sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Jornalismo de muitas calorias

Rogério Simões, editor da BBC Brasil, publica artigo em que descreve a cautela que tiveram em dar a notícia do caso Paula Oliveira. Afirma que no jornalismo é sempre necessário antes duvidar, depois tentar a confirmação de fontes. E critica o restante da imprensa que não seguiu esta recomendação, vangloriando-se: “Nós, aqui na BBC, somos pagos para duvidar”. Mas, parece que a cautela não adiantou muito. Adiante, no texto, confessa que foram ludibriados em acreditar nos fatos por fonte do governo brasileiro, que os revendeu “a veículos de imprensa, entre eles a BBC Brasil, como um fato comprovado e digno do selo presidencial”.

Explica como trabalharam e foram enganados:

“No caso da brasileira na Suíça, nós ficamos sabendo do suposto ataque na noite de quarta-feira, dia 11. "Quem está dando a notícia?", perguntei ao redator que me ligara de São Paulo para a redação aqui de Londres. "Está na TV." Fomos checar em agências de notícias, e nada. A parte em inglês da BBC desconhecia. Aqui, se o caso não foi apurado diretamente por nós, precisamos de pelo menos duas fontes para publicá-lo no site ou levá-lo ao ar. Ou alguma fonte de credibilidade a que possamos atribuir as informações. Mas não tínhamos nada isso e não podíamos nos basear apenas num canal de televisão, que por sua vez se baseava em um blog. Preferimos esperar para saber se o governo brasileiro se pronunciaria sobre o assunto.”

Como fizeram?

“Ainda naquela noite, depois de falar com um porta-voz do Itamaraty, publicamos nosso texto. Atribuímos tudo ao Ministério das Relações Exteriores.”

O que diz o texto? Exatamente apenas o que estava no blog do Noblat e que repercutia em outros sites de notícia. Quem era o porta-voz do Itamaraty? Como ele apurou os fatos? O Itamaraty não faz jornalismo. Se é para trabalharmos com dúvida, tenho uma: talvez nem fosse exatamente um representante do Itamaraty. Pela diferença de fusos, poderia ser horário de almoço aqui, falaram com o rapaz da limpeza, que disse o que até então todos sabiam pela TV e pela internet.

E segue ele, em momento autocrítico:

“Onde poderíamos ter feito melhor foi no título. "Brasileira grávida de gêmeos é agredida na Suíça e perde bebês", dissemos. Mas o melhor teria sido algo como "Brasileira diz ter sido agredida na Suíça e perdido bebês" ou "Itamaraty denuncia agressão a brasileira na Suíça".”

Pronto. Este é o jornalismo de uma corporação de mídia. De Londres, alguém liga para um “porta-voz” do Itamaraty que confirma aquilo que buscam. Não é a notícia que procuram, mas o “selo” para dar crédito ao que desejavam. E ainda se prestam ao papel de dizer que fizeram tudo correto, mas infelizmente foram enganados.

Acho que uma ótima maneira de entendermos como funciona a fábrica de salsichas do jornalismo é lermos o depoimento do Sérgio Leo, que estava presente na entrevista coletiva de Celso Amorim a imprensa, dia 12. Os repórteres cobravam posição do governo sobre xenofobia. Perguntaram várias vezes, insistiram. Amorim foi cauteloso. Outro repórter pergunta se o caso seria levado à ONU, o ministro diz que seria prematuro. No dia seguinte os jornais destacam que o governo falou em xenofobia, que levaria o caso à Comissão de Direitos Humanos da ONU.

Cuidado com a próxima degustação de jornalismo.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

As contradições de Berlusconi


No blog do Altamiro Borges, boa análise do cinismo de Berlusconi ao ser seletivo em seus pedidos de extradição a quem é acusado de crimes políticos na Itália. Lembra Miro do caso de Delfo Zorzi, ex-líder da seita neofascista “Ordine Nuevo”, acusada de vários atentados, com dezenas de mortos e feridos. Há processo e pedido de extradição, Zorzi vive no Japão há anos, onde é empresário, mas até agora não houve nenhum empenho do governo italiano. Talvez pelos “méritos” do advogado de defesa de Zorzi, Gaetano Pecorella, por acaso um dos advogados pessoais do próprio Berlusconi.

Outra caso lembrado: o seqüestro em Milão do cidadão egípcio Abu Omar, acontecido em 2003. Suspeito de envolvimentos com terrorismo, foi levado para o Egito, onde foi barbaramente torturado. Juízes de Milão pedem, desde 2006, a extradição de 26 agentes da CIA que foram identificados pelo crime. Não há o menor sinal de empenho do governo em fazer valer a severa lei italiana para casos de seqüestro. Como fica a defesa de Mino Carta do “exemplo de democracia” que é a Itália, que permite ações políticas ilegais em seu país e não pune os criminosos?

Mas, contra o Brasil, o Sílvio Santos italiano imagina conseguir sucesso na sua administração midiática, afinal sabe que aqui há uma direita e uma mídia capaz de ajudar a política neofascista italiana.

Berlusconi é o cara no vídeo acima, ironizando os “vôos da morte”, quando a ditadura argentina assassinava opositores, atirando-os de aviões no Rio da Prata.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Venezuela: é sempre bom lembrar

Antes que o cartel da mídia aponte os seus canhões para a vitória de Chávez, acho bom adiantarmos alguns argumentos sobre o que foi decidido neste referendo. Se puder, leia em espanhol o texto “Lo que debe saber sobre el referéndum venezolano y no le explicarán los medios de comunicación”, no site da TeleSur. Faço aqui um pequeno resumo do que me pareceu mais relevante:

1) Com que base legal está baseado o referendo?

A convocação está prevista e baseada na constituição venezuelana em seu capítulo I do Título IX, referente a emendas e reformas constitucionais. Para tal exige o pedido em assinatura de 15% dos cidadãos e de 30% da Assembléia Nacional, com a aprovação da maioria da Assembléia. 6 milhões de venezuelanos e 88% da Assembléia deram sua assinatura, depois aprovada por 92,% dos parlamentares.

2) Mas não se votou a mesma coisa em dezembro de 2007 e a mudança foi rejeitada?

A proposta anterior estava baseada em outro ponto da constituição. Afetava 69 artigos, incluindo a reeleição presidencial, era muito mais ampla.

3) Mas não é ilógico fazer uma nova consulta sobre um ponto que já foi derrotado?

São duas iniciativas de consulta popular diferentes, das tantas que permitem a constituição venezuelana, e não são incompatíveis. E a direita venezuelana não considerou ilógico em 2004 fazer um referendo reconvocatório para decidir sobre o mandato do presidente, mesmo ele tendo sido eleito dois anos antes.

4) Mas muitos analistas na mídia dizem que o referendo transforma a Venezuela em uma ditadura...

A aprovação da emenda apenas garante que todo cidadão pode ser eleito para qualquer cargo, independente de já te-lo exercido anteriormente. Vale lembrar que a reeleição sem limitações é norma em 17 dos 27 países que integram a União Européia. Como exemplos temos Tage Fritiof, primeiro-ministro da Suécia por 23 anos seguidos, Helmut Kohl, chanceler da Alemanha durante 16 anos seguidos e Felipe Gonsález, presidente do governo espanhol por 14 anos sem interrupção.

E acrescento, para finalizar, que poucos países têm um processo democrático como o da Venezuela, onde a população é consultada com tanta freqüência. Se a mídia quiser bombardear este exemplo, mandem ela cuidar antes de seu quintal. Lembrem sempre que Rosni Mubarack e o rei Abdallah são dois ditadores sanguinários no Egito e na Arábia Saudita, mantendo calados seus cidadãos com a cumplicidade dos EUA e o silêncio da mídia internacional.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Os jornais e seus tiros no pé

Os nossos jornalões reproduziram neste último domingo parte do debate recente sobre seu próprio futuro. O Estadão publica artigo de Walter Isaacson, ex-editor da Time, que na semana retrasada assinou matéria de capa da revista, sobre como salvar os jornais. Na Folha, matéria sobre o Newspaper Project, organização patrocinada pelo oligopólio da mídia americana, que faz campanhas publicitárias e estudos para acudir a enferma indústria. E entrevistam Steve Brill, empresário e professor de jornalismo, que recentemente teve um memorando reservado, dirigido ao New York Times, publicado com enorme repercussão em... um blog, o de Jim Romenesko no Poynter Institute, especializado em estudos de mídia. Todos falam a mesma língua e têm a mesma solução: os sites de notícias dos jornais têm que cobrar pelo acesso às notícias.

Embora não digam exatamente, a idéia em resumo é de que os jornais no papel estão acabados, em doença terminal, o jeito é salvar o negócio online. Para isso não adianta competir com o Google, imaginando receber por receita publicitária na web, algo que até aqui tentavam, sem perspectiva de sucesso. Querem usar seu poder de cartel para todos, juntos, fecharem a porta. Notícia só pagando.

As justificativas fazem apelos pelas redações atuais. Brill reitera que um blogueiro não terá verba nem paciência para viajar e cobrir uma guerra, só as grandes empresas jornalísticas teriam como fazer. E, de forma enfática, diz: "A notícia pode querer ser de graça, mas os filhos dos jornalistas querem ser alimentados"

Parece uma grande preocupação pelo proletariado da informação, mas é óbvio que esse novo modelo de negócio exige um enxugamento radical de quadros. A publicidade sempre foi a principal remuneração destas empresas.

Mas, no fundamental, a idéia esbarra no entendimento do que é a internet. Na hora em que todos os jornais fecharem seus conteúdos, como vigiar a reprodução? É certo que poderão existir novas e ferrenhas artimanhas jurídicas para impedir que os textos sejam reproduzidos. Mas, lembrem senhores barões, a indústria fonográfica tentou e perdeu. E o produto feito pela mídia é muito mais fácil de ser reproduzido, basta que à notícia seja feito um novo texto. Ou, pensando de outra forma, um comentário. Desta forma, não há como proteger os direitos originais. O que estarão fazendo é alimentar os blogs, eles é que ficarão com as notícias.

Parece que o desespero tomou conta deste setor, e faltam cabeças pensantes. No Brasil os jornais ainda não foram para a UTI, mas amargaram em janeiro a perda de 30% a 40% em receita publicitária, retração que se deve a forte campanha de nossos jornalões para fazer a crise mundial colar no governo Lula, é o que diz Luiz Nassif. Desse jeito, se não aprenderem a refazer seus negócios, sugiro aos donos da mídia ao menos treinarem melhor a pontaria.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Xenofobia e ceticismos

Volto de um encontro com amigos, velhos e novos conhecidos, reunidos no álibi de aniversário de um dos presentes. Muitos e variados assuntos pautados em espaçosa e farta mesa de bar, aqui na Lapa. Eternas rivalidades futebolísticas, escárnio com a política das elites, fuxicos internos, tudo foi assunto. Mas, para minha surpresa, um tema que imaginava consenso teve forte polêmica: o ataque hediondo à brasileira Paula Oliveira, na Suíça, praticado por um grupo de neonazistas. Alguns alegaram ceticismo, motivados pela forma dos desenhos, incompatíveis com um ataque rápido. Outro, médico, lembrou de distúrbios na gravidez. E ainda lembraram das várias “barrigas” do Noblat, autor da notícia. Bom, quanto ao último argumento, impossível não concordar, mas do resto fui veemente em creditar o fato ao crescimento do fascismo no primeiro mundo, tendendo a ficar ainda mais acirrado com a crise do capitalismo. Voltei para casa. Aqui e agora, para ainda mais surpresa, vejo no Luis Nassif um post com o mesmo ceticismo assinado por membro de sua comunidade, com igual polêmica reproduzida nos comentários.

Já viajei pelo mundo, já vi de perto a cara da xenofobia, como se manifesta. E mais sei que o fascismo é um germe que está incubado no primeiro mundo. A cada momento ele pode aparecer. E a todo instante se revela, com a ameaça de assolar mais uma vez o mundo tal qual uma praga. O SVP, o Schweiz Volkspartei, é autor de cartazes onde três ovelhas brancas expulsam a pontapés uma ovelha negra. Nada mais explícito sobre o racismo que grassa naquela terra. E por mais contraditório, país formado por uma suruba de etnias: Celtas, entre eles os Helvéticos, submetidos ao império romano, depois invadidos pelos germânicos com Bargúndios, Alamanos e Lombardos, e pelos Francos, de Carlos Magno. Tudo isso para fazerem queijos, chocolates e tomar conta do dinheiro fajuto do planeta.

Não é só na Suíça. Nos EUA, formado por emigrantes há não muito tempo, a xenofobia se manifesta forte, inclusive contra brasileiros, aqui já mostrada em um vídeo. Continuo acreditando que é a História que tem como explicar o fenômeno. E o triste caso da brasileira Paula que explique a polícia, não a psicologia.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Mídia, e o assassino e torturador que a Itália deu anistia?

E o mundo dos blogs continua dando olé no cartel da mídia tupiniquim. O blog Abobrinhas Psicodélicas acaba de publicar fato que ajuda a entender a parcialidade da campanha italiana pela extradição de Cesare Battisti, e de como o assunto tem que ser entendido pelo seu lado ideológico, onde nossa mídia afunda em deslavada torcida. No ano passado a justiça italiana deu asilo político ao militar uruguaio Jorge Troccoli, envolvido em mais de uma centena de assassinatos e torturas, participante ativo da “Operação Condor”. A justiça italiana usou como base jurídica um tratado assinado entre os dois países em 1879.

A mídia não pode dizer agora que nada sabia. Seus arquivos registraram a prisão, como aqui no Estadão. Apenas agora olham para o outro lado.

E viva a mídia do povo!

domingo, 8 de fevereiro de 2009

As boas piadas dos portugueses

Culturalmente, o Brasil ainda está longe de estar conectado a um mundo dito globalizado, importador eterno das mesmas mercadorias, modismos e enlatados que aqui chegam pelas enormes vias abertas da nossa dependência. Continuamos de costas para o resto da América Latina. E da Europa só nos chegam os rebutalhos, tal como o modelo Big Brother. Ora pois, é sensacional que a internet traga novos produtos, como o inteligente Programa do Aleixo, criação de três patrícios portugueses, que do YouTube ganhou a TV e já começa a ser conhecido além mar.

É um humor minimalista, nonsense, feito com recursos simples de edição e computação gráfica. Os diálogos são hilários. Pedro Aleixo é meio cachorro, meio urso, quase um ewok de Guerra nas Estrelas. Na TV, o programa passou a contar com uma estrutura de talk-show, sempre com Bruno Aleixo e Busto, uma escultura falante de Napoleão. Ao final, os dois ao piano cantam músicas conhecidas. Sugiro começar por conhecer a série da Escola do jovem Bruno, ou a sensacional partida de Street Figher.

Outra quase piada é o lançamento tardio no Brasil de “O homem que roubou Portugal”, do inglês Murray Teigh Bloom, originalmente de 1966. Conta a história verídica do português Artur Virgílio Alves dos Reis, um dos maiores falsários do mundo. Depois de falsificar diploma de engenheiro formado em Oxford, por escola politécnica inexistente, segue carreira de agressivo player capitalista, comprando e vendendo empresas com o dinheiro dos outros. Mas seu grande e definitivo golpe, onde ficou conhecido, e motivo de sua prisão, foi usar de cúmplices nas elites, documentos falsificados e muita lábia para encomendar a impressão de 200 mil notas de 500 escudos na Waterlow and Sons Limited, de Londres, a empresa impressora do dinheiro português. As cédulas, com a figura de Vasco da Gama, representavam 1% do PIB português, o que levou o país à lona.

Como se vê, Madoff e Daniel Dantas tiveram bons professores.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Jornais, casos e seu ocaso


Nicholas Carlson do Silicon Alley Insider faz uma pensata bem interessante ao afirmar que imprimir o New York Times custa, em dois anos, o dobro do que enviar a cada assinante um Kindle de graça, o treco da Amazon. Ele usou informações do próprio NYT, que faz seu chororô de crise e abre números, apostando na compaixão do mercado. Ao multiplicar os 830 mil assinantes pelo preço de US$359 que custa a trosobinha, chegamos a pouco menos da metade do que custaria imprimir o jornal no período.

Claro, não leva em conta vários aspectos. Nos próprios comentários do texto há quem até conteste a própria análise dos números. E, fundamental, nada resolveria sem uma solução para os anúncios, fonte fundamental de renda para qualquer jornal. Mas vale a provocação, que nos ajuda a pensar sobre o fim dos jornais impressos, tema que já chegou às mesas de bar.

É certo que em um mundo já tremendamente digital, onde músicas, fotografias e cinema já são medidos em bytes, com impactos diretos em seus modelos de negócio, seria impossível não imaginar que um produto formado por letras, algumas imagens, passaria incólume pela mudança.

Vale lembrar que jornais impressos já são digitais, ao menos até a etapa anterior a sua impressão. Textos foram os primeiros a virarem bytes em jornais, as fotos são pixeis há um bom tempo e páginas são processadas por programas de editoração, tudo transformado em linguagem binária e interpretada por uma maquineta que faz a matriz da impressão. Deste ponto à frente, tudo é velharia analógica. Imagine a dificuldade de levar a cada assinante aquele peso em papel, de caminhão, no braço, casa a casa.

Perceber esta mudança, com a chegada de um novo leitor eletrônico de jornais, não é algo novo. A Knight-Ridder, uma das corporações midiáticas americanas, já nos anos 80 achou ter descoberto a pólvora. Mas, foi cedo, não rolou. Jornais ainda são impressos, mas vivem sua crise, que talvez tenha outras explicações além do fardo analógico.

Um tanto delas tenta dar Phillip Meyer, jornalista e professor nos EUA, respeitável pensador com seu livro “The Vanishing Newspaper” (O desaparecimento dos jornais). Para ele, a crise dos jornais americanos é fundamentalmente conseqüência da queda de qualidade do jornalismo que praticam, de apurações mal feitas, de pautas sem criatividade, que nada têm a acrescentar à realidade de seus leitores. E explica os motivos: as corporações vivem de influência, não de informação, e isso está relacionado diretamente à rentabilidade. Em seu livro, usa pesquisas para mostrar erros variados cometidos neste processo e os efeitos na perda de leitores para a melhor identidade de novos meios, como os blogs.

Tenho aqui minha própria e óbvia pesquisa: basta ter acompanhado os jornais americanos no governo Bush para perceber que todos estiveram unidos na mesma trama de ajudar seu presidente em guerra. Imaginaram uma guerra de todos os americanos, o que não foi. Bush representou os interesses restritos de uma elite que desejava o domínio americano sobre a Eurásia, seu petróleo, alimentando sua indústria de armas, para a destruição e depois o faturamento da reconstrução, via Halliburton. Esta idéia foi embrulhada e vendida, mas o mercado leitor percebeu a fraude, não compraram a mercadoria como se fosse uma segunda guerra, japoneses atacando seus marinheiros, com risco de terem seu país invadido. A propaganda cumpriu seu objetivo, ajudou na política, mas sofreram os jornais vendo seu mercado responder com descrédito aos engodos praticados: armas químicas de Saddam e toda a parafernália de “nossos homens estão lá fazendo o seu melhor” foi um tanto além do plausível. Por incrível que pareça, há quem pense naquela terra.

Em nosso menor mercado, algo pode ser comparado. A mídia se especializou em também demonstrar a necessidade de uma guerra, contra o governo Lula. Ficou distante de parte de seus leitores, dando espaço para a internet e seus blogs cobrirem com melhor desenvoltura e independência os fatos. Vide o noticiário da prisão de Daniel Dantas, bem analisado por Idelber Avelar em texto sobre os 200 anos de nossa jovem imprensa.

Resta imaginar o que o “regulador” mercado fará em próximos episódios por aqui, se teremos crise na mídia tal como nos EUA. Ainda não há pedidos de piedade, embora nossas corporações permaneçam com chapéus esticados, esperando a boa ajuda do BNDES para seus rombos, vício adquirido em antigas administrações. Depois de ter lido ontem uma nota de Miriam Leitão contra o PAC, desavergonhado merchandising pró-Serra virar manchete no jornal O Globo, aposto para breve o colapso nos negócios da grande mídia brasileira.

Que venha, cobrirão os blogs.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Longe do paraíso


Ontem, acompanhei tenso as imagens do conflito entre moradores da favela Paraisópolis com a polícia, mostradas pela Globonews. Não havia até então muitas informações, o cinegrafista do helicóptero filmava e o repórter narrador repetia inúmeras vezes as mesmas frases, sempre com a palavra “baderneiros”. Eram muitos os que jogavam pedras contra a polícia e recuavam, deixando no caminho carros e caçambas de lixo incendiados, impedindo o avanço da PM. Hoje, os jornais relatam que o motivo foi o assassinato de um morador, e a reação foi planejada, provavelmente por ordem dos traficantes da favela. Deram ouvidos ao secretário de Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, que no local disse que em horas iria prender os bandidos. As imagens me lembraram conflitos em Gaza e na Cisjordânia, com jovens atirando pedras contra soldados israelenses e seus tanques.

A foto acima me veio à cabeça, de Tuca Vieira, fotógrafo premiado da Folha de S.Paulo, publicada em livro e que já correu o mundo. Nela, a prova de que há imagens que efetivamente valem mais que mil palavras. Um muro separa duas cidades, bem distintas e opostas. De um lado, o bairro do Morumbi, com um dos mais altos IDHs do país e do mundo. No outro, uma comunidade que teve origem na migração nordestina, com sua falta de saneamento, educação pública e apenas um campo de futebol para seus jovens.

No ano passado, uma simples obra municipal demonstrou o que separa estes dois mundos. A reurbanização de uma escada que liga a favela a um trecho do Morumbi foi motivo de protestos da classe média, mesmo que por lá pudessem melhor trafegar suas domésticas na volta para casa. Quase foi pedido um posto de fronteira. Os moradores de belos imóveis fecharam a pendenga aceitando um reforço policial e inúmeras câmeras de segurança para vigiarem a descida dos palestinos, quer dizer, dos moradores da favela.

Impossível não lembrar do racismo de parte da nossa classe média, recentemente exposto publicamente por Cora Rónai, que em texto sionista comparou o pesado fardo que é conviver cercada de favelas com o que vive Israel, cercado pela falta de civilização de seus vizinhos.

E de imaginação em imaginação, vejo uma senhora ali, naquela varanda à direita, com bela vista para Paraisópolis, entre a leitura da revista Caras e o catálogo da Daslu, tecendo considerações políticas. Reclamando seus direitos, desejando mandar para longe os filhos dos nordestinos, afirmando que afinal é ela que paga impostos...

Paga??? A Daslu não paga os seus. E seu marido, provavelmente sócio do Jockey Clube, deve estar ciente que o clube nunca pagou IPTU, e deve hoje ao erário público quase R$ 200 milhões, depois de já ter dívidas antigas esquecidas por governos simpáticos às elites que lá freqüentam.

É, senhor secretário Ronaldo Marzagão, infelizmente tamanho problema não pode ser resolvido apenas por caricata empáfia. Sua fábrica de enxugar gelo terá que trabalhar em dupla jornada.

Xenofobia, mas sem atrapalhar os negócios

Comentei sobre a declaração insultuosa do deputado italiano Ettore Pirovano, de que o Brasil não é conhecido por seus juristas, e sim pelas suas dançarinas, e até agora não li na mídia nenhuma notícia de manifestação de incômodo por parte de nossos representantes demo-tucanos e assemelhados. Demonstram no silêncio a concordância com o xenófobo deputado, que defende na Itália leis severas contra imigrantes, inclusive a proibição de casamentos. Pensamento bem conhecido por aquelas terras, de gente que gostava de camisas pretas.

Mas há o alento de palavras como a do atento Laerte Braga, que lembra que imigrantes, embora não desejados, são mercadoria valorizada nos negócios escusos da máfia italiana, muito próxima do deputado fascista. Vale a leitura:

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COM QUEM gilmar mendes ANDA – O CASO CESARE BATTISTI


Laerte Braga


Mulheres brasileiras são compradas por quadrilhas italianas por cinco mil euros (cerca de quinze mil reais) e o “ato sexual comercial” é vendido a quarenta euros (algo em torno de cento e vinte reais). O esquema é sofisticado, envolve o crime organizado e o crime legalizado na itália. Por crime legalizado entenda-se empresas, políticos, bancos, etc.

A informação está no livro “SEX TRAFFICKING – INSIDE THE BUSINESS OF MODERN SLAVERY” – TRÁFICO SEXUAL – POR DENTRO DO NEGÓCIO DA ESCRAVIDÃO MODERNA - editado pelo serviço de informação da Universidade de Colúmbia. O autor é Siddharth Kara e referências podem ser encontradas no site http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=19737.

A folha de são paulo, porta oficial do tucanato brasileiro e do grupo FIESP/DASLU, publicou matéria sobre o assunto na edição de hoje, primeiro de fevereiro de 2009. A “escrava brasileira” é a mais “valorizada no mercado, à frente das “escravas” dos países do leste europeu, mercado que abastece a Europa, principalmente a itália, desde o fim da União Soviética.

A “escrava” russa custa três mil e quinhentos euros e o preço da “relação sexual” é de trinta euros. As romenas valem menos. Dois mil euros para compra e vinte euros por programa.

O esquema é sofisticado, tem pontas nesses países (itália, Brasil, Rússia e Romênia), envolve agências de turismo, quadrilhas especializadas e um dos suspeitos de ligação com o crime organizado é o deputado ettore pirovano, do partido de extrema-direita liga norte. pirovano é o autor da frase “o Brasil não é propriamente conhecido por seus juristas, mas por suas dançarinas”.

O deputado pirovano sabe do que está falando. É um político corrupto, ligado ao crime organizado e envolvido em atividades capazes de corar algo como um frade de pedra. Quando citou os juristas brasileiros deveria estar pensando em gilmar mendes, ministro presidente do stf dantas incorporation ltd. E quando citou as dançarinas, pensava nas “escravas” exportadas para o seu país por quadrilhas que, entre outras coisas, financiam suas campanhas eleitorais.

E nessa história toda, nessa farsa sem tamanho, se tenta imputar a Cesare Battisti crimes e condenação à revelia de qualquer princípio legal.

Transformam o Brasil num abrigo de “criminosos” e “terroristas”, no jargão típico de bandidos transferindo culpas e responsabilidades para o nosso País.

As “escravas” são iludidas com promessas de emprego, casamento, recebem um adiantamento que mais à frente é cobrado em “serviços” e no caso das brasileiras são treinadas no mercado interno para tornar mais fácil e mais dócil o comportamento na itália e diminuir o risco de fuga.

Na escravidão geral, segundo o livro, o Brasil é um dos países mais lucrativos para o crime tanto o organizado como o legalizado (ao qual pertence o deputado pirovano). Os escravos que trabalham em carvoarias são a “terceira categoria mais lucrativa do mundo, só atrás dos que são explorados sexualmente e dos que são usados para o tráfico de órgãos”. Uma ministra de qualquer coisa na itália, para hostilizar o Brasil, recebeu Paulo Pavesi, cujo filho Paulinho morreu e foi vítima de quadrilhas de tráfico de órgãos e que agora pleiteia abrigo político na itália, vítima de ameaças dessas quadrilhas no Brasil. O lucro da escravidão nas carvoarias chega a sete mil e quinhentos dólares por ano e por escravo.

O governo Lula tem combatido esse tipo de crime e os exploradores, os “donos de escravos” são figuras “respeitáveis”, como o prefeito de Unaí, MG, envolvido no assassinato de fiscais do Ministério do Trabalho. Está em liberdade por decisão judicial. Por “coincidência” é tucano.

Não foi possível para o autor calcular o lucro das quadrilhas de tráfico de órgãos diante das “oscilações brutais do mercado”. Um rim pode valer um milhão de dólares pela manhã e dependendo do “comprador” e do grau de urgência da necessidade, dois milhões à tarde. As vítimas/doadores são assassinadas. Não recebem nada.

O governo fascista e corrupto de sílvio berlusconi está interferindo nos negócios internos do Brasil, agredindo a soberania nacional e conta com o presidente do stf dantas incorporation ltd, gilmar mendes. Especialista em porta dos fundos, fundos e que tais desde o momento que foi indicado para o stf, causando repúdio e reação no meio jurídico, no próprio judiciário e indignando pessoas de bem

Foi um dos principais agentes do governo corrupto de fhc, o presidente que o indicou como recompensa e ao mesmo tempo, com a tarefa de garantir a impunidade da quadrilha tucana. O próprio fhc, serra, aécio, etc.

O ato do ministro da Justiça Tarso Genro foi legal, calcado na melhor tradição diplomática do Brasil (que já abrigou refugiados de extrema-direita, casos de George Bidault e Marcelo Caetano – francês e português respetivamente –. Tarso fundou-se no direito, nos fatos reais e não na farsa montada por um governo fascista e liderado por um bufão corrupto que, entre outras coisas, fez votar uma lei que impede que seus crimes sejam investigados.

O stf tem a oportunidade tornar-se STF à revelia de um ministro desprovido de respeito pelo Judiciário, no caso gilmar mendes. E mais que isso, é preciso apurar cada denúncia de corrupção contra gilmar mendes para evitar os constantes constrangimentos que a suposta suprema corte sofre com o destrambelhamento deliberado do ministro presidente do stf dantas incorporation ltd.

Ah! Se levantada a folha corrida do embaixador da itália no Brasil vão encontrar pegadas no crime legalizado, parceiro do crime organizado.

O ato do ministro Tarso Genro diz respeito à dignidade do povo brasileiro, do Brasil, especificamente da mulher brasileira ofendida por um mafioso de quinta categoria o tal deputado pirovano. Nem todas as mulheres vão para o bbb. A imensa e esmagadora maioria trabalha e luta com bravura e caráter. Nem todas querem ser heroínas de pedro bial e da rede globo, emissora estrangeira que opera no País. E vende o País na esteira de um processo de alienação e colonização, destruindo os valores reais dos brasileiros.


domingo, 1 de fevereiro de 2009

Essa rivalidade não vem de hoje...

Vamos combinar o seguinte: sou latino, não guardo desaforos, estou mordido com o que tenho lido da reação da direita sobre a decisão do governo brasileiro sobre Cesare Battisti. É tanta bobagem, campanha vil, que é impossível não perder a linha. Este blog já se manifestou aqui, aqui e aqui sobre o assunto, e imaginava o suficiente. Vamos agora engrossar:

A tese do DEM sobre os boxeadores cubanos já foi pro espaço. Encheu o saco até o ministro ter que perguntar a imprensa sobre o que desejavam, que prendessem os caras por desejarem ir para a Alemanha ganhar dinheiro. Chega! Para isso creio que bastam poucos neurônios para pescar a maldade.

Mas sobraram especialistas no processo de Battisti. Mino Carta é um deles. Sua nacionalidade falou mais alto, e desandou a tentar provar, tal como apaixonado e obtuso torcedor do Fiorentina, que Battisti é mero bandido. Seu erro. Na última Carta Capital culpa Battisti pelo assassinato do joalheiro Pierluigi Torreggiani, em 1979. Talvez falte a ele ler os próprios jornais paulistas. Na Folha, em 17/1/2009, o filho de Torreggiani, que estava presente no dia do assassinato de seu pai, e que ficou paraplégico por uma bala naquele dia, em entrevista disse coisa diferente:

“FOLHA - Battisti participou?
TORREGIANI - Desse crime não. Mas, segundo um de seus ex-companheiros, foi o mandante. Nesse dia, participou de outro assassinato.”

Venham cá. Que isso? Nosso governo analisou durante mais de ano o processo, suas falhas e o desejo da parte escrota da Itália em ver na prisão quem militou contra os mauricinhos fascistas de lá. E agora, aqui, tentam aproveitar mais um momento para nos colocar como terceiro mundo, atrasado? No rabo! Aliás, país em desenvolvimento por país em desenvolvimento, estamos melhores.

E, gota d’água, li hoje nossos jornais se aliando a um fascista como Ettore Pirovano, do partido conservador Liga Norte, que tem retrato de Mussolini na sala, dizer:

- Não me parece que o Brasil seja conhecido por seus juristas, mas sim por suas dançarinas.

Vão à merda! Aguentei até onde foi possível. Se temos dançarinas é por existir um monte de italianos que aqui fazem turismo sexual, por não conseguirem algo melhor na Itália. E se lá tem travestis brasileiras é por terem demanda para "algo" que procuram e gostam. Deveriam ficar calados agora tendo um presidente tão imbecil que come meleca em público. Um Silvio Santos presidente, por favor. Italianos nada têm de melhor que brasileiros. Apenas nos dão algumas alegrias vez ou outra, por sua enorme incompetência. E vai, então nos lembremos de Monte Castelo, se não fossem nossos bravos pracinhas, sabe-se lá como esses carcamanos mafiosos estariam. Aliás, quem sabe se esses caras, assim como Carla Bruni, também não têm um pai brasileiro?

Sim, são absolutamente rancorosas e quase baixarias meus desabafos. Mas e o que tem sido dito pelos italianos, que se prestam ao papel de ter seu chanceler dizer que “um terrorista solto nas ruas do Rio não atrairá turistas” não tem sido muito diferente. E italianos pedófilos na praia de Copacabana, nós dispensamos, obrigado.

Vão se foder!!!