança”, aqui já comentado pelo fato de custar inicialmente 6 Aerolulas.

A mídia paulista, notoriamente serrista, cobre o assunto burocraticamente. Nada comenta sobre a oposição ao projeto. Ela existe e em parte já está manifestada no próprio site do Sindicato dos Arquitetos de São Paulo. Destaco a opinião de Euclides Oliveira na caixa de comentários da notícia, publicada pelo sindicato:

Meu nome é Euclides Oliveira e exerço a profissão de arquiteto há 39 anos aqui em Sampa, e gostaria de deixar registrado no SASP minha revolta pela contratação de um escritório do "star-system" arquitetônico internacional, sem concorrência.

Os fatos

1 - O governador de São Paulo que contratou este escritório está em campanha aberta para a Presidência da República e pretende gastar 300 milhões de reais (que já sabemos que se transformarão, durante a obra, em 600 ou 700 milhões) visando um já manjado "Efeito Bilbao", em um estado com enormes carências na área habitacional, educacional, de saúde, fundiária, etc. E pagar ao Herzog & de Meuron 25 milhões de reais enquanto que a FDE, por exemplo, paga cerca de 15 mil reais por projeto de escola aos arquitetos tupiniquins, não deixa de ser uma afronta à nossa classe.

2 - O Secretário da Cultura, João Sayad, é um banqueiro (ex?) e político, que ajudou a ferrar o Brasil lá atrás, no plano cruzado do Sarney, além de, quando dono do banco SRL S.A., ter participado ativamente da privatização das Cias. de eletricidade e do Banespa. Só no Brasil mesmo: cultura, artes plásticas, bienais, ficam na mão de banqueiros e políticos profissionais.

3 - Para estar no "star system" internacional não é necessário muito talento arquitetônico, mas sim carisma, ambição social e uma boa assessoria de imprensa. O arquiteto catalão Ricardo Bofill, membro deste "jet-set", disse certa vez que almejava a fama, mas não a do tipo que tiveram Le Corbusier e Walter Groupious, mas sim como a dos Beatles; já Phillip Johnson, ícone maior do estrelismo arquitetônico certa vez respondeu candidamente a um interlocutor que lhe perguntava o porquê de uma solução inusitada: "because I am a bad architect", explicou. Pritzker por Pritzker prefiro mil vezes o Paulo Mendes da Rocha do que o de Meuron.

4 - Os estudantes de arquitetura devem estar indignados; por que os fazem estudar arquitetura brasileira, arte brasileira, cultura brasileira, se no final das contas contratam um escritório suíço cujos titulares mal devem saber onde fica o Brasil e sua capital, Buenos Aires.

5 - Podemos impedir esta barbaridade sim; no Rio de Janeiro os arquitetos foram a luta contra a pretensão do César Maia de contratar o Jean-Nouvel (outro "pop-star" da arquitetura) para construir o Guggenheim-Rio e venceram a batalha.
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Vamos cobrar de nossos jornalistas da mídia oficial o seu dever de casa, que ouçam outros arquitetos sobre o assunto e ofereçam a seus leitores o necessário debate. Afinal, eles pagarão de seus bolsos a conta, precisam de informações. Ou será que com a atual crise da mídia já está em falta esta mercadoria?

Laerte Braga sobre Cesare Battisti

Neste blog já me manifestei pela liberdade e asilo a Cesare Battisti, ex-militante de grupo de esquerda italiano, que está preso no Brasil desde março de 2007, com pedido de extradição do governo italiano.

Hoje, recebi por e-mail artigo do jornalista Laerte Braga, que também defende o mesmo ponto de vista e aborda vários aspectos desta prisão. Vale a leitura:



CESARE BATTISTI


Laerte Braga


Um vídeo mostra o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi limpando o nariz com o dedo, contemplando o peloto retirado e em seguida olhando para os lados. Estava tentando perceber se alguém olhava diretamente para ele. Como achasse que não, colocou o peloto na boca e engoliu-o com o cafezinho*.

Berlusconi é o todo poderoso governante da Itália, dono da equipe da Milan, banqueiro, empresário, reedição contemporânea de Benito Mussolini. E asqueroso. O fato narrado no primeiro parágrafo embora sugira apenas algo nojento é bem mais que isso, é conseqüência de um desvio de personalidade, digamos assim, traço revelador de um caráter perverso.

O simples fato de ser banqueiro já mostra a natureza do seu caráter. Banqueiros não têm idéia que existam outros, tão somente acreditam num bando de dependentes de seu dinheiro. Os explorados. Que, por sua vez, não percebem que o dinheiro dos banqueiros é deles explorados. Banqueiros são saqueadores e quando governantes ampliam a área do saque.

O governo da Itália com base em premissas falsas pediu a extradição do escritor Cesare Battisti, preso faz quase dois anos no Brasil. Battisti é acusado de “terrorismo” por ter pertencido a um grupo de luta armada na Itália. Da prática de “atentados” contra instituições, próprios e cidadãos italianos.

Um dos integrantes do grupo, quando preso, negociou penas menores e vantagens no seu processo atribuindo a culpa dos atos de guerra a Battisti. No caso específico quatro “homicídios”.

O escritor, que havia abandonado o grupo por divergências políticas ficou exilado na França durante o período em que o socialista François Mitterand foi presidente daquele país e em seguida veio para o Brasil. Os governos franceses à direita e que sucederam Mitterand pretendiam entregá-lo à “justiça” italiana, onde está condenado, como conseqüência da delação de um antigo companheiro, a prisão perpétua.

Há indícios, vestígios, que o pedido de extradição de Battisti feito pelo governo da Itália tenha sido negociado com o governo do Brasil em troca de Salvatore Cacciola. O banqueiro foi preso no principado de Mônaco onde passava um fim de semana e num processo longo e demorado foi extraditado para o Brasil. Cacciola havia passado outros fins de semana em Mônaco e nunca fora importunado pelas autoridades do principado. Um dos pilares do governo de Mônaco é acolher indistintamente todos os milionários que lá aportam sem perguntar como ficaram milionários, o que fazem, ou o que fizeram. É uma espécie de oásis para esse tipo de criminoso.

Cacciola, nas vezes anteriores que lá esteve, foi tratado como cidadão de primeira categoria.

Se o acordo é vero não sei, mas que os fatos apontam na direção de algum acordo isso apontam.

Onde há fumaça há fogo.

O Conselho Nacional de Refugiados (CONARE) rejeitou em 28 de novembro o pedido de refúgio político feito por Battisti através de seus advogados. Acusado de pertencer ao grupo Proletários Armados para o Comunismo, Battisti foi condenado à revelia por quatro homicídios.

A decisão do CONARE não foi unânime, embora não tenham sido dados detalhes. Mania das autoridades de um modo geral em quase todos os países do mundo de se eximirem de responsabilidades diante de fatos ou injustiças como a decisão do Conselho.

A sorte de Battisti está em mãos do ministro da Justiça Tarso Genro. Há um recurso a ser apreciado pelo ministro que pode conceder ao escritor a condição de refugiado. Caso contrário Battisti terá o processo de extradição julgado pelo stf (antigo supremo tribunal federal hoje dantas &e dantas s/a) e se for julgado procedente o pedido do governo italiano Battisti será extraditado.

No Brasil não existe a prisão perpétua. Uma das condições para que Battisti possa ser extraditado será um compromisso do governo italiano para que o exilado não seja condenado a pena superior a 30 anos. Na prática prisão perpétua. Battisti tem 53 anos e sairia da cadeia com 83.

Os supostos crimes cometidos por Battisti foram julgados pela justiça comum italiana. Não foram, como o são, considerados crimes políticos.

Já não existe mais o amparo para estrangeiros casados com mulher brasileira, ou pai de filhos brasileiros como condição para que sejam negados pedidos de extradição, como aconteceu com o célebre Ronald Bigs, assaltante do trem pagador inglês.

É da tradição do Brasil abrigar exilados políticos dos mais variados matizes ideológicos. Foi assim com George Bidault, ex-primeiro ministro francês e que aqui se refugiou quando De Gaulle assumiu o governo e decidiu conceder a independência à Argélia. Uma guerra civil que se prolongava há anos e arrasava, em todos os sentidos, a França. Bidault foi contra a política de De Gaulle e fez parte de uma organização formada por militares e civis de extrema direita que se opunha às determinações e às políticas de Charles De Gaulle.

Com a revolução dos cravos em Portugal o ex-primeiro Marcelo Caetano, de extrema-direita, buscou asilo no Brasil e foi acolhido, a despeito dos crimes cometidos pela ditadura salazarista, como refugiado político.

Cito dois exemplos, existem vários.

Uma coisa é abrigar mafiosos e criminosos comuns. Outra coisa é entregar à sanha de um governo fascista como o de Berlusconi, um refugiado político lato senso. Condenado pela justiça comum por supostos crimes cometidos entre 1977 e 1979.

Não é da tradição brasileira (ressalvado o período fascista de Vargas e a ditadura militar) ignorar pedidos de asilo como o feito por Battisti, dar-lhe a condição de refugiado político.

O fato de não ter havido unanimidade na votação do Conselho Nacional de Refugiados (CONARE) já sugere que, no mínimo, independente de acordo ou não, existem os que pensam contra a maioria dos membros daquele conselho.

O governo brasileiro recentemente, por decisão do judiciário, entregou o traficante Abadia ao governo dos Estados Unidos. E até essa foi uma decisão complicada, na prática, se bem pesada, de subserviência, característica distinta da tradição pautada no direito internacional, ou na fumaça de bom direito, como gostam de dizer juristas.

Abadia cometeu vários crimes, por anos seguidos, no Brasil e antes de qualquer extradição deveria ter sido submetido a julgamento aqui, cumprido pena aqui, para depois então ser extraditado e prioritariamente ao seu país de origem, a Colômbia. Muitos especialistas entenderam assim.

Causou estranheza a pressa com que as autoridades brasileiras cederam às norte-americanas. Não é novidade esse tipo de concessão, em qualquer área, mas foi estranha a pressa.

É fundamental resgatar valores e princípios de solidariedade e justiça dos brasileiros a partir do Estado brasileiro. Do mínimo que resta de Estado como instituição pública, longe de interesses privados ou de políticas mesquinhas.

O ministro da Justiça Tarso Genro tem em mãos a caneta que pode devolver ao Estado parte desses valores e princípios concedendo a Cesare Battisti a condição de refugiado político.

Não é um ato humanitário tão somente, diante das perspectivas sinistras no caso da extradição. É um ato de reafirmação da soberania do Brasil calcada em valores universais de direitos humanos.

* O arquivo mostrando o comportamento do primeiro-ministro Berlusconi não foi carregado neste artigo, mas está à disposição de quem o quiser.


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Bem, o Laerte Braga é um cavaleiro, teve pudores em mostrar tamanho exemplo de depravação. Como sou menos educado e acho que o povo precisa olhar a cara e os atos imundos das classes dominantes, mostro aqui.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A volta da Tribuna da Imprensa

A Tribuna da Imprensa volta às bancas nesta quinta-feira. Segundo Hélio Fernandes, temporariamente será semanal, diz a nota do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro:

A edição impressa da Tribuna da Imprensa volta às ruas amanhã, pela primeira vez, desde que teve sua circulação suspensa no último dia 2. O jornalista Helio Fernandes disse que a partir de agora, temporariamente, a Tribuna terá distribuição semanal, sempre na quinta ou na sexta-feira. “O jornal não pode morrer”, destacou.

Nesta quarta-feira, em Brasília, o senador Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC) sugeriu que os senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Mão Santa (PMDB-PI) apresentem requerimento para realização de uma audiência pública sobre o fechamento da Tribuna. Para Mesquita Jr., que presidia a sessão, o periódico tem “uma importância histórica” e os motivos da interrupção de sua circulação precisam ser discutidos.

Os senadores Mão Santa e Simon tinham acabado de criticar, em pronunciamentos na tribuna, a suspensão da circulação do jornal, ocasionada por dois motivos: problemas de ordem financeira e em protesto contra o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal (STF), que há dois anos analisa um processo da Tribuna da Imprensa contra a União, por danos materiais.

Fernandes disse que está otimista com as declarações de solidariedade que recebe dos representantes do Congresso Nacional e da Assembléia Legislativa do estado do Rio, além das pessoas que o encontram e cumprimentam na rua. “A recepção é magnífica”, acentuou. A edição eletrônica do jornal pela Internet será mantida e atualizada diariamente, com a ressalva de estar momentamente com o seu conteúdo reduzido.

No pronunciamento desta quarta-feira, Mão Santa disse que anunciava "com tristeza" a interrupção da circulação do jornal. Ele destacou a "beleza histórica" do periódico, que "surgiu para acabar com a ditadura (de Getúlio) Vargas e enfrentou a (ditadura) militar".

Pedro Simon pediu que fosse transcrita nos anais do Senado a entrevista concedida por Helio Fernandes ao jornal Zero Hora, de Porto Alegre, na qual ele diz que, caso a Justiça atendesse a sua demanda referente à indenização, a Tribuna teria recursos para voltar à normalidade.

Os profissionais da Tribuna da Imprensa, que continuam mantendo o vínculo empregatício com a empresa, foram dispensados no dia 1º dezembro com a promessa de voltarem ao trabalho tão logo o jornal receba a indenização referente à ação que tramita no STF.


O que chama minha atenção é que entre a briga por uma melhor gestão, as devidas cobranças ao STF, a corda arrebenta do lado dos mais fracos: os trabalhadores da empresa, que estão sem receber salários.

Botando o PIB na mesa


A charge é um remix de outra, de 24 de abril último. O que posso fazer se a realidade teima em se copiar?

Quem vai ouvir o grande Evanildo Bechara?

Ontem estava me preparando para escrever sobre a decisão do TJ do Rio de Janeiro que condenou Daniel Dantas a pagar R$ 100 mil à juíza Márcia Cunha por danos morais. Mas, o tempo curto me fez adiar o post. Escreveria sobre o grande júbilo que sinto pela justiça feita. Márcia Cunha foi barbaramente perseguida. Lembraria do que esse blog falou a respeito, publicando a vergonhosa entrevista feita pela jornalista Janaína Leite, onde a juíza foi acuada por perguntas do interesse de Dantas. A justiça foi feita e as palavras do juiz foram severas:

"salta aos olhos (...) a forma vil, ardilosa e perseguitiva" usada para atacar a juíza e atingir sua "honra, reputação e conceito profissional".

Hoje, li algo no blog do Nassif que me deixou curiosíssimo. Evanildo Bechara, famoso lingüista, autor de inúmeras obras de gramática que freqüentaram nossos estudos, foi consultado para receber R$ 30 mil por um parecer favorável a Dantas, apenas dizendo que a sentença da juíza não era dela, o que recusou. Tal surrealismo já era conhecido, e coube ao “imortal” Antonio Olintho aceitar tal encomenda, aparentemente com um desconto no valor do agrado. O que fica é a minha enorme curiosidade para ouvir as precisas palavras do nosso grande gramático sobre o episódio. Que mídia temos para ouvi-lo?

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

As gracinhas de Serra

O que seria da oposição sem a bela ajuda da mídia? Na Folha de hoje há um claro exemplo de como a desinformação é usada para confundir e ajudar o grupo que está com saudades do butim:


REAÇÃO

Partidos de oposição dizem que PT é culpado pela crise econômica

Os presidentes do PSDB, DEM e PPS criticaram ontem a cúpula do PT, que culpou a oposição pela crise. Em nota, Rodrigo Maia (DEM), Sérgio Guerra (PSDB) e Roberto Freire (PPS) disseram que a culpa pela atual situação é do PT, que se mostra incapaz de apresentar um programa contra a crise. O governador José Serra (SP) foi irônico: "O PSDB saiu do governo em 2002. Então tem um poder extraordinário".


Como a maioria dos leitores de um jornal não acompanha as notícias todos os dias, fica fácil manipular para que entendam algo diferente. Quem leu hoje a nota vai achar que há uma discussão sobre gestão. E é este o objetivo da oposição, a de responsabilizar o atual governo por qualquer efeito da crise. Mas o que disse a cúpula do PT, que motivou esta reação e que a Folha não reproduz?

Em seminário no domingo, o secretário nacional de comunicação do PT, Gleber Nalme, disse:

“A crise tem pai e mãe. Ela é uma crise do modelo neoliberal, daqueles que no Brasil defenderam as idéias de desregulamentação do Estado, ou seja, o PSDB e o DEM. E esse debate o PT vai fazer. Os neoliberais perderam”.

Certíssimo. Isso se chama discussão política. A atual crise representa o fim de um modelo, repetido e reproduzido em quantidade pela mídia ao longo de muitos anos. Perderam. A vai ser muito difícil juntarem os pedaços de seus velhos discursos para emendar um novo. Daí, vem um José Serra fazer gracinha como se não tivesse entendido a questão.

E os Aerolulas de Serra, nada?

Vocês lembram da mídia fazendo campanha contra o novo avião presidencial de Lula? Virou o Aerolula. Uma chacota contra a decisão de abandonar um velho avião obsoleto e notoriamente perigoso por algo mais moderno e útil, nas inúmeras e necessárias viagens presidenciais. Diziam que era um gasto altíssimo e desnecessário. Perderam o gás depois, inventando novas campanhas. Pois... Pelo preço de seis Aerolulas o governo José Serra decidiu, sem concorrência, fazer uma sede para a Companhia de Dança de São Paulo. Foi contratada a caríssima equipe de arquitetos suíços que fez o Estádio Olímpico de Pequim, o Ninho de Pássaro. Tal fato motivou uma intensa discussão entre arquitetos tupiniquins, intrigados com o valor, com a opção pelos suíços e com a real necessidade de tal obra, em detrimento de outras.

Quantas reportagens foram feitas para reproduzir esta discussão? Nenhuma. Fiquei sabendo do assunto em uma nota na última Carta Capital e pesquisando e descobrindo que foi post no blog do Favre.

Um belo exemplo da “imparcialidade” de nossa mídia.

A crise da mídia (2)

Notícia desta segunda. O grupo Tribune, que controla os tradicionais Los Angeles Times, Chicago Tribune, The Baltimore Sun, Orlando Sentinel e mais um penca de jornais, além de um time de beisebol, o Chicago Cubs, pediu concordata. Provavelmente é o início da falência de um modelo, algo que também tem ou terá em breve reflexos no Brasil. Junto veio a informação de que o New York Times vai hipotecar sua nova e suntuosa sede.

Foi explosiva a combinação de empresas familiares sendo obrigadas a rápido processo de troca de gestão, pressionadas por radicais mudanças tecnológicas com a suicida perda de credibilidade depois de oito anos de era Bush, onde foram partícipes do pior da política. O resultado é este desprazer que sentem em vivenciar algo parecido com o gosto de derrota que a indústria fonográfica sentiu com o mundo digital. Novos leitores, e alguns tradicionais, preferem hoje as variadas notícias e seus comentários na internet. Perderam o hábito do jornal no café da manhã e desprezam as esvaziadas e comprometidas coberturas jornalísticas na TV. Acham melhor escolher o que ver no YouTube.

O capitalismo está sempre arquitetando saídas, uma cura. Mas não pára de inventar novos venenos.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Sintomas da guerra perdida

Vou confessar uma perversão: adoro ver os meus inimigos estrebucharem na derrota. É o que assisto quando Diogo Mairnardi dedica um podcast para tentar desqualificar blogueiros. Êta guerra gostosa. “Velhos jornalistas de terceira linha, com a carreira definitivamente acabada”, diz sobre eles. Ah, quanta alegria. A voz da senzala ofusca no Olimpo as belas-letras dos escolhidos de Mercúrio. Quem diria? A seção de cartas ganhou importância neste mundo novo, para desespero da terceira linha do jornalismo, que ainda resiste em suas arcaicas trincheiras.


Talvez não seja só isso. Perceba que apenas dominar a língua, essa velha arma das classes dominantes para se colocar em distância ao gentio, não garante todo o seu poder. É um repertório básico, pode ser conseguido com um bom curso fundamental. Nem precisa de mestrado, doutorado. Carlos Drummond de Andrade o fez, formando-se depois em farmácia para agradar aos pais. Depois ingressou no serviço público. Seria possivelmente hoje apenas mais um blogueiro para atormentá-lo. Ainda bem que existiu um Correio da Manhã e um Jornal do Brasil para divulgar aquela profusão de belas palavras, concatenadas para expressar uma incontida ligação com a vida, nosso povo, suas alegrias e angústias.

Algo onde vejo que a obra mainardiana nunca terá reconhecimento. O tempo é cruel com o conteúdo formado apenas por clichês preconceituosos. Se ao menos existisse aí uma bela forma...

Sinto, Mainardi, você perdeu. E estou brindando por esta alegria. É a guerra, entenda.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Chora Serra!

Crise, que crise?

Ok, ok. O Lula disse que estávamos blindados. Que seria uma marola a crise. A imprensa certamente conhece, e usa sem parcimônia uma das máximas - quantas há, aliás? - da economia que as profecias se auto-cumprem. Caligaris hoje fala de novo sobre a confiança que temos que ter na confiança alheia para que a "economia" funcione. Li artigos e mais artigos sobre como essa lógica funcionaria. Em Copacabana, isso seria chamado de maria vai com as outras.
Vamos aos fatos. Miriam Porcao et alli devem saber mais que eu sobre o tal funcionamento do mercado. Mas não. Tampouco sabem sobre lógica, mas conhecem muito bem como acionar o pânico para que esse se dissemine. Ela e outros vão, todos os dias, acreditando que a crise chegou, vai piorar e que qualquer ação anti crise que seja minimamente otimista deve ser evitada como o diabo foge da cruz. E cá estamos, com medo da crise que os banqueiros bonzinhos - oxímoro lido no Veríssimo de hoje - criaram, de fato exista.

Mas já que estamos tratando de crenças, eu prefiro crer que quem anda com fé vai, que a fé não costuma faiá :)

. ei, sei que o bicho tá pegando, mas precisamos repetir tal como mantra (sic)?
. esses caras estão ganhando com isso. Não precisa pensar muito pra sacar.

Grande Hélio Fernandes!

"A coletividade ganha mais com 10 mil exemplares de BRAVURA, do que com 282.182 exemplares de COVARDIA."


Na coluna de Hélio Fernandes, agora apenas na internet, comparando seu jornal fechado a Folha de S.Paulo, que, entre tantos sintomas de depravação, usou sua frota de carros para transportar presos políticos para serem torturados.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

A crise da mídia

A sentença do juiz De Sanctis marca mais um capítulo das infâmias recentes do cartel midiático brasileiro. A imprensa foi participante ativa do massacre ao juiz, junto a parlamentares e ao presidente do STF. A opinião pública saiu majoritariamente com a alma lavada. Não entrou no jogo e comemorou a decisão. Esta nova derrota, que soma às variadas tentativas frustradas de organizar oposição ao atual governo, leva às inevitáveis reflexões sobre o papel da mídia, sua atual força e sua notória crise. E são nestas dificuldades econômicas onde há algo a ser pensado, que talvez ajude a melhor explicar tantos desastres.

Vale agora a releitura de um texto de março de 2004 do professor Guastavo Gindre, membro do Comitê Gestor da Internet do Brasil. Nele, um bom relato das dificuldades da mídia para entender a mudança de seus negócios, os erros praticados e a tentativa de pressionar o Estado para salvar suas empresas. Em um resumo da ópera: durante o governo FHC, certamente alertados por seus consultores, as empresas de comunicação entenderam que no breve futuro celulares falariam com as TVs, os jornais em papel perderiam força, a internet chegaria a muitos e tudo iria mudar em sua forma de fazer negócios. Convergência era palavra nova. Tomaram várias decisões. A Folha criou o UOL, em parceria com a Abril, depois com a Portugal Telecom. O Estado de São Paulo investiu na BCP, de telefonia celular, assim como a RBS se associou à Telefônica de Espanha. A Abril investiu em provedor de acesso, portais temáticos, canais de televisão paga, etc. A Globo diversificou indo da eletrônica (NEC) à transmissão de dados (Vicom), passando por pager, TV a cabo e Internet. Neste mundo novo, nem tudo deu certo, com micos notórios, que foram somados às dívidas anteriores, em dólar, resultado de outros erros de avaliação. Talvez tenham lido e acreditado na Miriam Leitão, prata da casa, paciência.

O resultado foi um rombo de R$ 10 bilhões no setor, onde a Globo detinha 60%. Isto em um cenário de perda de publicidade e queda de circulação de seus impressos. Para se ter uma idéia do estrago, em abril de 2007 o ex-ombudsman da Folha, Marcelo Beraba, em entrevista ao Observatório da Imprensa, reproduzida no Vermelho, dizia: “Os três grandes jornais perderam nos últimos cinco anos aproximadamente um terço da circulação. Isso equivale a dizer que um deles já teria acabado”.

Mas, para efetivamente entender o ponto: assim que o governo Lula tomou posse, os representantes do setor formalizaram em Brasília um pedido de ajuda. Chegaram à época comentar algo em torno de R$ 2 bilhões, dinheiro via BNDES. O que nunca aconteceu. O resto da história fica agora melhor conhecido.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O fechamento da Tribuna da Imprensa

É uma pena, sou leitor diário do Helio Fernandes, o acho mais interessante que uma penca dos colunistas de nossa mídia. Mas o fato é que o fechamento do jornal era esperado há muito. A Tribuna é o diário carioca com o maior índice de ações trabalhistas, mesmo com uma redação menor que a de seus concorrentes. Há dívidas diversas com fornecedores. Segundo o sindicato dos jornalistas do Rio, a empresa sempre foi mal administrada, vivendo apenas pelo personalismo de seu dono. O que Hélio agora deseja é receber uma indenização pelas perseguições durante a ditadura, recebendo um troco para pagar fornecedores e possivelmente a alguns funcionários. Dificilmente resolvendo em definitivo o problema do jornal. O que é uma pena. O Rio já teve diversos diários, alguns extremamente combativos. O fechamento da Tribuna parece enterrar de vez a possibilidade de haver alguma opção ao cartel midiático.

Ps: A empresa declarou que pretende continuar na internet. Conseguindo, será talvez um forte sinal da chegada do futuro na mídia brasileira.

Hélio Luz e a nova senzala

Como fazer tese é de graça, faço uma agora: a atividade policial leva o sujeito a viver algumas das mais agudas contradições da sociedade. Ele vê em seu dia-a-dia os mecanismos do poder, da exploração, nossas mais abjetas mazelas. Quando conseguem se livrar das inúmeras atrações da cooptação à bandidagem, se transformam em cidadãos pensantes de primeira linha. É o motivo da longa admiração que tenho pelo ex-delegado e ex-deputado Hélio Luz. Há 8 anos se viu na mira dos holofotes da mídia, que tentava sua desqualificação o envolvendo em negócios com a máfia das quentinhas para presidiários no Rio de Janeiro, quando era delegado em 1990. O objetivo era claro, semelhante ao que agora fazem com o delegado Protógenes e Paulo Lacerda: enfraquecer suas inúmeras e firmes denúncias ao funcionamento do esquema podre da polícia, que envolvia políticos e onde a mídia tinha suas ações preferenciais. A acusação pouco resistiu, sumindo rapidamente do noticiário. Principalmente depois que o então deputado contra-atacou com pedido de CPI para mostrar suas próprias contas e a de todos os funcionários que se relacionaram com a empresa de quentinhas.

Sua capacidade de análise é grande. Sua experiência é enorme. E consegue pensar politicamente, denunciando como a corrupção está relacionada ao próprio sistema capitalista, o que transforma suas críticas em algo muito mais contundente. Hoje, afastado da política e da atividade policial, por incompatibilidades várias e problemas de saúde, li artigo seu publicado no portal do PT. É um dos mais claros textos onde a cortina que esconde o funcionamento da podridão do nosso sistema é aberta e podemos entender com clareza seus mecanismos. Publico aqui com comentários:


A Favela é a Senzala do Século XXI

Por Hélio Luz

Onde, realmente, está o crime organizado? Como podem os desapropriados, explorados e oprimidos se organizarem numa máfia? A questão do estado paralelo foi colocada em evidência por ocasião da morte de um jornalista, com a notícia de que ele foi seqüestrado, julgado, condenado e morto por um bando. Isso, no Tribunal, foi considerado estado paralelo e, em cima, a colocação de crime organizado. Acredito que exista o estado paralelo, mas não é isso. A marginalidade não constitui estado paralelo.

A favela é um gueto que substituiu o local da senzala. É a senzala do século XXI, onde se situa a reserva de mão de obra, os negligenciados pelo Estado - reserva mantida pelo sistema de exploração. É aí que vamos tocar na origem da polícia, criada para fazer o controle dessa população. Em 1808, era o controle social dos escravos, agora é o controle dos favelados - os negligenciados.

Obs1: E prova que a principal tarefa desta polícia é controlar esta população é o uso do Caveirão nas favelas. Alguém acredita que ele funciona para prender traficantes? Claro que seu objetivo é o de aterrorizar os moradores. Fazem hoje o mesmo que há muito era feito contra a senzala.

Falemos do Rio de Janeiro, porque fica mais específico. A tendência aqui é jogar para as áreas de exclusão a prática do crime organizado e o estado paralelo. Estado paralelo é aquele que dá enfrentamento ao Estado e modifica as suas decisões. Aquele bando que existe lá no Morro do Alemão não tinha condição de fazer isso. Eventualmente, uma quadrilha identificou um repórter que atravessava informações. Ela o considerou inimigo e o executou. Assim, fica mais explícita a tendência de jogar para as áreas de exclusão a prática do crime organizado. Ao se falar em Estado paralelo, aqui no Rio de Janeiro, estamos falando, por exemplo, na Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros). Ela, sim, enfrenta e impõe suas decisões ao governo. Ela coloca oito mil ônibus nesta cidade, que não têm capacidade para isso.Todos os poderes do Estado se submetem à sua vontade. Mantém o controle do Metrô e de todo o transporte urbano no Estado do Rio de Janeiro, para fazer sua frota circular, independente de que isso contribua, ou não, para melhor qualidade de vida do cidadão. No Rio de Janeiro é constante o congestionamento, porque fazemos transporte urbano de massa em ônibus, o que é inadmissível numa metrópole.


Obs2: Bingo! Quantas reportagens você já leu na mídia com denúncias contra a Fetranspor? Nada. Por que será? Nenhuma política pública de transportes existirá com a Fetranspor.

A Fetranspor sempre atuou com força decisiva dentro da Assembléia Legislativa e nos demais poderes do Estado, inclusive no Poder Judiciário. Também em Brasília ela mostra suas garras. É a esta capacidade de agir que eu chamo poder paralelo. O criminoso comum não tem esta capacidade financeira e de organização.

"Ah! Ele está no tóxico, no narcotráfico, tem muito dinheiro."

É outra inverdade. O narcotráfico vem sendo usado como senha para fazer o controle social, em todo o país. É simples. Se o pessoal da favela tivesse mesmo o poder e a quantidade de dinheiro que dizem, faria o controle de fora, mas aquele varejista que controla a droga fica na própria favela. Ele nem sabe para quem trabalha.


Obs3: É a proletarização do narcotráfico nas favelas, bem diferente da idéia que tentam vender. Quem leva as drogas para lá? Quem controla? Quem lucra?


O jogo do bicho está infiltrado em todos os Poderes constituídos!

Um dos crimes organizados no Brasil, não só no Rio de Janeiro, é o jogo do bicho. A definição que temos de crime organizado é: primeiro, ser cartelizado. No Rio de Janeiro, o controle do jogo do bicho na zona oeste é da família do Castor de Andrade, o da área da Tijuca é do Haroldo da Tijuca, em Nilópolis reina o Anísio Abraão Davi, em Niterói são outros.

Segundo: o jogo do bicho existe em nível nacional. O Estado da Bahia dá descarga para a família do Castor de Andrade, o Acre faz a descarga com o Luizinho da Imperatriz, o de Minas Gerais faz a descarga no Anísio, e por aí vai. O jogo é controlado e organizado em nível nacional.

Terceiro: este crime está infiltrado nos poderes constituídos. Ele elege a representação política dele dentro da Assembléia Legislativa, da Câmara dos Deputados e da Câmara dos Vereadores. Banca campanhas voltadas para o Poder Executivo. No geral, ele tem influência em todos os poderes, inclusive no Judiciário. Porém, nos estados do Norte e do Nordeste a miséria é tanta que ele não consegue nem chegar. É uma situação diferenciada, mas no Sudeste e Leste ele tem peso.

É bem visível no Carnaval, a presença do crime organizado no poder constituído: a Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro), a liga que eles montaram, é a direção do jogo do bicho, do crime organizado. Ela aluga o espaço público, o Sambódromo - a direção do crime organizado é parceira do Estado. Aí está a característica do crime organizado. Nós vamos ver o prefeito do Rio de Janeiro com colete, em que de um lado está escrito Riotur e do outro Liesa. É o crime organizado bancando e organizando o Carnaval do Rio, o maior evento turístico do país!


Obs4: E ao vivo e a cores para todo o Brasil. Chega a ser vergonhoso o tratamento que a mídia dá aos contraventores no Carnaval, sendo entrevistados como autoridades.

O jogo do bicho opera com o homicídio, é mantido pelo sangue!

O jogo do bicho não é um negócio inocente. Todo mundo acha que não tem problema nenhum, até a vovozinha joga. Não é isso, não! O jogo do bicho é mantido pelo sangue. Numa área determinada, ninguém faz concorrência, porque no dia seguinte vai ser morto. O jogo do bicho opera com o homicídio, o mais grave dos crimes que existe para o homem.

A desculpa do administrador público incompetente é que o crime organizado está na favela. Favelado não constitui crime organizado, mas bandos. Lógico, tem bando lá no Alemão, no Jacarezinho, mas esse pessoal não é cartelizado.

"Ah ! Tem Comando Vermelho, tem Terceiro Comando!"

Mas eles se engalfinham. Eles se enfrentam permanentemente - diferente dos banqueiros do bicho que não se enfrentam, nem delatam o outro. O Disque Denúncia vive em função da delação que o Terceiro Comando faz do Comando Vermelho e vice-versa. Para justificar a incompetência, eles dizem que os bandidos do Rio de Janeiro estão vinculados com os bandidos de São Paulo.

Só quem não conhece a polícia acredita nisso. Pode, eventualmente, um marginal do Rio ter relação com outro de São Paulo, mas isso não quer dizer que seja um nível de relação de organizações criminosas. Em São Paulo, eles acabaram com a direção do PCC (Primeiro Comando da Capital). Acabou o PCC. Onde está a direção aqui do Rio?

O que acontece no Rio de Janeiro? O chamado crime organizado é mantido pela organização que existe dentro do próprio Estado. É a própria polícia que mantém isso. Uma boa parte da polícia do Rio de Janeiro é corrupta! Essa afirmação não constitui novidade. Basta procurar nos jornais nos últimos três meses. É essa polícia corrupta que mantêm o narcotráfico no Rio de Janeiro. Não só as polícias civil e militar do Rio de Janeiro mantêm os pontos do narcotráfico do Estado, mas também a Polícia Rodoviária Federal e a Polícia Federal. O aparelho de repressão do Estado do Rio de Janeiro é corrupto de tal forma, que concorre com ele mesmo.

Este é o problema que ninguém quer tocar: o Estado brasileiro é um Estado altamente corrupto! Só este Estado corrupto pode manter o sistema capitalista, porque a corrupção é inerente ao sistema capitalista. Então fica tudo em casa. Essa polícia corrupta não vai tocar no rico, pôr o burguês na cadeia; não vai investigar o dinheiro desviado do Fisco e do Tesouro; tampouco vai investigar o Estado por dentro. É o grande acerto de contas que existe. Quando falo Estado Brasileiro, estou falando de Poder Executivo, governador, prefeito, presidente da República, seus secretários e ministros; do Poder Legislativo, Câmara Federal, Senado, Assembléia Legislativa e Câmaras de Vereadores, Poder judiciário e todos os tribunais.

A função desse Estado é arrecadar dinheiro: uma parte vai para a classe dominante fazer a sua manutenção e o restante é gasto no controle dos negligenciados. Não vê isso quem não quer! Quando a "mídia" fala em crime organizado e estado paralelo nas áreas de exclusão ela está desinformando o povo. Não é lá que eles estão!

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Hélio Luz foi deputado estadual pelo PT na última legislatura, não aceitando renovar sua candidatura. Foi Secretário de segurança do Governo do Estado, prestando inúmeros e corajosos depoimentos sobre a truculência e corrupção no aparato policial.


Perfeito. Vale mais que muitas teses de doutorado.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Crise na PF? Que crise?


Para o bem de sua saúde, não faça o que fiz. Tinha acabado de ler a última e excelente edição da Carta Capital quando fui ler a Folha de hoje. Matéria da repórter Catia Seabra fala de insatisfação na PF, começa assim: “Em meio à crise que abala a instituição, setores descontentes da Polícia Federal já defendem publicamente a substituição de seu diretor-geral, Luiz Fernando Corrêa.”

Vem cá. Crise, que crise? A que a Folha, Veja, Globo e Estadão tentam criar. Querem de todo o jeito enterrar de vez o delegado Paulo Lacerda, há três meses vivendo na clausura de um mofento escritório público. Transformá-lo em vilão é o melhor caminho para salvar as evidentes ligações da mídia com os negócios escusos de Daniel Dantas. Evitam que a PF volte a ser um exemplo de eficiência neste governo. É vil tentativa. E estúpida, a cada dia fica mais claro para a opinião pública que querem proteger um ladrão e seus aliados, inclusive na imprensa.

Só entende quem namora

Acho sempre instigante quando um filme divide a crítica. Normalmente há nele algo de relevante. É o que acontece com Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen. O crítico Pedro Butcher, da Folha, detonou a estréia do filme em Cannes. Oportunismo e conveniência foram palavras citadas para definir a escolha de Barcelona, depois do aporte de um bom patrocínio da prefeitura da cidade catalã. A mesma crítica é repetida por Arthur Dapieve na última sexta, no Globo, que afirma ser um mero filme de encomenda. E mais falam para sustentar a tese sobre um trabalho preguiçoso, vazio, apenas marcado por aparências e clichês,

Bobagens. Vi o filme antes de ler as críticas e o achei um dos trabalhos mais maduros de Allen. Divertido e ao mesmo tempo incômodo. Impossível vê-lo sem haver um dedo de identidade com algum momento dos personagens. Ali estão nossas dúvidas, procuras, obsessões, mesmo em um universo tão pequeno. E Barcelona não é apenas um merchandise de cidade, algo comum hoje nessa indústria. Há muito sentido para tal no roteiro. Todos os personagens de alguma maneira estão envolvidos em dar expressão criativa para suas questões. Vicky (Rebecca Hall) estuda a cultura catalã, Cristina (Scarlett Johansson) fotografa. São envolvidas em trama amorosa com Juan Antonio (Javier Bardem), pintor que aparentemente roubou o estilo de sua grande amada também pintora, Maria Elena (Penélope Cruz). Nada distante da vivência de lugar onde um arquiteto fez uma das obras mais inusitadas do planeta, muito além de paredes e tetos, um dos mais autênticos berros pela expressão.

É típica comédia de costumes, com encontros e desencontros, ótimos diálogos. Questionamentos sobre o desejo pelo outro. A tentação. A resignação. Os mais fortes sentimentos em um turismo acidental. Todos vivem intensas emoções, e terminam como começaram. Não há respostas fáceis. Difícil um crítico ser preciso sem ter vivido escolhas pela vivência de uma paixão arrebatadora, ou reconfortante amor previsível, com conseqüentes culpas, ou pela neurose do amor mal ou bem vivido, e perdido. É o que fica da dificuldade de nossos ingênuos críticos. Não é possível entender sem vivenciar as enormes dificuldades de realizar o desejo, algo muito além das fantasias.

Daí gostei mais da crítica despretensiosa de Cotardo Calligaris, na Folha, com sua manha psicanalítica:

“O amor e a paixão não nos fazem necessariamente felizes, mas são uma festa e uma alegria porque deles podemos esperar ao menos isto: que eles nos tornem um pouco outros, que eles nos mudem. Agora, nem sempre funciona...”