segunda-feira, 14 de junho de 2010

Cayman, o retorno?


Passei o final de semana lendo "Cayman, o dossiê do medo", livro de 2002, de autoria do Leandro Fortes, um dos repórteres que cobriram o caso. Desejava relembrar os fatos e estava com um forte palpite que muito ali se relaciona a assuntos atuais, tanto pela volta ao noticiário da palavra dossiê, quanto a alguns dos personagens envolvidos direta ou indiretamente naquela treta. Para quem não conhece a história, ou não lembra, um resumo da ópera, para lá de bufa:

Em agosto de 1998, Oscar Barros, empresário da comunidade brasileira de Miami, especialista em negócios escusos, curtia cruzeiro pelo Caribe quando conheceu um advogado americano de Nova York que demonstrou grande conhecimento sobre a política brasileira. Embalado por boa bebida, o americano confessou que sua empresa administrava uma conta do interesse do governo brasileiro, que tinha como procurador o recém falecido ministro de FHC, Sérgio Mota. O dinheiro estava depositado em um paraíso fiscal do Caribe e passara a novo procurador, Ricardo Sérgio de Oliveira. Bastou para acender a luz da cobiça na cabeça de Oscar. Por dias os dois conversaram o suficiente para o brasileiro fechar ao final da viagem, por US$ 1,2 milhão, a compra de documentos que comprovassem a informação da conta.

Os passos seguintes são dignos de um roteiro cinematográfico de qualidade duvidosa, boa parte passado em escritórios da Brickell Avenue, centro empresarial e financeiro de Miami. Os personagens, em quantidade, são espertíssimos senhores de negócios que imaginavam fazer o seu grande golpe. Para tal, não faltaram traições variadas. Quem chegou primeiro, comprando os ansiados documentos com um cheque sem fundos, teve uma decepção. Não havia nome de ninguém, apenas um número de conta. E pior, nem ficava no Caribe, mas em Luxemburgo. Um plano B foi montado com o uso de uma empresa em Nassau, nas Bahamas, e vários documentos falsificados.

A fajutada despertou o interesse de Collor, Maluf e Quércia, que viam ganhos políticos. E ao aparecer o caso em conta-gotas na mídia, ajudou a alguns com ganhos em bolsa, dólar e títulos no mercado. O governo FHC ficou acuado, colocou a polícia para trabalhar, mas o resultado é conhecido: ninguém foi preso pelo golpe.

Mas existia uma conta do PSDB em Luxemburgo? Uma reportagem da Folha de S. Paulo de 11/8/2001, repercutindo outra do Jornal do Brasil, talvez dê algumas pistas.

Quem sabe o Amaury Ribeiro Jr., que foi à Europa para fazer apuração para seu livro, tenha mais o que dizer?

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